As habilidades e competências digitais do professor no ensino a distância¶
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Autores
Especialista em Tecnologias e Educação Aberta e Digital (UFRB - UAb Portugal). Graduado em Sociologia (UNIJUI) e Ciências Contábeis (FAZAG). E-mail: celosantoscnt@gmail.com.
Doutor e pós-doutor em Educação. Professor adjunto no Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas (CECULT), da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Professor permanente no Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação Científica, Inclusão e Diversidade (mestrado), da UFRB. Coordenador adjunto do Sistema Universidade Aberta do Brasil na UFRB. Coordena o Programa de Extensão Digital para Qualificação Discente e o Programa de Extensão Formação Docente Continuada em Tecnologias Digitais. É vice-coordenador do grupo CNPq de Pesquisa em Tecnologias Educacionais, Robótica e Física (G-TERF) e pesquisador do Grupo CNPq Formação e Investigação em Práticas de Ensino (FIPE), desenvolvendo projetos de pesquisa nas temáticas das Tecnologias Digitais na Educação; Competências Digitais dos Professores (DigCompEdu) e Aprendizagem Online e Diversão Emancipatória. Avaliador do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior do INEP/MEC. E-mail: eniel@ufrb.edu.br.
Resumo: Este estudo teve como objetivo investigar as habilidades e competências necessárias ao professor para a realização do seu trabalho, principalmente, do ensino a distância (EAD). Trata-se de um estudo bibliográfico, de caráter exploratório, que utilizou materiais impressos e publicados na internet (livros, revistas, periódicos, dissertações, entre outros, de caráter científico), abrangendo o período entre 2015 e 2020. O portal de conteúdos predominante foi o da Scielo. Os resultados apontam para as competências que devem ser desenvolvidas pelo educador e pelo estudante que incluem o envolvimento profissional, os recursos digitais disponíveis, a gestão do ensino e aprendizagem, o uso de tecnologias e estratégias para potencializar a avaliação, o olhar sobre o estudante, promovendo a sua inclusão no processo e, por fim, o compromisso de torná-lo capaz de usar as tecnologias digitais para conhecer, comunicar, criar conteúdos digitais, bem-estar e para resolver problemas. Os resultados mostram ainda que o professor deve estar capacitado para ser modelo para as gerações que o sucederá. Para isso, ele deve adquirir habilidades e competências digitais, tanto para a vida pessoal quanto para a vida profissional. Os estudantes também precisam estar dispostos para ter um bom desempenho na tarefa de aprender. Para eles, a aquisição de habilidades e competências também é necessária, para que possam desenvolver a autonomia intelectual.
Palavras-Chave: Ensino a Distância. Tecnologias Digitais. Competências Digitais. Avaliação em EAD.
Introdução¶
As tecnologias da informação e do entretenimento têm se desenvolvido em grande velocidade. Com a quebra de barreiras econômicas, aliada à expansão natural do capitalismo, elas têm conquistado, cada vez mais, um papel de destaque na vida e no cotidiano das pessoas. A família, as relações sociais e pessoais, até mesmo a educação têm sido afetadas por esse desenvolvimento. Por esse motivo, é preciso se adaptar às mudanças.
É notório que as pessoas, desde a infância, têm contato com as novas tecnologias e possuem mais desenvoltura para lidar com elas. Mas aquelas que apenas, na fase adulta, tiveram o primeiro contato, não possuem tanta facilidade. É o que motiva a necessidade de adequação dos professores ao novo modelo de ensino a distância. Desta forma, este artigo busca responder à seguinte questão- problema: quais são as habilidades e competências necessárias ao professor para a realização do seu trabalho?
Assim, buscamos respostas para questões essenciais, tais como: quais as habilidades e competências que o professor precisa adquirir para usar os recursos digitais a favor da educação? Tão importante quanto às questões práticas e conceituais, é saber como avaliar o desempenho do estudante durante o uso de recursos digitais dentro dos novos cenários de aprendizagem?
No processo de ensino e aprendizagem, o professor desempenha o papel de mediador do conhecimento, mas, de acordo com os novos cenários da educação, essa via não é de mão única, pois, em uma perspectiva dialógica, ele ensina e aprende no fazer docente. Para que essa atividade seja mais dinâmica, é necessário que o professor saiba dialogar com os estudantes nos novos cenários de educação. Para isso, é necessário desenvolver habilidades e competências para usar as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), articulando estratégias que contribuam para a formação do estudante e posterior devolução à sociedade.
Do ponto de vista pessoal, é um grande prazer para um professor saber que o seu trabalho está sendo desenvolvido de forma plena e os resultados estão sendo positivos. O uso de quadro negro e giz branco divide espaço com outras mídias, tais como: notebooks, telões de TV, projetores de vídeo, entre outros. É preciso que o professor conheça as novas ferramentas para a criação de novos cenários de aprendizagem e que tenha habilidades e competência para utilizá-las.
É esse percurso que o texto pretende trilhar, mostrando as habilidades e competências necessárias ao professor no processo de ensino e aprendizagem e na utilização dos novos cenários de aprendizagem digitais. Esse objetivo poderá ser melhor delineado após a listagem das principais habilidades e competências que o professor precisa adquirir para usar os recursos digitais a favor da educação. Por fim, tal meta poderá ser mais materializada com a apresentação da proposta de estratégias para a avaliação do desempenho do estudante na execução de tarefas em novos cenários de aprendizagem.
Os autores Sousa; Franco; Costa (2016), quando se referem à ótica de quem escolhe a modalidade de curso a distância, citam que é preciso atender a alguns pré-requisitos, que são as habilidades e competências necessárias para quem vai aderir a um curso a distância. É preciso ter certo grau de intimidade com equipamentos afins e softwares. O mesmo pressuposto pode ser aplicado ao docente, pois ele precisa atender aos mesmos pré-requisitos sobre tais equipamentos e softwares.
A metodologia da pesquisa, da qual advém este artigo, foi desenvolvida com base em um estudo bibliográfico, de caráter exploratório. Foram utilizados materiais impressos ou publicados na internet, abrangendo o período entre 2015 e 2020, sejam livros, revistas, periódicos, dissertações, entre outros, de caráter científico. As palavras-chave mais usadas foram: avaliação em EAD, formação de professores EAD, recursos digitais, habilidades e competências do professor. O portal de conteúdos predominante foi o Scielo.
Habilidades e competências digitais¶
Os professores devem estar preparados para ser modelos para as gerações que os sucedem. Mas, para que isso seja possível, eles devem adquirir habilidades e competências digitais, tanto para a vida pessoal quanto para a vida profissional. É preciso que eles saibam como utilizar as ferramentas digitais de modo criativo, para despertar nos estudantes o interesse pelo conteúdo.
Segundo Lucas; Moreira (2018, p.15):
Como cidadãos, os educadores precisam de estar equipados com essas competências para participar na sociedade, quer a nível pessoal quer profissional. Como exemplos, precisam de ser capazes de demonstrar a sua competência digital perante os aprendentes e legar o uso criativo e crítico que fazem das tecnologias digitais.
Como cidadãos, os docentes precisam interagir com a sociedade e, como profissionais, eles precisam exercer a sua atividade com excelência. Para alcançar tais finalidades, é válido afirmar que eles devem adquirir, além das básicas, as habilidades específicas que os auxiliem na tarefa de ensinar, considerando também que a tecnologia já faz parte da Escola e não há como dissociá-la do fazer pedagógico, uma vez que ela faz parte do quotidiano do estudante e dos professores também, segundo Trindade; Moreira (2018).
Refletindo sobre a questão, é possível perceber que os estudantes também precisam estar preparados para ter um bom desempenho na tarefa de aprender, mesmo que muitos deles estejam na condição de nativos digitais. Por outro lado, também é necessário observar que, nos novos cenários de aprendizagem, o próprio estudante é responsável por administrar o seu tempo e conhecimento, quando antes era tudo centrado no professor. Também é preciso refletir e compreender que, mesmo o estudante sendo, presumivelmente, dominante das Tecnologias Digitais (TD's), o processo de ensinar e aprender não deve ser construído unilateralmente, mas, em parceria, considerando que o estudante traz consigo uma bagagem de conhecimentos digitais. Assim podemos afirmar que a função do professor é orientar e estimular o seu crescimento integral, de acordo com Modelski; Giraffa; Casartel, (2019).
É interessante a abordagem de Borges e Reali (2012), quando trazem à tona a discussão sobre as dificuldades da formação de professores que vão desde as instituições formativas e os seus profissionais até as políticas públicas que não intervêm de maneira satisfatória. Se eles já têm problemas relativos à formação em conteúdo específico das disciplinas, também terão em relação à formação voltada para o desenvolvimento de habilidades e competências digitais. Além disso, há a dificuldade de adaptação, pois, quando os professores migram do ensino presencial para o ensino virtual, a didática e o planejamento não são os mesmos. Se antes eles precisavam estar atualizados em sua área de conhecimento, agora eles também devem dominar as novas tecnologias.
Para o estudante, a dificuldade está relacionada com a oportunidade de acesso, o que, muitas vezes, tem sido vencido quando eles encontram no mercado os mais variados tipos e preços de dispositivos que podem ajudá-los no acesso e os provedores de internet possuem velocidades e preços variados. Inicialmente, ele pode se sentir sozinho, distante do professor, uma vez que agora ele não está mais ao lado para tirar dúvidas.
Segundo a Agência Brasil (2020), em pesquisa realizada no último trimestre de 2018, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatou que 1 em cada quatro brasileiros não possui acesso à internet e, desse grupo, mais da metade se encontra em zonas rurais. Cerca de quase metade das pessoas entrevistadas alegou não saber usar (41,6%) a internet. Um terço delas (34,6%) declarou falta de interesse. Para (11,8%) dos entrevistados, o provedor de acesso à internet é caro. Por fim, 5,7%, disseram que a dificuldade está na aquisição dos equipamentos necessários para obter acesso à internet, declarando que eles são caros.
Isso demonstra que ainda existem muitos desafios a ser vencidos. Contudo, por causa da popularização das redes sociais, do crescimento dos cursos EAD, da oferta de produtos mais baratos no mercado, sobretudo, aqueles vendidos online, é possível que esses percentuais sejam reduzidos em pouco tempo. O governo tem tomado medidas para diminuir essa diferença. Segundo o portal do Ministério de Educação e Cultura (MEC) (2019), até o final de 2020, 5.296 municípios teriam as suas escolas conectadas à internet, na zona urbana e rural. Além disso, haverá a capacitação de professores por meio do ambiente virtual de aprendizagem do MEC.
Estudar e aprender nos espaços online¶
Estudar a distância não é uma prática nova, "[...] contudo, no decorrer das últimas décadas do século XX, a educação a distância foi impulsionada com a utilização das tecnologias de comunicação [...]", segundo Pelli; Vieira (2018). Essa estratégia tem sido um recurso a mais no processo de ensino e aprendizagem. Na medida em que ele se desenvolve, mais ferramentas vão sendo criadas e adaptadas às necessidades dos estudantes e professores. Nesse processo, podemos verificar dois agentes (professor/estudante) e um meio de interação, cuja predominância era presencial e hoje se dissemina nos ambientes virtuais e semipresenciais.
Ser o administrador do próprio conhecimento assusta e gera conflitos, conforme declaram Souza; Franco; Costa (2016, p. 101), pois desconstrói aquele modelo de ensino centrado no professor que, em sala de aula, detinha todos os meios e ferramentas didáticas. Para o estudante, a transferência dessa responsabilidade, presumivelmente, pode gerar um déficit de motivação durante o transcorrer do curso. É por esse motivo que a escolha da modalidade de ensino a distancia implica na adequação daquele que a escolheu, aos seus procedimentos, métodos e materiais. Notadamente, segundo Souza; Franco; Costa, (2016, p. 103), esses aspectos representam as "[...] competências e habilidades no trato com as novas ferramentas que dão suporte à sua aprendizagem, bem como à adequação de sua organização pessoal, motivação e objetivos e às exigências do curso escolhido [...]".
As recomendações para estudar e aprender nos espaços online exigem, em primeira instância, o reconhecimento de que o resultado depende de que o estudante faça bom uso da autonomia que possui, realizando um bom planejamento e tendo disciplina para executar as tarefas tempestivamente. Também é preciso lembrar que o estudante não estará sozinho, já que ele faz parte de um grupo e possui tutores para auxiliá-lo. Quando ele for participar dos fóruns e chats, os textos devem ser bastante objetivos, para evitar que haja uma possível má interpretação das intenções na comunicação. Isso faz parte da "netiqueta", um tipo de aprendizagem "[...] que é necessária para poder se relacionar com outras pessoas na realidade virtual [...]", de acordo com Borges; Real (2012, p. 12).
Os fóruns e os canais de comunicação com os tutores devem servir para o compartilhamento de informações com os demais estudantes e para sanar as dúvidas. Isso promove o crescimento de todo o grupo. Por último e talvez um dos pontos mais importante, não se deve permitir que as distrações ocupem o tempo precioso que deve ser destinado ao estudo e à realização das tarefas.
Competências digitais para o professor¶
Em uma perspectiva moderna, uma excelente alternativa para o educador é o relatório DigCompEdu, que, de acordo com Trindade e Moreira (2018, p. 8), serve para avaliar: "[...] por um lado, as suas competências digitais e, por outro, identificando as áreas de maior fragilidade e, partindo daí, apresentar sugestões formativas para superação dessas fragilidades ou lacunas [...]".
O relatório possui 22 questões que avaliam 22 competências em seis áreas. Ele começa com a autoavaliação. Em seguida, as perguntas se referem ao relacionamento do professor com as tecnologias; em segundo, identifica os recursos disponíveis e os molda de acordo com a necessidade; a terceira tem a ver com o planejamento e a execução; a quarta aborda as estratégias de avaliação; a quinta área trata das possibilidades de acessibilidade; a sexta refere-se às competências digitais dos estudantes; e, por último, faz algumas perguntas pessoais.
Mas quais são essas competências?
Figura 1: Resumo do quadro DigCompEdu.
Fonte: Lucas; Moreira (2018, p. 19).
Como pode ser observado na Figura 1, no relatório DigCompEdu, as atividades profissionais dos educadores são divididas em 6 (seis) áreas, que abordam diferentes faces do fazer pedagógico. Essas áreas incluem o envolvimento profissional do educador, os recursos digitais disponíveis, a gestão do ensino e aprendizagem, o uso de tecnologias e estratégias para potencializar a avaliação, o olhar sobre o estudante, promovendo a sua inclusão no processo e, por fim, o compromisso de tornar os estudantes capazes de usar as TD's para "[...] informação, comunicação, criação de conteúdos, bem-estar e resolução de problemas [...]", segundo Lucas e Moreira (2018).
A primeira estratégia se refere ao envolvimento profissional Encontra-se encontra centrada na capacidade do educador no uso das tecnologias para desenvolver a comunicação institucional, que, em outras palavras, significa fazer a ponte entre os estudantes, a comunidade, a instituição de ensino e demais professores. Por sua vez, a colaboração profissional visa à interação entre os professores, o compartilhamento de saberes e experiências para inovar as práticas educacionais. Também faz parte dessa estratégia a prática reflexiva, traduzida pela resposta individual e coletiva sobre a prática de ensino. O resultado dessa estratégia é o desenvolvimento profissional e institucional por meio da constante inovação (Idem, 2018).
A segunda estratégia se refere ao uso de recursos digitais. No planejamento de suas atividades, o professor carece escolher quais serão os recursos digitais utilizados. Ele deve ter em consideração as estratégias, os objetivos, a metodologia e o público, ao escolher os recursos para apoiar a sua prática. Em seguida, a criação e a modificação, que demandam cuidados, pois existem materiais com os direitos autorais, que devem ser devidamente referenciados e os materiais de uso livre. Por fim, a gestão, a proteção e a partilha, que se referem ao compartilhamento de materiais digitais aos estudantes e a outros interessados, respeitando os direitos autorais, quando necessário (Ibidem, 2018).
A terceira estratégia é a de ensino e aprendizagem. Tudo passa pelo planejamento. O educador deve organizar os recursos de tal forma que o processo de ensino se torne eficiente e eficaz. No quesito orientação, o uso das tecnologias deve proporcionar a interação entre professores e estudantes, em tempo e fora dele, para apoiar e nortear as atividades, sempre que se fizer necessário. Além das atividades individuais, o estudante também deve ser incentivado a colaborar, coletivamente, o que pode proporcionar uma melhora na criação de conhecimentos. Por fim, a proposta de incentivar o estudante a fazer a feedback das suas atividades, autorregulando a sua própria aprendizagem. Ao final, o estudante deve ser capaz de trilhar os seus próprios caminhos (Ibidem, 2018).
A quarta estratégia é a da avaliação. Ela pode ser vista por um viés positivo ou negativo, vai depender de qual estratégia será utilizada para avaliação de desempenho. A ideia é usar as tecnologias para melhorar as estratégias de avaliação comumente utilizadas. Analisar as evidências significa interpretar os dados referentes ao desempenho, e o progresso dos estudantes, o que torna o professor capaz de aferir se o ensino está de fato ocorrendo. Por fim, a avaliação requer uma retroalimentação, que significa o ciclo de feedback, de análise e planejamento. As estratégias precisam ser adaptadas às variações dos cenários e é, a partir dos resultados, que as decisões devem ser tomadas, segundo o relatório de Lucas e Moreira (2018).
A quinta estratégia se refere à capacitação dos estudantes. O primeiro ponto é a acessibilidade e a inclusão. Tornar livre o acesso às atividades para todos os estudantes, sobretudo, para aqueles com necessidades especiais, atendendo as suas expectativas, respeitando também o ritmo de cada um no quesito de personalização. E, por fim, o envolvimento ativo que deve ser proporcionado de tal maneira que os estudantes possam interagir, refletir, aprender, investigar cientificamente, e resolver problemas, entre outras ações *(*Idem, 2018).
A última estratégia é bastante conclusiva. Ela se refere à promoção da competência digital dos estudantes. Em outras palavras, requer que o educador envolva os estudantes, de tal forma que eles necessitem usar diversas ferramentas na busca do conhecimento, articulando conhecimentos, além de analisar, interpretando, e de dissertar, de modo crítico, as fontes de informações. Esse processo deve ser feito tanto, individualmente, como, coletivamente, promovendo a colaboração digital. Esses passos culminam na produção de conteúdo, genuíno, embasado, crítico, referenciado, articulando saberes, incentivando o uso responsável da informação e contribuindo para a resolução de problemas digitais (Ibidem, 2018).
As seis áreas referidas pelo relatório DigCompEdu são bastante abrangentes, pois tratam de questões relevantes que vão desde a atividade profissional do educador até o resultado que se espera para a vida do educando e, ao mesmo tempo elas também são específicas, pois cada uma delas é parte essencial do paradigma da Educação a Distância.
O professor precisa ser o elo entre o estudante, a comunidade e a instituição de ensino. Para isso, é preciso estratégia, planejamento, recursos, avaliação e feedback, tendo como alvo a preparação do estudante para adquirir a sua própria autonomia cognitiva e prepará-lo para a vida.
Quadro de competências digitais¶
Ter competência digital não se trata de possuir dispositivos tecnológicos ou saber manuseá-los. É algo que tem relação com a participação do sujeito na sociedade, seja como profissional seja como participante dela. Depende, portanto, dos conhecimentos que possui, das habilidades desenvolvidas e das atitudes diante das situações.
O estudo da DigCompEdu, de origem europeia, produziu um quadro de referência com os principais componentes da competência digital. Neste artigo, são apresentados alguns pontos das competências digitais, com base no quadro produzido pela DigCompEdu (LUCAS; MOREIRA, 2017).
O primeiro ponto se refere à "[...] Navegação, procura e filtragem da informação [...] (idem, 2017, p. 5).". O professor precisa saber fazer uma pesquisa e não é somente usar um site de busca, digitando uma frase. É preciso saber utilizar as palavras-chave, usar motores de busca diferentes, sabendo que os resultados podem ser diferentes também. É preciso saber usar os filtros de pesquisa, restringindo a uma palavra, data de publicação, país, língua, entre outras categorias, e saber quais fontes são confiáveis e quais não são, deixando a pesquisa mais refinada (Idem, 2017).
O segundo ponto é a "Avaliação da informação". É preciso saber que nem toda informação encontrada na internet é fidedigna, por isso o professor deve saber avaliar as fontes de pesquisa; compreender que toda informação deve ser rastreada, verificada e comparada. Além de tudo, ele deve lembrar que nem tudo pode ser encontrado na internet e que, apesar da aparente neutralidade, os motores de busca podem ser tendenciosos em relação aos resultados exibidos durante uma busca de informações (Ibidem, 2017).
O terceiro ponto se refere ao "Armazenamento e recuperação da informação". Sugere conhecer o sistema operacional, saber gravar e armazenar um arquivo digital da forma correta. Além disso, saber encontrá-lo quando necessário, conhecer que para cada tipo de arquivo existe uma identificação e um formato. Por exemplo, arquivos com extensão txt, docx, rtf são arquivos de texto, já os jpg, gif, png, são arquivos de imagem (Ibidem, 2017).
O quarto ponto é o da "Interação através de tecnologias". Conhecer e interagir com outros usuários através das redes sociais, tais como: Facebook, Instagram, WhatsApp, Blogs, fóruns, entre outros. Saber como funcionam os mecanismos de e-mail, de armazenamento em nuvem, pastas virtuais e, sempre que possível, adequar e usar essas ferramentas em seu planejamento, conforme.
O quinto ponto é "Partilha de informação e conteúdo". O professor deve saber como enviar um anexo, como disponibilizar material para os estudantes na nuvem e lhes enviar um link de acesso. Espera-se ainda que ele tenha competência para disponibilizar conteúdos através de redes sociais, dando os devidos créditos quando não forem materiais de uso livre, segundo o texto de Lucas e Moreira (2017).
O sexto ponto é "Conhecer a Netiqueta". Um conjunto de normas de conduta que regem a comunicação entre os usuários de redes sociais. Por exemplo: não se deve usar texto, em caixa alta, durante uma conversa online. Outras práticas, tais como saudar as pessoas antes de iniciar uma conversa ou enviar um texto por e-mail é mais fácil de absorver. Deve também compreender e adotar normas de privacidade de conteúdo (Idem, 2017).
O sétimo ponto é o "Desenvolvimento de conteúdo". O professor deve ser capaz de criar conteúdos digitais: textos, vídeos, apostilas, apresentações em slides, podcasts, entre outros e de acordo com o ponto cinco ele deve saber compartilhar esses materiais, obedecendo às regras de autoria (Ibidem, 2017).
O oitavo ponto é indispensável, em qualquer contexto, visto que se refere à "Proteção de dispositivos". O professor deve saber como proteger os seus arquivos contra o acesso não autorizado, bem como proteger o seu computador ou telefone contra a ação de pessoas não autorizadas. É indispensável o uso de um bom antivírus, de senhas complexas de usuário, formadas por letras, números e símbolos. Ademais, por precaução, fazer cópia, em outras mídias, de tudo que for importante.
O quadro de competências possui uma abordagem mais técnica, porém não se trata somente de questões relativas ao conhecimento e posse de tecnologias. Trata-se do aprendizado, da experiência acumulada e das atitudes que fazem a diferença quando a separação entre a educação e a realização do seu objeto é o planejamento. É necessário que o professor esteja atualizado e tenha o domínio sobre as técnicas de pesquisa, de avaliação da informação, de armazenamento e recuperação, entre outros.
Avaliação¶
O ato de avaliar a aprendizagem é difícil para ambos os lados (docente e discente), Para os
professores, é um trabalho complexo e, para a maioria dos estudantes, traz bastante medo. A avaliação, entretanto, deve ser pensada de forma a promover o uso da verdadeira democracia, pois todos têm direito à educação (IPAE, 2010) e às competências e habilidades para desenvolver o conhecimento. Só é necessário que as políticas públicas sejam pensadas e operacionalizadas com o intuito de que o acesso à educação seja, verdadeiramente, democrático.
Na perspectiva metodológica, a avaliação pode ser planejada com o auxílio de ferramentas digitais para monitoramento das atividades dos estudantes e a verificação do progresso do aprendizado deles. Têm se mostrado eficazes os usos de quizzes e de outros jogos similares. A proposta de seminários digitais também pode ser interessante, a qual consiste em elaborar um vídeo, apresentando uma resenha crítica sobre um material preparado e lhes entregar, além de Portfólios digitais, entre outros (LUCAS; MOREIRA, 2018)
A avaliação, contudo, não deve terminar por aí. É preciso que haja um feedback, bem como verificar os resultados obtidos, as dificuldades do estudante, para que se possa traçar um diagnóstico que permitirá a implementação de ações corretivas que visem ao desenvolvimento das capacidades de autonomia intelectual do estudante, de acordo com Silva; Mendes (2017).
A avaliação não deve ser algo que provoque o temor, mas um instrumento que sirva para averiguar o estágio em que se encontra o aprendizado. A partir disso, deve-se dar prosseguimento ao processo, pois o aprendizado deve ser contínuo.
Considerações finais¶
O professor deve ser uma figura modelo na vida de muitos estudantes. Em seu papel, ele deve inspirá-los na vida acadêmica e profissional. O percurso percorrido pelo professor para a sua formação profissional também se reflete em sua vida pessoal e em suas relações sociais, por isso o texto aborda que as competências adquiridas servem, não somente para o lado profissional, mas também para a vida em sociedade. Essas habilidades vão auxiliar o professor para que ele inspire os seus estudantes a alcançarem os melhores resultados.
Não somente os professores, mas os estudantes também precisam de capacitação. A tarefa de aprender é complexa, no contexto das tecnologias digitais, é preciso que o estudante também domine algumas habilidades básicas que servirão, da mesma forma, para o aprendizado escolar e para a vida.
Ser administrador do próprio conhecimento não é algo tão estranho. Mesmo antes de experimentar do EAD, o estudante já possuía as suas responsabilidades, porém ele era assistido de perto. Nos cenários de aprendizado digitais, ele adquire responsabilidades mais sérias em relação ao seu compromisso de aprender e, mesmo a distância, o professor continua tendo a incumbência de orientar, apoiar, ensinar e inspirar no âmbito profissional e para a vida.
Dificuldades vão existir em qualquer lugar e, no contexto do EAD, não é diferente. Para o professor, elas podem ser inúmeras, desde as institucionais até as pessoais. Nesse momento de ascensão das tecnologias digitais, ser professor pode ser um desafio. Na presente conjuntura, quando o mundo passa por uma pandemia, além das instituições de ensino, bem como as diversas instituições que concentram o fluxo de pessoas, tiveram as suas atividades suspensas.
Diante do exposto, se coloca, à prova, todos os conhecimentos adquiridos para fazer a educação longe dos espaços físicos de ensino. É nesta oportunidade que as pessoas experimentarão as facilidades, os benefícios e as dificuldades do EAD.
É difícil estudar online? ₋ Não tanto quanto estudar presencialmente. Não se trata de uma invenção do nosso tempo. O ensino a distância se desenvolveu com maior impulso na era digital. O desafio do estudante é ser organizado nos seus horários, no seu compromisso de estudar e de fazer as atividades propostas. Há alguma novidade nisso? ₋ Nesse ponto não há, porém. Para usar as ferramentas digitais, ele terá que se adaptar às suas peculiaridades, ser mais organizado e aprender a trabalhar em grupo, com ética e compromisso.
Antes, poder-se-ia pensar que as habilidades e competências para o Ensino a Distância se tratavam de saber usar um notebook, um sistema, fazer planilhas, slides, vídeos. Contudo, no decorrer da pesquisa, constatou-se que vai muito além de questões operacionais. É preciso usar estratégias, planejamento e feedback constantemente.
O relatório da DigCompEdu é uma ótima ferramenta de diagnóstico. Por ela, é possível que o professor realize a sua autorreflexão na busca de um diagnóstico sobre as suas potencialidades e deficiências com relação às competências digitais.
No quadro de competências, é possível encontrar diversas ações que, em princípio, podem parecer triviais, mas algumas pessoas ainda encontram dificuldades de realizá-las, como por exemplo, enviar um e-mail ou montar uma apresentação de slides. Isso mostra que habilidades e competências digitais é um assunto vasto que requer tempo para análise.
A avaliação é um processo complexo, mas não deve causar medo no estudante. Em uma prova de Ciências Contábeis, um aluno perguntou ao professor se podia usar a calculadora. A resposta foi sim. No dia da prova, ele apareceu com um celular, dizendo que o aparelho também possuía uma calculadora. ₋ "Mas, celular não é calculadora", declarou o professor.
As ferramentas digitais podem ser usadas com criatividade, basta incluí-las no planejamento. Até mesmo para pesquisar uma resposta na web, é necessário ter habilidade, conhecer as palavras-chave, as fontes confiáveis e deixar o texto bem referenciado.
A resposta para a questão principal da pesquisa passa, antes de tudo, pela preparação do professor, pela estratégia e planejamento, considerando os conhecimentos que o estudante traz, buscando o seu envolvimento como agente do processo de ensino e aprendizado, não mais como um simples ouvinte, mas como um participante.
Com base no relatório apresentado e no quadro de competências do DigCompEdu, vimos quais são as competências profissionais e educacionais necessárias ao professor. Vimos também que a ele não se relaciona somente, mas também ao estudante como agente no processo de aprendizagem. O resultado deve conduzi-lo à promoção de competências digitais que o tornem capaz de ter autonomia, de analisar, interpretar e dissertar de modo crítico as fontes de informações. Vimos também que a avaliação deve ser um instrumento de desenvolvimento de autonomia intelectual para o estudante e não um instrumento de medo.
A pesquisa e, por conseguinte, este texto não se propõem a apresentar respostas finais ou a tarefa de esgotar o assunto, visto, que se trata de um tema vasto. Certamente, deles despontarão outros estudos e exercícios acadêmico-científicos. Necessário se faz ainda compreender melhor e forjar proposições pedagógicas sobre o EAD, tais como propostas metodológicas para as ferramentas digitais, planejamento para cenários digitais, dentre outros temas.
Referências¶
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LUCAS, Margarida. MOREIRA, Antônio. DigComp -- Quadro Europeu de Referência para a Competência Digital [DIGCOMP: A Framework for Developing and Understanding Digital Competence in Europe] + [DigComp 2.0: The Digital Competence Framework for Citizens]. Laboratório de Conteúdos Digitais (LCD) do CIDTFF, Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro. Aveiro: UA, 2017. Disponível em: https://www.erte.dge.mec.pt/sites/default/files/Recursos/Estudos/digcomp_quadro_europeu_de_referencia_para_a_competencia_digital.pdf. Acesso em: 21 mar. 2020.
LUCAS, Margarida. MOREIRA, Antônio. DigCompEdu: quadro europeu de competência digital para educadores. Aveiro: UA, 2018. Disponível em: https://www.academia.edu/39607478/DigCompEdu_Quadro_Europeu_de_Compet%C3%AAncia_Digital_para_Educadores. Acesso em: 21 mar. 2020.
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