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Utilização das tecnologias em escolas públicas na zona rural

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Autores

Especialista em Tecnologias e Educação Aberta e Digital (UFRB - UAb Portugal). Graduada em Pedagogia (UESB). E-mail:debora_nere@hotmail.com.

Mestrado em Geografia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Especialista em Aplicações Pedagógicas dos Computadores (UCSAL). Especialista em Educação Especial e Inclusiva (IBIO). Especialista em Gestão e Educação Ambiental (FACE). Especialista em Especialista em Geotecnologias Soluções Inteligência Geográfica (IQUALI / EEEMBA). Especialista em Produção de Mídias para Educação Online (UFBA). Licenciada em Geografia (UNEB). E-mail:anapassos.nte4@gmail.com.

Resumo: Este artigo tem como objetivo compreender como vem ocorrendo o uso das tecnologias nas escolas públicas da zona rural brasileira. Para alcançar tal objetivo retomamos o conceito de educação do campo e comparamos o acesso às tecnologias nas instituições educacionais urbanas e rurais no Brasil. Trata-se de uma revisão bibliográfica numa abordagem de cunho qualitativo sobre o uso das tecnologias em instituições públicas rurais. A princípio o texto aponta uma breve contextualização sobre educação do campo, para que possamos compreender o processo de consolidação dessa modalidade no país como algo imprescindível para seus indivíduos à luz das várias lutas de movimentos sociais que pautaram a importância de uma educação do campo e para o campo, partindo de suas diversas peculiaridades. Em seguida trazemos as discussões sobre educação e tecnologia e, por fim, são feitas argumentações acerca do uso das tecnologias em escolas da zona rural. O estudo conclui que existe uma grande desigualdade em relação ao uso das tecnologias nas instituições urbanas e rurais no Brasil, diante do fato que as políticas públicas instituídas em nosso país não levaram em consideração por muito tempo as instituições escolares do campo, para tentar ao menos minimizar esses problemas faz-se necessário pensar em políticas afirmativas e de continuidade para a população do meio rural brasileiro.

Palavras-chave: Educação do campo. Tecnologia. Zona rural.

Introdução

As tecnologias adquiriram muita relevância na vida das pessoas em todos os âmbitos, vivemos na era digital e, dessa forma, estamos imersos na tecnologia que utilizamos para realizar diversas atividades independente da origem cultural de cada indivíduo.

Em nossa atual conjuntura social as tecnologias adentraram os muros das instituições escolares como instrumento utilizado de forma majoritária pelos educandos em diversos momentos da rotina escolar. Dessa forma, as escolas sentiram a necessidade de acompanhar essas mudanças fazendo surgir uma nova perspectiva educacional. Contudo, faz-se necessário a busca por metodologias e práticas inovadoras diante do fato que as metodologias educacionais tradicionais não atendem as demandas do alunado do século XXI.

As tecnologias ampliam as possibilidades de acesso ao conhecimento e torna os indivíduos envolvidos no processo, mais autônomos e participativos, possibilitando uma proximidade com o cotidiano para formação de cidadãos capazes de cumprir seu papel no mundo, tornando as aulas mais interativas com um espaço de diálogo em que todos aprendam.

Partindo dessas reflexões percebemos no ambiente urbano o movimento de muitas instituições escolares no processo de atualização de suas metodologias de ensino com a inserção dos recursos digitais em suas ações pedagógicas para auxiliar o processo de ensino-aprendizagem. Contudo, não podemos desconsiderar que nosso país tem uma grande extensão rural e que muitas vezes não buscamos compreender como a inserção das tecnologias voltadas para a aprendizagem tem se dado nas diversas instituições de ensino. Dessa forma, com essa pesquisa busca-se compreender como tem ocorrido o uso das tecnologias em salas de aula de instituições públicas da zona rural no nosso país.

Durante o nosso trabalho iremos retomar o conceito de Educação do Campo; entender como ocorre o acesso à internet na maioria das instituições escolares públicas da zona rural brasileiras; compreender como vem ocorrendo o acesso às tecnologias para alunos e professores das Instituições Escolares do meio rural e como é feito o uso destas tecnologias.

Para realização desse trabalho fizemos uma revisão bibliográfica partindo de trabalhos publicados em meios digitais como Google Acadêmico, Scielo e Capes, bem como a documentos oficiais, fazendo um recorte de tempo partindo do ano 2000 até os dias atuais, após a seleção dos artigos foi feita a leitura e análise dos mesmos buscando as contribuições que os autores poderiam trazer ao nosso trabalho à luz das semelhanças e diferenças entre os dados encontrados.

Partindo dos pressupostos acima mencionados foi utilizada pesquisa de cunho qualitativo não requerendo o uso de técnicas estatísticas, em que o pesquisador tende a analisar seus dados indutivamente, na qual o processo e seus significados são o foco principal da abordagem (GIL, 1991).

Contextualizando educação do campo

A Educação do campo no Brasil tem seu surgimento vinculado a luta territorial entre campesinato e agronegócio, sendo inicialmente sua estrutura muito vinculada aos moldes da educação urbana, diante do fato que era encarada como algo desnecessário e inferior, por acreditarem que para realizar trabalho braçal não se fazia necessário conhecimento. Com base nesta argumentação, por um longo tempo a maioria dos habitantes de meios rurais cresciam analfabetos. De acordo com Silva (2004) a escola brasileira, desde o seu início até o século XX, serviu e serve para atender as elites, sendo inacessível para grande parte da população rural.

Por meio dos avanços oriundos com o processo de industrialização esse cenário começou a mudar, segundo salienta Silva (2004, p.1 - 2) após a década de 30 do século passado ocorreu a institucionalização das escolas do campo, todavia, esse processo desconsiderou "a população a quem se destinava, o contexto em que estava situada, as relações sociais, produtivas e culturais e a necessidade de formação sócio-profissional desse povo".

Em seguida passamos por um período de Ditadura Militar (1964-1985) no qual muitas campanhas em prol da alfabetização foram implementadas no Brasil trazendo modelos importados na tentativa de tornar o país uma potência institucional. Em meio a esse período ditatorial, durante a década de 1970, vemos o surgimento de muitos movimentos sociais que lutaram a favor da democracia, contribuindo também para a chegada de iniciativas de educação popular, movimentos de luta pela reforma agrária e o surgimento e expansão das Escolas Familiares Agrícolas.

A partir dos anos 80 vemos surgir a Central Única dos Trabalhadores (CUT), em 1983; e o Movimento Sem Terra (MST), em 1984. Esse último, além da luta em prol da reforma agrária, também contribuiu para a reflexão sobre as práticas de educação do campo. E com o processo de redemocratização do país, pós ditadura militar, foi elaborada uma nova Constituição Federal promulgada no ano de 1988 e que vigora até hoje em nosso país, Constituição esta que compreende a educação como um direito de todos os cidadãos.

Logo após a elaboração da Constituição, para complementá-la em relação aos aspectos educacionais e consolidando esse novo momento democrático, começou a tramitar na Câmara de Deputados o projeto da terceira versão da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que após idas e vindas foi aprovada em 1996 como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9.394/96). Com a implementação dessa LDB temos pela primeira vez referência a educação básica para a população rural em uma legislação, trazendo em seu Artigo 28, incisos I, II e III as seguintes disposições:

Art. 28. Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente:

I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural;

II - organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas;

III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. (BRASIL, 1996).

Encontramos então nessa legislação avanços significativos para a educação no campo que se constituíram por meio de muitas lutas dos movimentos sociais, principalmente do MST, em prol dos anseios e lutas dos povos do campo por uma educação condizente a sua realidade e que leve os educandos a vislumbrar um futuro cheio de possibilidades no ambiente em que nasceram, desmistificando um pensamento antigo de que os indivíduos das áreas rurais não necessitavam de conhecimentos.

Diante de tal realidade, a luta, a partir de então, passou a ser em prol de uma educação básica para o campo que teve como ponto de partida a I Conferência "Por uma Educação Básica do Campo" em julho de 1998, em Luziânia-Go. Toda essa articulação contribuiu para a aprovação das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, em 2002. O Artigo 2º parágrafo único afirma que:

A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões inerentes à sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos que associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade social da vida coletiva no país. (BRASIL, 2002).

Nesse sentido, o currículo dirigido às instituições escolares do campo deve perpassar pela realidade dos sujeitos nela inseridos, levando em conta suas particularidades e, também, dedicando atenção em saberes que preparem seus indivíduos para a produção e o trabalho. Desta maneira, a educação no campo passa a ter significado para esses indivíduos, dando-lhes a possibilidade de vislumbrar a vivência no campo com dignidade, a partir do seu trabalho e de sua produção. Inviabilizando, desta forma, a utilização de um modelo educacional urbano, como feito anteriormente.

Educação e tecnologia

A partir de meados dos anos 1980 a sociedade começou a sofrer uma grande influência das tecnologias. Dessa forma, quase todos os âmbitos da vida humana começaram a ser influenciados por elas, levando as pessoas a emergirem em um mundo virtual que favorece novas formas de acesso à informação e construção de saberes.

É notável que as modificações advindas das Tecnologias da Informação e Comunicação - TICs trouxeram uma nova realidade também no campo educacional, pois, pode-se acessar o conteúdo educacional em qualquer dia, hora ou lugar, trazendo também a possibilidade de construir conhecimento de forma conjunta com os alunos. Segundo Moran (2015, p. 16),

O que a tecnologia traz hoje é integração de todos os espaços e tempos. O ensinar e aprender acontece numa interligação simbiótica, profunda, constante entre o que chamamos mundo físico e mundo digital. Não são dois mundos ou espaços, mas um espaço estendido, uma sala de aula ampliada, que se mescla, hibridiza constantemente.

Dessa forma, a demanda por formação e busca de conhecimento se torna cada vez mais crescente e deve levar em consideração as demandas de cada indivíduo. Esse, por sua vez, busca um ambiente educacional menos engessado que o permita experienciar novas formas de construção do conhecimento que coadunem com suas demandas pessoais e profissionais.

As gerações atuais já nasceram na era tecnológica, o que as diferencia das gerações anteriores. Esses alunos são nativos digitais e cabe ao professor compreendê-los em seu tempo histórico para buscar melhorar o processo de ensino-aprendizagem desses educandos.

Os objetos digitais tais como: jogos, animações, vídeos e simuladores atraem a atenção dos alunos tornado possível para o professor facilitar a absorção de conhecimento, trabalhando diferentes competências e conteúdos, planejando atividades mais criativas e motivadoras. É possível também inserir o uso de games para proporcionar engajamento e melhorias no processo de aprendizagem dos indivíduos na tentativa de tornar conteúdos complexos mais acessíveis aos alunos, proporcionando um aprendizado mais prazeroso e lúdico aos estudantes.

De acordo com Martino (2014, p. 204) a tecnologia "mais do que um suporte para mensagens, é um elemento decisivo na formação da mente, dos modos de sentir, perceber e compreender a realidade". Sendo assim é impossível se pensar educação dissociada da tecnologia em nossa sociedade atual, contudo dois desafios se instauram nesse processo: o primeiro relaciona-se a formação dos professores, que, em sua grande maioria, não possuem domínio e conhecimento necessário acerca do uso das tecnologias, e o segundo desafio está relacionado ao acesso às tecnologias nas instituições escolares, para que ocorra verdadeiramente uma educação igualitária entre o ambiente urbano e rural.

Logo, se faz necessário que os cursos de formação de professores tenham em vista uma formação profissional para a era digital, com disciplinas que deem conta de auxiliar o professor para trabalhar com essa demanda cada vez maior e com dimensões imensuráveis. Contudo, para além da formação acadêmica, devemos procurar cursos de formação específica na área digital, ou seja, buscar por um processo de formação continuada.

Tecnologias e escolas do campo

Diante da realidade em que vivemos frente a uma sociedade globalizada é impossível se pensar educação dissociada da tecnologia. Partindo dessa premissa devemos pensar sobre o papel da tecnologia aliada a educação do campo, podendo significar para os indivíduos envolvidos nesse processo uma melhora da perspectiva de vida.

Para Luz (2009, p. 5),

A tecnologia não pode se tornar uma dificuldade na vida das pessoas, mas integrar o dia a dia da comunidade, e as barreiras que impedem o conhecimento precisam ser vencidas, possibilitando a inclusão, o ensino aprendizado tecnológico para os alunos do campo, fortalecendo a auto-estima e identidade, como sujeitos atuantes na sociedade.

Partindo de tal premissa a tecnologia inserida na educação do campo é uma grande ferramenta de fomento para o desenvolvimento e valorização desse educando na realidade de vida que se encontra inserido e mais do que tudo é um direito preconizado na Resolução CNE/CEB 1, de 3 de abril de 2002.

Por conseguinte, compreendemos que os alunos do campo têm direito a uma educação de qualidade que respeite sua realidade, mas que contemple também os conhecimentos oriundos a partir das tecnologias disponíveis na sociedade. Assim como para os alunos da zona urbana esses conhecimentos são imprescindíveis, também o são para os estudantes da zona rural diante do fato que eles precisam estar inseridos político, econômico, social e intelectualmente na sociedade da qual fazem parte, esse direito não pode ser negado a esses alunos.

A partir do momento que tais direitos não se fazem presentes na vida escolar destes educandos, eles não estarão tendo acesso a uma educação de qualidade que os possibilite efetivar um aprendizado significativo, desse modo, estarão a margem no processo educacional, o que só fará com que aumente cada vez mais a dívida que a sociedade tem para com esses indivíduos.

Na busca de efetivar a garantia desse direito a mesma resolução em seu artigo 13º normatiza sobre como devem ser elaboradas as propostas pedagógicas para a educação do campo e em seus incisos I e II expõe que:

I - estudos a respeito da diversidade e o efetivo protagonismo das crianças, dos jovens e dos adultos do campo na construção da qualidade social da vida individual e coletiva, da região, do país e do mundo; II - propostas pedagógicas que valorizem, na organização do ensino, a diversidade cultural e os processos de interação e transformação do campo, a gestão democrática, o acesso ao avanço científico e tecnológico e respectivas contribuições para a melhoria das condições de vida e a fidelidade aos princípios éticos que norteiam a convivência solidária e colaborativa nas sociedades democráticas. (BRASIL, 2002).

A proposta pedagógica deve abranger os avanços científicos e tecnológicos para vida diária dos sujeitos do campo, ou seja, deve-se relacionar a tecnologia à vida diária desses educandos. Para que tal proposta aconteça com sucesso faz-se necessário ofertar aos professores do campo uma formação continuada de qualidade que contemple também a utilização correta das tecnologias nesse processo. Essa questão da formação vem a ser de grande relevância tendo em vista que a formação acadêmica dos professores não contempla a relação entre educação e uso das tecnologias, o que vem a ocasionar grandes dificuldades para esses docentes quando se encontram em sala de aula com a necessidade de utilização de algum recurso digital que venha a auxiliar pedagogicamente o seu trabalho.

Visando auxiliar a educação no campo e por em prática o que preconiza a Resolução acima mencionada o Governo Federal implementou alguns programas, dos quais tiveram maior destaque o Pronacampo, Programa Nacional de Educação do Campo, e o Proinfo, Programa Nacional de Tecnologia Educacional.

O Pronacampo foi instituído pela Portaria nº 86, de 1º de fevereiro de 2013, objetivando implementar um conjunto de ações que apoiem os sistemas de ensino para a efetivação da política de educação do campo, tais como: melhoria na infraestrutura das escolas do campo; proporcionar formação para professores; disponibilizar e/ou melhorar o transporte escolar; distribuir material didático de qualidade e proporcionar a inclusão digital.

O Proinfo foi criado por meio da Portaria nº 522, em 09 de abril de 1997, especialmente "com a finalidade de disseminar o uso pedagógico das tecnologias de informática e telecomunicações nas escolas públicas de ensino fundamental e médio pertencentes às redes estadual e municipal".

O gráfico abaixo mostra dados do Censo Escolar de 2016 divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (INEP) e demonstra a questão do acesso à internet nas escolas brasileiras. De acordo com o este gráfico, 89,8% das escolas brasileiras estão situadas na zona urbana, sendo que mais de 80% delas possuem acesso à internet, e 10,2% na zona rural, significando que menos de 10% dessas possuem acesso à internet.

Figura 1: Escolas brasileiras com acesso à internet.


Fonte: INEP (2016).

Essa porcentagem representa cerca de 76.229 escolas do campo e dessas, conforme mencionado, apenas 9,9% possuem acesso à internet. Se compararmos essa porcentagem com a das escolas da zona urbana vemos a desproporção existente tendo em vista que chega a 85% o número de escolas da zona urbana que possuem acesso à internet (BRASIL, 2016).

Para alunos e professores dessas instituições o acesso à internet propiciaria o ingresso à muitas informações, conhecimentos, reflexões e problematizações acerca das dimensões políticas e econômicas das quais fazemos parte, ampliando seus horizontes de percepção. Poderiam também produzir conteúdos juntamente com os professores, planejar ações, aprender a buscar informações em fontes seguras se tornando construtores ativos em seu processo de ensino-aprendizagem.

Nesse contexto, teríamos produtores culturais que partiriam de sua realidade e percepções contribuindo para que a cultura do campo seja valorizada e fortalecida, fazendo com que os mesmos compreendam que o ambiente a qual pertencem tem uma enorme importância para a subsistência da sociedade.

Mesmo com a implementação dos programas apresentados acima, pesquisas do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic) demonstram uma enorme discrepância em relação ao uso das tecnologias nas escolas urbanas e rurais em nosso país. De acordo com dados coletados pelo censo em 2018 nas áreas rurais, apenas 34% das escolas possuíam ao menos um computador com acesso à Internet, enquanto cerca de 30% dos alunos que estudam em escolas localizadas em áreas urbanas não possuíam nenhum tipo de computador com acesso à internet.

Nesse sentido, podemos perceber a desigualdade não só em relação ao acesso à tecnologia, como também a distribuição de renda, diante do fato que muitos alunos da zona rural só terão acesso à um computador se o mesmo estiver disponibilizado na instituição escolar, enquanto os alunos da zona urbana têm a possibilidade de acesso à um computador fora do ambiente escolar, mesmo que seja na casa de algum vizinho ou parente, esses com certeza terão mais possibilidades de acesso a este recurso tecnológico.

Podemos perceber, diante da realidade aqui exposta, que os programas de inclusão digital já mencionados não tiveram muita eficácia e devemos nos questionar a que se propunham na verdade, diante do fato que tivemos questões políticas e econômicas envolvidas em suas construções.

Observemos agora o gráfico 2 que apresenta dados do INEP, obtidos por meio do portal QEdu, relacionados ao acesso à banda larga e energia elétrica.

Figura 2: Escolas brasileiras com acesso à banda larga e energia elétrica.


Fonte: INEP (2016).

Diante dos dados expostos acima podemos afirmar que cerca de 100% das escolas urbanas tem acesso à energia elétrica enquanto o porcentual para a zona rural é de 84%. Em relação ao acesso à banda larga, 74% das escolas da zona urbana possuem, enquanto apenas 8% das instituições da zona rural possuem esta conexão. Sendo assim, como será possível levar equipamentos antes mesmo de se ter uma estrutura adequada de acesso?

Essa falta de estrutura ocorre pelo fato das instituições rurais sempre terem sido relegadas pelas políticas públicas, o que torna a problemática de acesso as tecnologias muito mais ampla. Para que o acesso a essas tecnologias realmente tenha significado devemos ter políticas públicas de formação afirmativa em programas contínuos para promover uma apropriação crítica dos conhecimentos por meio de alunos e professores.

Deve-se pensar também na formação desses professores que atuam nas escolas rurais, diante do fato que muitos deles não possuem ao menos conhecimentos básicos para o uso de mecanismos digitais, que dirá utilizar esses equipamentos para auxílio no processo de ensino-aprendizagem.

Os projetos instituídos para as escolas do campo devem conversar com sua realidade buscando aperfeiçoá-la, não basta levar o equipamento tecnológico até a escola, aliado a isso, faz-se necessário pensar como ocorrerá esse fazer pedagógico diante das dificuldades já instauradas em cada uma das realidades dessas instituições.

Conclusão

Diante do exposto neste trabalho, podemos perceber que a tecnologia se encontra cada vez mais presente na vida das pessoas, sendo utilizada progressivamente como uma ferramenta de suporte pedagógico na imensa maioria das instituições educacionais. Contudo a realidade de acesso e uso das ferramentas tecnológicas não ocorrem de forma igualitária nas instituições educacionais urbanas e rurais no Brasil.

Essa discrepância entre escolas rurais e urbanas se dá pelo fato da educação do campo no Brasil ter passado por um logo processo até ser afirmada como algo relevante, pois a população do campo por longos anos não foi enxergada pelas políticas públicas do nosso país por se pensar que para trabalhar no campo não se fazia necessário conhecimento oriundo das instituições escolares.

Com o passar do tempo e com muitas lutas protagonizadas principalmente pelo MST e a CUT começou a ocorrer um processo de ressignificação sobre as necessidades dos indivíduos que vivem no campo incluindo as discussões sobre as questões educacionais. Buscando garantir e normatizar os direitos a educação da população do campo resoluções e programas foram criados.

Contudo, tais programas não deram conta de sanar a dificuldade de inserção das tecnologias nas escolas do campo. Temos algumas comunidades rurais em nosso país que não possui acesso ao básico como redes de água e esgoto e energia elétrica. Diante desse fato, a inserção da tecnologia nas escolas do campo deve vir acompanhada de políticas públicas que garantam também o mínimo necessário para que essas populações possam ter todos os seus direitos garantidos.

A quantidade de escolas do campo que possui acesso a internet representa um número irrisório em relação as escolas urbanas. Em muitas dessas instituições até chegaram alguns equipamentos por meio dos programas já mencionados, todavia muitos professores não possuem conhecimentos básicos para o uso de mecanismos digitais, que dirá utilizar esses equipamentos para auxílio no processo de ensino-aprendizagem dos alunos do campo onde os projetos educacionais instituídos de forma nacional não conversam com tal realidade.

Sendo assim, percebemos que os problemas acerca da utilização e do acesso da tecnologia em escolas do campo é muito mais amplo abrindo caminho para novas pesquisas, incluindo outros programas relacionados a inserção das tecnologias no processo de ensino que podem vir a corroborar para uma melhor compreensão e levantamento de possíveis soluções para tal problemática.

Referências

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