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Autoriais Colaborativas via Aplicativos em Rede: APP - Docência em Atos de Currículo

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Legenda

Wallace Almeida

Edméa Oliveira dos Santos

Felipe da Silva Ponte de Carvalho

Os praticantes na vida cotidiana fazem usos plurais dos consumos que são impostos a eles, descontruindo a ideia de seres passivos, que somente absorvem o conteúdo que é hierarquicamente organizado e selecionado para uma determinada sociedade, segundo Certeau (2008). Esses usos são as maneiras de fazer dos praticantes, que são operações plurais acionadas por eles em seus (micro)cotidianos para as mais diversas situações do dia a dia. Partimos do pressuposto que as maneiras de fazer são também processos (co)autorais e podem ser manifestadas de múltiplas formas.

Por seu lado, Backes (2012) destaca três manifestações de autoria, são elas:

  • pré-autoria, na qual as narrativas pós-leitura de referenciais teóricos seguiam a lógica da semelhança e concordância com o texto lido, ou com o relato do colega;

  • a autoria transformadora, na qual já se percebem posicionamentos críticos por parte dos alunos, bem como uma relação direta do conhecimento construído e os novos elementos do viver;

  • e, finalmente, a autoria criadora, no qual o aluno se autoriza, de forma criativa, mediante certo deslocamento, uma espécie de inversão e modificação das representações, para dar passagem ao novo, promovendo, dessa forma, diferença na rede de relações estabelecida com o grupo.

Em nossas apostas, acreditamos que os usos que a docência faz de aplicativos conectados em rede, que nos referimos de App-docência, podem potencializar a autoria em sala de aula, ampliando a complexidade do processo de formação, possibilitando que o formando se torne autor de seus próprios conteúdos, a partir da produção de imagem, vídeo, texto, memes, realidade aumentada (RA)... Por meio de aplicativos conectados na rede, o formando tem a opção de: convidar o outro à participação; intervir no espaço da cidade fazendo uma denúncia, indicando um local ou atividade cultural, como também adicionar informações (geolocalização, realidade aumentada, recomendações); e partilhar o próprio conteúdo produzido em rede. Destacamos, entretanto, que essas possibilidades demandam uma docência colaborativa, que atue para promover a tessitura de trocas de ideias distintas e voltada para a construção do conhecimento na relação todos-todos (SANTOS, CARVALHO & PIMENTEL, 2016).

Outras experiências com o uso de aplicativos vêm se consolidando na educação, dando sentido e forma ao "app-learn" (SANTAELLA, 2016), que é o uso de aplicativos dos mais diferentes tipos e das mais diferentes finalidades em processos formativos. O app-learn traz para a app-docente alguns desafios, dentre eles destacamos os usos voltados para práticas democráticas, reflexão em grupo, contraposição de ideias e de trocas de experiências; usos autorias e contextualizados ao invés de usos técnicos; e a ampliação das possibilidades de atividades que bricolem espaço institucional com outros espaços-tempos, ampliando o repertório do formando e sua rede de conhecimento e de significação.

O *app-*docência pode possibilitar a aprendizagem colaborativa, que é vista como uma metodologia de aprendizagem, na qual, por meio do trabalho em grupo e pela troca entre os pares, os praticantes envolvidos aprendem, mutuamente, e cocriam o conhecimento (TORRES, 2007). As estruturas hierárquicas e as relações de poder são reconfiguradas na aprendizagem colaborativa, uma vez que as mudanças mais significativas de uma aula tradicional para uma experiência colaborativa centram-se nos papéis assumidos por discentes e docentes; ambos são construtores do processo formativo, do conhecimento e da aprendizagem.

A colaboração designa atividades de grupo que pretendem um objetivo em comum, implicando a regularidade da troca, o trabalho em conjunto, a constância da coordenação. Deriva de dois postulados principais: de um lado, da rejeição ao autoritarismo à condução pedagógica com motivação hierárquica, unilateral; de outro, trata-se de concretizar uma socialização não só pela aprendizagem, mas principalmente na aprendizagem. Pode-se generalizar a ideia de que qualquer atividade desenvolvida em conjunto, animada por um objetivo final que leve a aquisições determinadas, é uma situação de aprendizagem colaborativa (TORRES, 2007, p. 340).

A app-*docência está atrelada as ideias de Silva (2009), sobretudo quando ele destaca que a docência *online deve propiciar oportunidades de múltiplas experimentações e expressões, provocar situações de inquietação criadora e mobilizar a experiência do conhecimento através da interatividade em sala de aula. Nesse contexto, o papel docente é fundamental, ele é o responsável por mediar todo o processo formativo e por cativar o formando. Isso sem dizer que o docente aprendendo enquanto ensina, se formando dentro desse mesmo processo.

Pesquisa-formação na cibercultura com aplicativos: "Aula 1 - Educando em Nosso Tempo"

O cotidiano desta pesquisa aconteceu no âmbito da disciplina Informática na Educação, com as cursistas do curso de Licenciatura em Pedagogia a distância da UERJ/CEDERJ/UAB, em 2017.02. A disciplina conta com um grupo no Facebook e está arquitetada na plataforma Moodle, que é uma plataforma de aprendizagem a distância baseada em software livre em que cursistas e docentes interagem criando e cocriando o conhecimento e sua aprendizagem. A pesquisa foi desenvolvida por todos os polos onde a disciplina é ofertada, sendo esses os polos dos municípios de Angra dos Reis, Belford Roxo, Itaguaí, Magé, Nova Friburgo, Nova Iguaçu, Paracambi, Petrópolis, Resende, Rocinha, São Pedro e Três Rios, e que hoje são atendidos por cinco docentes (tutores a distância) que atuam na mediação online.

A "Aula 1 - Educando em Nosso Tempo" proposta para a disciplina partiu da noção de "atos de currículo" (MACEDO, 2013), que são práticas educativas situadas e abertas a novas experiências, nas quais o currículo é construído ao longo do processo formativo com os discentes (praticantes). Nosso objetivo com essa "Aula 1", além de compreender os usos dos praticantes, foi desenvolver uma ambiência de vivência de educação online, em que procuramos articular as potencialidades dos aplicativos para dispositivos móveis em rede com a metodologia da pesquisa-formação na cibercultura (SANTOS, 2005, 2014), e assim construir um saber docente a partir da prática da *app-*docência.

A pesquisar a formação na cibercultura requer da docência-pes-quisadora imersão no cotidiano pesquisado; compreender o outro como produtor de cultura; não separar processo culturais de processos formativos; e não há pesquisa-formação desarticulada do contexto da docência, segundo Santos (2005, 2014).

Na Aula 1, arquitetada pelo Moodle, propomos discutir com as cursistas o conceito de Realidade Aumentada (RA) ou realidade mista (RM) através do uso do aplicativo Aurasma, como parte da atividade prática dessa aula. Escolhemos o Aurasma pela sua inovação em proporcionar experiências em RA ou RM em dispositivos móveis de diversas plataformas e por ter como premissa a criação de uma sobreposição/camada digital sobre um objeto físico ou espaço real. A RA ou RM não se refere a uma tecnologia especificamente, mas a um conceito de sistema que possibilite a coexistência de elementos do mundo real com outros geradores computacionais (virtuais), de acordo com Carolei e Tori (2016). Esse conceito foi criado no século XX, porém cresceu e se consolidou, tornando-se popular no ano de 2016 com o lançamento do game Pokemón GO que incorporava suas mecânicas. Foi desenvolvido pela Niantic em parceria com a Pokémon Company e disponibilizado de forma gratuita para download nos smartphones com os sistemas Android e iOS. Fazendo uso do posicionamento do usuário no mundo real (GPS) o game utiliza a câmera do aparelho para exibir criaturas digitais que podem ser "capturadas" no mundo real.

Para ambientar os praticantes com o aplicativo Aurasma, criamos dois tutoriais: um tutorial1 ilustrado e em formato PDF mostrando de forma detalhada cada passo do processo de utilização do aplicativo; e um outro tutorial2 em vídeo, realizado através da captura da tela de um dispositivo móvel que mostra cada etapa de todas as nuances de utilização do aplicativo.

Propomos o uso do aplicativo do Facebook, na sua variante de grupos, para proporcionar a perspectiva de ubiquidade na pesquisa, promover a partilha das criações e descobertas com o coletivo, dado que o Moodle ainda não dispõe de um aplicativo ou mesmo uma interface móvel responsiva que possa atender a necessidade de comunicação constante entre todos os participantes da disciplina.

Já na parte teórica da "Aula 1", disponibilizamos artigos que abordavam as temáticas "Os Homens e as máquinas", " A Informática antes e depois da Web 2.0" e "Aurasma: aumentando e gameficando a realidade". Como também abrimos fóruns de discussão cujo objetivo era promover a interatividade na relação todos-todos, possibilitando assim reflexões e debates densos, onde diferentes pontos de vista sob um determinado assunto possam ser tecidos juntos para a construção do conhecimento.

Na Figura 1, a seguir, está exposta todo a organização da "Aula 1 -- Educando em nosso tempo!":

Figura 1: Educando em nosso tempo!.


Autorias colaborativas via App-docência: tensões e problematizações em rede

Nessa Seção, a partir do contexto da "Aula 1", problematizamos as narrativas, as imagens e os conteúdos que tecemos com as cursistas praticantes da disciplina de Informática na Educação, nossas interlocutoras desta pesquisa, conforme relataremos adiante.

Na parte prática da Aula 1, propomos uma atividade em grupo de 2 até 4 participantes, na qual as praticantes deveriam produzir um conteúdo em RA associado à uma imagem, objeto ou lugar de sua escolha e incorporar elementos educativos significativos aos contextos físicos tangíveis, num contexto de aprendizagem colaborativa com práticas de app-*docência Porém, imediatamente após lançarmos a proposta do uso do aplicativo Aurasma para a produção da atividade com a RA, percebemos um movimento entre as praticantes que revelava que a proposta não havia sido totalmente compreendida, conforme relatado na publicação da praticante Carla no grupo da disciplina no Facebook, exposta na Figura *2:

Figura 2: Publicação da cursista sobre Aurasma.



Fonte:Grupo da disciplina no Facebook.

A narrativa da praticante Carla disparou uma discussão que representava a fala de outras praticantes que também estavam encontrando os mesmos desafios, proporcionando a elas a oportunidade de partilharem suas inquietações na medida que se uniam em busca de respostas.

As intervenções de outras praticantes na publicação da praticante Carla nos fizeram (re)pensar sobre a nossa própria prática docente, a proposição dos atos de currículo da "Aula 1" e a reconhecer as nossas limitações e as tensões da atividade. Esse (re)pensar foi um componente fundamental para compreender que os atos de currículo estão em constante processo de (re)construção, são inacabados, abertos, tecidos com os outros (pessoas, conteúdos, instituições, documentos oficiais, práticas cotidianas...) e contextualizados. Ou seja, criam a antítese da visão de currículo como uma condenação sociopedagógica, que produz somente prescrição, restrição e trilhos, de acordo com Macedo (2013).

A partir dessa tensão inicial, refletimos também no sentido de elaborar uma maneira de atender a todos que estavam com dificuldades na realização da atividade e de um modo que pudesse se aproximar ao máximo de uma conversa presencial, face a face, já que as praticantes sentiam essa necessidade. Foi então na busca de dar um passo para retirar as barreiras enfrentadas na atividade prática que sugerimos a realização de uma "live"/transmissão ao vivo pelo grupo do Facebook, o que prontamente foi acolhida por boa parte das praticantes por meio de uma enquete, que está exposta na Figura 3.

Figura 3: Enquete sobre Live no grupo do Facebook.


Fonte: Grupo da disciplina no Facebook.

A proposta de fazer uma Live/transmissão ao vivo pelo docente online Wallace e adesão pelas praticantes vão ao encontro da fala de Santos (2005, p.28) quando argumenta que "o professor na cibercultura [...] tem como desafio estimular a intervenção dos alunos como coautores da construção do conhecimento e da comunicação". Nesse sentido, a Live/transmissão ao vivo ocorrida pelo grupo da disciplina no Facebook teve 171 visualizações, 69 comentários e foi visualizada por 40 praticantes do próprio grupo. Essas informações expostas na Figura 4 revelam a demanda que a atividade proposta produziu em sala de aula.

Figura 4: Live sobre o aplicativo Aurasma.


Fonte: Grupo da disciplina no Facebook.

Podemos dizer que esses primeiros contatos das praticantes com tutorias sobre como o aplicativo Aurasma funciona, suas problematizações em relação ao seu uso no grupo da disciplina pelo Facebook e as discussões na transmissão ao vivo são rastros de manifestações pré-autorais (BACKES, 2012). Isso deve-se ao fato das praticantes ainda estarem em processo de compreender as funcionalidades do aplicativo, refletir e tencionar o seu uso na prática educativa e compreender toda a dinâmica da atividade de aula.

Por outro lado, o docente online Wallace visou, a partir de suas experiências, mobilizar a experiência do conhecimento (SILVA, 2009) ao acionar outros canais de comunicação, colaborando para que as praticantes relatassem as suas dificuldades.

Após essas demandas iniciais da parte prática da "Aula 1", compreendemos que a mera disponibilização de conteúdos e a resolução de dúvidas pontuais não garantem a dinâmica da sala de aula. É importante exercitar a mediação docente online principalmente quando as situações de aprendizagem não possibilitam encontros face a face e oportunizar novas formas de interação em que o praticante possa aprender não somente com o material disponível, mas, sobretudo, na interação com os docentes (tutores) e outros praticantes da disciplina. Mediar requer uma docência online colaborativa, que incentiva a construção do conhecimento, acompanha o processo formativo do aprendente, faz intervenções sempre que necessárias e que cria estratégias para promover a autoria em sala de aula (SANTOS, CARVALHO & PIMENTEL, 2016).

Na Figura 5, exposta a seguir, podemos visualizar o trabalho sobre o Museu Imperial de Petrópolis/RJ, realizado pelas praticantes via aplicativo Aurasma, que é um desdobramento da atividade prática proposta da "Aula 1":

Figura 5: Trabalho em RA pelo Aurasma sobre o Museu Imperial de Petrópolis.


Fonte: Moodle.

Ao visualizarmos o trabalho sobre Museu Imperial de Petrópolis/RJ, observamos que as cursistas partem do cotidiano de onde moram, produzem e adicionam informações sobre o museu e bricolam o aplicativo Aurasma com o aplicativo Hand talk, tornando o conteúdo acessível à comunidade surda. Através desse trabalho, as praticantes manifestaram a sua autoria criadora (BACKES, 2012), revelando a criatividade, a produção de um conteúdo novo para além do que foi proposta em aula e a ampliação do conhecimento, discussão e práticas em relação aos usos de aplicativos em atos de currículo.

Essa apropriação e ressignificação da proposta da atividade para a concepção de um novo saber baseado na prática e na vivência com a comunidade surda petropolitana, emergiu ao nosso olhar da praticante Letícia. Sua in(ter)venção, potencializada em *App-*docência, possibilitou a interação de uma nova população de praticantes que não seriam atendidos em uma visita presencial ao museu. Essa praticante com o seu grupo pôde, através de intervenção no mundo e da criação de uma nova camada de informação alternativa, tradutiva e inclusiva, vivenciar as relações propostas pelo currículo da disciplina entrelaçando a didática, a cidade e o ciberespaço. Essas vivências são, por sua vez, experiências formativas que atravessam e constituem o processo de aprendizagem.

Já o trabalho das cursistas Débora, Ricardo e Anna exposto na Figura 6, é um plano de aula sobre "Trabalhando o Turismo Ecológico, conforme exposto na Figura 6.

Figura 6: Trabalho em RA pelo Aurasma sobre o Dia do Turismo Ecológico.


Fonte: Grupo da disciplina no Facebook.

Esse trabalho das praticantes faz somente o uso do aplicativo Aurasma, está diretamente ligado com a atividade proposta de aula e traz uma reflexão crítica-positiva em relação à temática do turismo ecológico, dando sentido à autoria transformadora (BACKES, 2012). É interessante notar que esse mesmo trabalho além de ter sido postado no "Fórum de discussão -- Postagem do trabalho" do ambiente Moodle, foi partilhado no grupo da disciplina pelo Facebook, ampliando não só a circulação da autoria transformadora das cursistas como também a rede de aprendizagem e de ensino entre docente e praticantes.

As praticantes envolvidas na concepção dessa atividade utilizaram-se da proposta do trabalho para transformar sua prática no cotidiano da sala de aula de uma turma regular de ensino fundamental, em que ao invés de trabalhar o assunto gerador do dia do turismo ecológico com a confecção de cartazes e textos elaborados a partir de pesquisas sobre o assunto, elas inovam em sua prática mobilizando uma nova competência ao construírem com os alunos uma nova camada informacional. A partir da ativação de um vídeo sobre a imagem que seria afixada no cartaz elas exigem a atuação dos alunos para então efetivar novas relações com o conhecimento, tornando participante do processo formativo, o que pode gerar novas maneiras de percebermos a maneira como enxergamos o processo de mediação docente no cotidiano escolar.

Notamos que ambos os trabalhos e as discussões -- tanto da pré-manifestações das autorias quanto da autoria criadora e da autoria transformadora -- são tecidos dentro da perspectiva da aprendizagem colaborativa, onde "a aprendizagem é um processo ativo que se dá pela construção colaborativa entre os pares; os papéis do grupo são definidos pelo próprio grupo; e a autoridade é compartilhada" (TORRES, 2007, p. 341). Nesse sentido, essas autorias tecidas colaborativamente via aplicativos em rede são construídas na produção-participação coletiva, nas relações com os outros, por meio de conversas, nas tessituras de pontos de vista distintos, em tensões cotidianas e oportuniza situações de negociações-partilhas e colaboração-interatividade.

A docência online para promover a autoria colaborativa pode atuar criando situações desafiadoras em seus atos de currículo, mediar ativamente, cativar o/a aprendente a se autorizar no processo formativo, propor atividades em grupos que explorem os espaços-tempos das cidades, desenvolver práticas críticas e reflexivas e acionar meios comunicacionais para estar mais próximo do aprendente.

Por fim, ressaltamos que os aplicativos atuam como dispositivos de formação e potencializam a autoria no processo de ensinar-aprender, se desdobrando na construção de novos conhecimentos, novas autorias e novas (des)aprendizagens.

Considerações finais

Neste relato de pesquisa, objetivamos compreender os usos que as praticantes fazem com o aplicativo de realidade aumentada para dispositivos móveis em atos de currículo. O cotidiano da disciplina de "Informática na Educação" foi o espaço-tempo onde aconteceu a pesquisa. Neste cotidiano, tecemos com as praticantes saberes, práticas, experiências e processo formativos na relação todos-todos. Durante quatro meses interagimos nos ambientes da disciplina, cocriando o desenho didático, desenvolvendo e disponibilizando material de apoio e atuando nas mediações com as praticantes, através das mensagens deixadas nos fóruns, no grupo do Facebook, nas trocas de mensagens pelo Messenger do Facebook e na atenção aos e-mails recebidos pelos alunos.

A partir destas experiências de pesquisa, quais sentidos e significados foram tecidos e produzimos? Ao nosso entendimento foram:

  • Cada uma das experiências vivenciadas durante o curso da disciplina tiveram a oportunidade de manifestarem seus processos autorais e produzir novos saberes, que puderam ser apropriados tanto pelos docentes quanto pelas praticantes. Essas experiências revelam que os atos de currículo rompem com currículo pronto, voltado para a transmissão do conhecimento.

  • Compreendemos que as possibilidades tecnológicas dos aplicativos só fazem sentido se temos a capacidade de criar propostas de efetiva aprendizagem com elas. A mera introdução de tecnologias digitais em rede não garante a contextualização cibercultural do processo de aprendizagem. É preciso, portanto, um fazer pedagógico implicado que busque mobilizar competências a partir de situações de aprendizagem, em que todos possam interagir com os aplicativos e ter acesso ao conhecimento, favorecendo a convergência de mídias e a linguagem hipertextual no processo de autoria.

  • Notamos que docência online é fundamental em sala de aula, ela é responsável por mediar, possibilitar as manifestações das autorias, proporcionar estratégias de solução para as necessidades das praticantes, atuar na multiplicidade de ocorrências que surge através do diálogo contínuo e ter uma escuta sensível em relação às dificuldades de seus aprendentes.

  • No decorrer desta pesquisa, observamos que as praticantes matriculadas na disciplina de Informática na Educação já haviam tido algum primeiro contato com as tecnologias apresentadas na disciplina, mas nunca haviam imaginado como elas eram produzidas, funcionavam e em que contexto elas poderiam ser aplicadas em atos de currículo.

  • Quando realizamos a live/transmissão ao vivo pelo grupo da disciplina no Facebook percebemos que mesmo em contextos temporais e geográficos adversos ainda existe a necessidade de uma interação em tempo real, face a face, principalmente para aproximar as relações e diminuir as tensões.

  • A faixa etária das praticantes era variada, o que trazia para a disciplina diferentes visões de mundo e realidades distintas, contribuindo para que o ambiente online fosse transformado pelas conversas, percepções e experiências que cada um apresentava. Por diversas vezes a fala de algumas praticantes demonstrava a insegurança em interagir com o smartphone e com os aplicativos como suportes de aprendizagem, o que se desdobrava em diversos debates que enriqueceram a pesquisa.

Por fim, essas experiências de pesquisa nos fizeram perceber a necessidade de ampliarmos os estudos acerca do uso do App- docência, principalmente no processo de formação de professores em tempo de cibercultura.

Referências

CAROLEI, Paula; e TORI, Romero. Aurasma: aumentando e gamificando a realidade. In: COUTO, Edvaldo; PORTO, Cristiane; SANTOS, Edmea (Org.). App-learning: experiências de pesquisa e formação. Salvador: EDUFBA, 2016.

CERTEAU, Michael. A invenção do cotidiano: Artes de fazer. Petrópolis, RJ: Vozes, 15. ed. Tradução de Ephraim Ferreira Alves, 2008.

BACKS, Luciana. As manifestações da autoria na formação do educador em espaços digitais virtuais. Revista de Educação, Ciência e Cultura, v. 17, n. 2, jul./dez. 2012. Acessado em: 23/04/2017. Disponível em: http://www.revistas.unilasalle.edu.br/index.php/Edu-cacao/article/view/608/700.

MACEDO, Roberto Sidnei. Atos de currículo formação em ato? Para compreender, entretecer e problematizar currículo e formação. Ilhéus: Editus, 2011.

MACEDO, Roberto Sidnei. Atos de currículo e Autonomia Pedagógica: o socioconstrucionismo curricular em perspectiva. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

SANTAELLA, Lucia. App-learning e a imaginação criativa a serviço da educação** [Prefácio]. In: COUTO, Edvaldo; PORTO, Cristiane; SANTOS, Edmea (Org.). App-learning: experiências de pesquisa e formação. Salvador: EDUFBA, 2016.

SANTOS, Edméa; CARVALHO, Felipe da Silva Ponte; e PIMENTEL, Mariano. Mediação docente para colaboração: notas de uma pes-quisa-formação na cibercultura. Campinas, SP, Revista Educação Temática Digital (ETD), v.18, n.2, p. 23-42, jan.abr.2016. ISSN 1676-2592.

SANTOS, Edméa. Educação online: cibercultura e pesquisa-formação na prática docente. Salvador. 2005. Tese (Doutorado em Educação) -- FACED-UFBA.

SANTOS, Edméa. Pesquisa-formação na cibercultura. Portugal: Whitebooks, 2014.

SILVA, Marco. Formação de professores para a Docência Online. Braga: Universidade do Minho, 2009. Disponível em: http://www.e-ducacion.udc.es/grupos/gipdae/congreso/Xcongreso/pdfs/cc/cc2.p-df.

TORRES, Patricia Lupion. Laboratório on-line: uma experiência de aprendizagem colaborativa por meio do ambiente virtual de aprendizagem Eurek@kids. Caderno Cedes, Campinas, v. 27, n. 73, p. 335-352, set./dez. 2007.


  1. O tutorial pode ser acessado em: bit.ly/aurasmaoquee 

  2. O vídeo tutorial está disponível no canal do YouTube criado para a disciplina e pode ser acessado em: bit.ly/aurasmacomofazer