Storytelling em Cursos EAD: O uso de Estratégias de Narrativa para o engajamento de estudantes¶
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Autores
Especialista em Tecnologias e Educação Aberta e Digital (UFRB - UAb Portugal). Licenciada em Letras Vernáculas e Língua Estrangeira Moderna – Inglês (UFBA). E-mail: ribeirofcarvalho@gmail.com.
Doutoranda em Literatura e Cultura (UFBA). Mestra em Letras (UFBA). Especialista em Metodologia do ensino de Língua Portuguesa (Unyleya). Graduação em Letras Vernáculas - Língua Estrangeira (UFBA). Membro do grupo de pesquisa NEAI (UFBA). E-mail: jms.educadora@gmail.com.
Resumo: Uma forte tendência para o Ensino a Distância (EaD) está relacionada ao uso de estratégias de narrativa, especialmente o Storytelling, cujo propósito na área de marketing é prender a atenção do público, o qual no ambiente educacional serão os estudantes. Este artigo tem por objetivo avaliar os benefícios do uso do Storytelling na produção de conteúdo educacional voltado ao Ensino a Distância, através da identificação de características e vantagens desta estratégia, de modo a compreender como elementos de narrativa podem promover engajamento dos alunos e tornar mais atrativa a experiência em ambiente virtual de aprendizagem. A metodologia de investigação é pautada em pesquisa qualitativa, com natureza de pesquisa básica e tipologia exploratória. O procedimento de coleta de dados utilizado foi a pesquisa bibliográfica, mediante revisão de literatura, cujo foco foram as publicações brasileiras dos últimos cinco anos (2015-2020). Os resultados do estudo apontam que, apesar da carência de estudos sobre a utilização do Storytelling na Educação, o emprego desta estratégia no processo didático-pedagógico oferece diversos benefícios para elaboração de conteúdo educacional na modalidade EaD, uma vez que faz uso de uma gama de técnicas com fins de atrair e reter a atenção dos estudantes, algo essencial no cenário educacional contemporâneo e um dos maiores desafios do Ensino a Distância.
Palavras-chave: Storytelling. Narrativa. Educação a Distância. Ensino a Distância.
Introdução¶
Um dos desafios do Ensino a Distância é motivar os estudantes a participarem de maneira ativa do processo de ensino-aprendizagem, uma vez que muitos deles acabam por se sentir desmotivados e, até mesmo, por uma questão cultural, tendem a assumir uma postura bastante passiva nos ambientes virtuais de aprendizagem.
Considerando a influência da distância física e outras possíveis dificuldades encontradas pelos alunos durante o percurso da aprendizagem on-line, seja de ordem tecnológica ou comportamental, se faz necessário utilizar estratégias para que o estudante sinta-se envolvido com o percurso e tenha sua atenção voltada aos conteúdos e atividades propostas no projeto pedagógico do curso.
Com o objetivo de promover o almejado engajamento dos alunos, diversas técnicas vêm sendo utilizadas pelos profissionais de Ensino a Distância. Dentre as mais promissoras destaca-se o Storytelling, uma forte tendência bastante difundida na área de marketing, que visa prender atenção do público por meio de estratégias de narrativas.
O Storytelling ganhou popularidade e se expandiu às mais diversas áreas que dependem do engajamento do público, inclusive a Educação, cujo público-alvo são os estudantes.
Produzir conteúdo pedagógico envolvente na era digital significa, muitas vezes, se valer de uma infinidade de ferramentas tecnológicas aliadas a um projeto pedagógico eficaz, e o uso de estratégias de narrativa colabora para que a jornada de aprendizagem seja mais cativante e fluida para o estudante do EaD, o que potencializa e estrutura narrativas baseadas no uso de diversas mídias digitais.
Assim, considerando que Storytelling pode ser uma grande estratégia para a produção de conteúdo em cursos EAD, dado ao seu potencial engajador, é necessária uma investigação quanto a suas características, vantagens e desvantagens para o fazer educativo na era digital. Surge então a problemática: de que maneira a aplicação da estratégia Storytelling pode promover maior engajamento e protagonismo dos estudantes de cursos da modalidade EaD?
Dessa forma, este trabalho tem como objetivo geral avaliar os benefícios da utilização do Storytelling na produção de conteúdo educacional voltado ao Ensino a Distância. Os objetivos específicos são: identificar as características e as vantagens do Storytelling na produção de conteúdo educacional em cursos EaD; verificar como os elementos da narrativa podem influenciar no comportamento dos estudantes desta modalidade de modo a favorecer uma participação mais ativa; e analisar de que maneira o uso de Storytelling pode tornar a experiência em ambiente virtual de aprendizagem mais interessante para os estudantes.
Sob a finalidade de alcançar os objetivos traçados, foi realizada uma pesquisa qualitativa, com natureza de pesquisa básica e tipologia exploratória. O procedimento de coleta de dados aplicado foi a pesquisa bibliográfica, através de revisão de literatura, com busca de informações e conhecimentos prévios de textos teóricos relevantes para o estudo em questão. Além das principais bases teóricas tradicionais, a pesquisa teve como foco as publicações brasileiras dos últimos cinco anos (2015-2020), com base na busca das palavras-chave storytelling, storytelling na EaD, storytelling na Educação, narrativa de cursos EaD, storytelling digital, transmedia storytelling, engajamento estudantes EaD. As referências teóricas publicadas foram coletadas prioritariamente nas bases de dados: Scielo (Scientific Electronic Library Online), Portal Domínio Público, Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) e Google Scholar (Google Acadêmico).
Sem dúvida as narrativas que permeiam o cotidiano de hoje mudaram bastante com as mídias digitais, dessa forma, a narrativa dos estudantes também não é mais a mesma, sobretudo no ambiente virtual. Há que se atentar para a urgência de adequar as narrativas do conteúdo educacional à realidade deste novo estudante, que muitas vezes é um nativo digital, de modo a envolvê-lo no fazer educacional como protagonista, e assim promover sua autonomia e disciplina.
Sendo assim, o artigo apresentará na próxima seção OS DESAFIOS DO ENSINO A DISTÂNCIA, item que abordará algumas barreiras a serem vencidas no ensino on-line e necessidade de uma abordagem mais atrativa, como as soluções que envolvem a narrativa, tema que é trabalhado na sequência, na seção intitulada O PAPEL DA NARRATIVA. Na seção sobre STORYTELLING será realizado estudo mais detalhado sobre o conceito de Storytelling e as principais características desta estratégia aplicada na modalidade EaD: estrutura, elementos fundamentais, audiência, hipermídia e recursos tecnológicos, linguagem e conteúdo e interação. Nas CONSIDERAÇÕES FINAIS serão apontadas as conclusões alcançadas em resposta aos questionamentos levantados.
Os desafios do ensino a distância¶
O Ensino a Distância é uma modalidade de ensino que tem se expandido cada vez mais rápido no cenário atual, uma vez que as demandas do contexto mundial exigem novas situações de aprendizagem. O acesso ao conhecimento foi ampliado com as novas tecnologias de informação e comunicação, transpondo as barreiras do tempo e do espaço físico, de modo a favorecer o fazer educacional on-line.
O distanciamento geográfico, característico do EaD, pode trazer como consequência certo "isolamento pedagógico", termo apresentado por Moore (2002, p. 2) ao discorrer sobre tal separação que afeta o processo de ensino-aprendizagem:
A transação a que denominamos Educação a Distância ocorre entre professores e alunos num ambiente que possui como característica especial a separação entre alunos e professores. Esta separação conduz a padrões especiais de comportamento de alunos e professores. A separação entre alunos e professores afeta profundamente tanto o ensino quanto a aprendizagem. Com a separação surge um espaço psicológico e comunicacional a ser transposto, um espaço de potenciais mal-entendidos entre as intervenções do instrutor e as do aluno. Este espaço psicológico e comunicacional é a distância transacional. (MOORE, 2002, p. 2)
Portanto, um dos maiores desafios para os envolvidos no Ensino a Distância é transpor esse espaço psicológico e comunicacional, por meio de estratégias que promovam diálogo e interação entre professores e alunos, o que diminui a distância transacional.
Outro desafio do EaD está relacionado com a reconfiguração dos papéis dos atores envolvidos no fazer educativo, afinal de contas, a tradição pedagógica baseada na transmissão de conhecimentos e centrada no professor já não atende às expectativas da sociedade contemporânea, a qual exige indivíduos cada vez mais ativos, autônomos e engajados. Assim, alunos oriundos dessa cultura da passividade e dependência do professor podem enfrentar dificuldades ao ingressar em cursos EaD, pois, para que o estudante tenha sucesso nesta modalidade é ideal que ele tenha como algumas de suas habilidades a autonomia e a capacidade de participar ativamente do fazer educacional.
Paulo Freire (2000, p. 25) observa que "a autonomia do ser é um princípio que se constitui como fundamental à prática educativa". No entanto, para ser autônomo, o estudante necessita estar engajado com o seu fazer educativo, engajamento este que tem sido fator de grande relevância para o desempenho do discente na modalidade on-line.
Em meio às diversas possibilidades de conexão com websites, games e redes sociais bastante atrativas, talvez o maior desafio do EaD seja atrair a atenção deste aluno tão disperso (e ao mesmo tempo tão conectado) e envolvê-lo no processo educacional.
No entanto, apesar de trazer dispersão, a conectividade também pode ser utilizada como embasamento para o desenvolvimento de um projeto pedagógico envolvente e alinhado com as novas demandas da era digital. Assumindo o papel de mediador pedagógico, o professor será aquele que irá se valer de diversas tecnologias e estratégias midiáticas para auxiliar os estudantes a aprender.
Além da utilização de recursos tecnológicos, a mediação e o conteúdo educacional em EaD serão peças decisivas para promoção do engajamento estudantil, afinal, quanto mais tradicional e conteudista for o projeto pedagógico maior será o distanciamento entre professor e aluno. Por outro lado, uma abordagem atrativa é capaz de reduzir distâncias, tornar o ambiente de aprendizagem mais envolvente e promover uma aprendizagem mais efetiva.
O papel da narrativa¶
Como forma de despertar a atenção das pessoas e promover conceitos e informações, profissionais de diversas áreas têm utilizado estratégias baseadas em narrativas, embasados na compreensão de que o ato de contar histórias é a essência da comunicação, "gera ignição entre emissor e receptor, e transforma os mais áridos ambientes, gerando corpo e alma com a humanização" (PALACIOS & TERENZZO, 2016, p. 30).
Decerto a narrativa tem importante papel na história da humanidade, antes mesmo de existir a escrita, através da oralidade, era possível transmitir ensinamentos e propagar a cultura geração após geração. Acerca da narrativa e sua forte presença nas nossas vidas, Roland Barthes (1971, p. 20) salienta que:
A narrativa está presente em todos os lugares, em todas as sociedades; não há, em parte alguma, povo algum sem narrativa; todas as classes, todos os grupos humanos têm suas narrativas, e freqüentemente estas narrativas são apreciadas por homens de cultura diferente, e mesmo oposta: a narrativa ridiculariza a boa e a má literatura: internacional, transhistórica, transcultural, a narrativa está aí, com a vida. (BARTHES, 1971, p. 20)
Com o crescimento do uso das novas tecnologias, a narrativa é potencializada, o que possibilita uma infinidade de recursos multimídia capazes de melhorar a comunicação, como afirma Alismail (2015, p. 128):
Multimídia é uma ferramenta poderosa e benéfica para ensinar os alunos, e os educadores devem esforçar-se para encontrar múltiplas maneiras de integrá-la à sala de aula e às tarefas. Mais especificamente, a ferramenta tecnológica da narrativa digital é especialmente mais efetiva no desenvolvimento de habilidades acadêmicas e na motivação dos estudantes. (...) A narrativa digital promove uma maneira real de ajudar professores e estudantes a aprender a aplicar tecnologia efetivamente dentro e fora da sala de aula. (ALISMAIL, 2015, p. 128, tradução nossa)
Para além de uma narrativa tradicional, narrar histórias na era digital possibilita aos professores e estudantes um ambiente com um leque muito maior de oportunidades:
Com o uso de uma ferramenta tradicional, como um livro impresso, o storytelling não é hipermidiático, ou seja, não se associa aos hipertextos, não é fluido, mas sim linear, de estrutura fixa. Entretanto, com as TICs e as hipermídias, o meio digital é um espaço de infindáveis possibilidades para o storytelling. (TAVARES, 2016, p. 21)
Assim, há uma diversidade de ferramentas tecnológicas que podem ser utilizadas por professores e estudantes para enriquecer a narrativa multimídia, além de estabelecer conexões e reflexões que favoreçam a aprendizagem.
Contar histórias na era digital também pode ter um alcance bem maior devido à pluralidade de ambientes virtuais onde as pessoas podem publicar suas histórias e compartilhar suas criações, seja em plataformas de vídeo ou redes sociais. Dessa forma, aproveitando as infinitas funcionalidades dos novos recursos e mídias digitais, o universo narrativo ganha amplitude, pois permite conectar múltiplos canais de mídia, cada um com seu papel distinto, na construção da narrativa transmídia, termo utilizado por Henry Jenkins (2009):
Na forma ideal da narrativa transmídia, cada meio faz o que faz melhor, uma história pode ser iniciada por um filme, expandir-se através da televisão, livros e quadrinhos, e seu mundo pode ser explorado e vivenciado em um game. Cada entrada da franquia deve ser autossuficiente o bastante para permitir o fruir autônomo. Ou seja, você não precisa ter visto o filme para desfrutar do game e vice-versa. (JENKINS, 2009, p.108)
Os estudos de Jenkins acerca da narrativa transmídia foram posteriormente analisados por Thiago Mittermayer (2017):
A narrativa passou a adquirir a faculdade "trans", saltando de uma mídia para a outra e se transmutando nessas passagens de acordo com aquilo que cada mídia oferece de si mesma, aquilo que ela pode fazer melhor. Portanto, o grande sucesso alcançado pelas ideias de Jenkins não se deve ao acaso, mas sim ao fato de ter colhido o pássaro no movimento do seu voo. As mídias em pleno voo. (MITTERMAYER, 2017, p. 5)
Esta relação entre narrativas e mídias tornou-se tendência e revela o efeito positivo que as tecnologias trouxeram para a construção narrativa e, consequentemente, a representação de informações e conhecimentos.
Neste contexto, considerando a forte presença da narrativa na contemporaneidade e seu potencial engajador, diversas áreas, cuja atenção das pessoas é fundamental para seu sucesso, se valem de uma estratégia promissora: o Storytelling.
Storytelling é uma palavra de língua inglesa que, em tradução livre, significa "contação de histórias". No âmbito do estudo aqui apresentado, partiremos dos conceitos apresentados por Fernando Palacios (2016):
O storytelling é o simples ato de contar histórias, já Storytelling - escrito assim, com letra maiúscula - é a habilidade de saber encontrar ou criar histórias fabulosas, com propósitos épicos e contá-las de forma fantástica. (PALACIOS, 2016, p. 36).
De acordo com o autor, o Storytelling pode ser um conceito muito mais amplo, considerando os pressupostos da área da comunicação, os quais o reconhecem como uma técnica que pode trazer resultados surpreendentes para o envolvimento do público-alvo, assim como afirma Tavares (2016):
É por meio das histórias que construímos e transmitimos nossos valores e conhecimentos. Diariamente buscamos saciar esse ímpeto: assistimos vídeos na internet, filmes, seriados, lemos livros, blogs, nos entretemos com jogos digitais ou conversamos com amigos e familiares, compartilhando nossos pensamentos, nosso dia-a-dia. Somos entusiastas de histórias, em suas diversas formas. (TAVARES, 2016, p. 5)
Através do Storytelling é possível contar, desenvolver e adaptar histórias utilizando elementos de narrativa. Palacios & Terenzzo (2016, p. 64) afirmam que "uma história bem contada interage com a emoção das pessoas", pois cria uma conexão com o leitor e desperta sentimentos diversos, como felicidade, medo, curiosidade, tristeza e compaixão. Uma "boa história" tem a capacidade de "conectar os pontos, costurar ideias, ações, temas e personagens de um jeito atraente, unindo, dessa forma, cérebro e coração, razão e emoção" (DINIZ, 2018).
No contexto educacional, esse caráter emocional traz humanização para a comunicação, cria empatia e gera motivação.
Tudo o que mobiliza e gera uma ação é decorrente de uma emoção. A nossa capacidade de indignação, de solidariedade, a coragem para contestar, a determinação para se posicionar, tudo isso nasce no campo da emocionalidade. [...] a emoção pode ajudar no fortalecimento e na libertação das pessoas, já que a tão almejada autonomia não é só da ordem cognitiva: é preciso sentir para se emancipar. (GONSALVES & LIMA, 2015, p. 96).
Dentre os diversos benefícios do Storytelling, a emoção, devido a sua capacidade de mover e gerar, como menciona Gonsalves & Lima (2015), é uma característica que carrega consigo tantos outros benefícios associados a ela, como a identificação, aproximação, autonomia e, consequentemente, a atenção dos alunos.
Outra vantagem bastante significativa do uso de estratégias de narrativa na Educação está relacionada à facilidade de representar conhecimentos através de enredos com situações reais, capazes de trazer maior contextualização e aplicabilidade dos tópicos educacionais apresentados. Como afirma Matthews-Denatale (2008, p. 2, tradução nossa), "o storytelling e a aprendizagem estão interligados, porque o processo de composição de uma história é também um processo de construção de significado", o qual ganha vida com a capacidade ilustrativa das histórias:
As histórias não funcionam apenas como narrativas; elas também podem ser utilizadas para ilustrar processos científicos ou matemáticos. Tomemos por exemplo a diferença entre aprender uma fórmula e a habilidade de resolver um problema no contexto de um problema da vida real. Histórias dão vida à informação, conhecimento e verdade. (TEACHTHOUGHT STAFF, 2018, tradução nossa)
Muitos professores utilizam estratégias de trazer exemplos, histórias e alusões para ilustrar alguns conceitos em suas aulas ou conteúdos educacionais, no entanto, o Storytelling vai além da contação de histórias ou exemplificação, pois se vale de estratégias de narrativa, e produz um enredo para o projeto pedagógico do curso ou disciplina ministrada, de modo que haja uma coerência e coesão dos tópicos abordados e atividades desenvolvidas ao longo do processo.
Ganhando espaço em diversas áreas, o Storytelling, aliado à Educação, surge como uma estratégia promissora no processo de ensino-aprendizagem, conforme afirma TAVARES e RIBEIRO (2016):
É importante realçar o potencial do storytelling como ferramenta, como veículo, como meio de representação de informações e de formular pensamentos que visam a agregar valor às técnicas e atividades, e todas as suas possibilidades latentes que tornam-se cada vez mais evidentes aliadas em um universo informacional sujeito à mudanças. (TAVARES e RIBEIRO, 2016, p. 101)
De modo a compreender os benefícios desta estratégia para o EaD, com base na revisão de literatura sobre o tema, apresentaremos em tópicos algumas informações sobre etapas, elementos e características fundamentais para uso do Storytelling enquanto estratégia educacional.
Estrutura¶
A construção de uma narrativa é constituída de introdução, desenvolvimento e conclusão. Já na aplicação do Storytelling na Educação é utilizada estrutura semelhante, como a apresenta a plataforma EaD Hotmart (2019), uma das poucas referências na web que propõe algumas técnicas para o uso desta estratégia no ensino on-line:
Introdução: tópico que serão apresentados elementos como personagens, contexto (tempo e espaço). Neste momento será mostrado também o problema (desafio ou destino);
Desenvolvimento: são expressos os conflitos ou recusa ao chamado do personagem principal que o conduz até o clímax da narrativa.
Call to Action: termo de língua inglesa oriundo da área de marketing que significa "chamada para ação". Para a estratégia Storytelling é a etapa em que você deve informar ao público "qual ação você espera que ele realize". Em cursos on-line pode ser aplicado nas tarefas ao final de cada conteúdo apresentado, ou mesmo um trabalho de conclusão do curso.
Palacios & Terenzzo (2016) chamam a atenção para a possibilidade de encerrar o assunto e "deixar espaço para novas conversas", como uma forma de gerar continuidade para novos módulos ou cursos.
Lição: aprendizado final alcançado pelo público, a partir da vivência experimentada pelo protagonista.
Elementos Fundamentais¶
Palacios & Terenzzo (2016) apresentam os elementos que consideram fundamentais para o Storytelling:
Protagonismo -- Toda história requer personagens e "desses, um vai se destacar e será o veículo capaz de pegar quem estiver atento pelas mãos e conduzir pela narrativa, até mergulhar completamente naquele universo" (PALACIOS & TERENZZO, 2016, p. 115). No universo do EaD, especialmente, a utilização de personagens cria identificação e aproximação com os alunos, o que ajuda a reduzir distâncias e atrair a atenção. É possível através de personagens reais trazer exemplos de aplicabilidade do conteúdo, como o seu vizinho Gilson que começou a trabalhar em uma empresa na área administrativa e, após ter enviado um e-mail para seu chefe, o mesmo o alertou para que o mesmo revisasse seu texto, considerando a "netiqueta".
Tensão -- Partindo do exemplo anterior, a tensão acontece quando Gilson recebe a informação do seu chefe, pois sequer sabia o que era "netiqueta" e precisava revisar o texto. Ele tem um problema e precisa tomar uma atitude, "se o protagonista não tomar atitudes, nada vai acontecer e não existe história" (PALACIOS & TERENZZO, 2016, p. 102). No ambiente educacional, este exemplo, se bem conduzido, pode ser uma forma de motivar o aluno a desenvolver estratégias para sanar um problema real.
Ensinamento -- é a etapa "lição" mencionada pela Hotmart (2019), a qual o protagonista aprende para ser bem-sucedido e conseguir atingir seu objetivo. O momento que o protagonista entende o ensinamento é ideal para que seja transmitida a informação mais importante da narrativa.
Significado -- "a função da narrativa é ordenar o caos do mundo e das mentes para que ela faça sentido", afirmam Palacios & Terenzzo (2016, p. 103), que também salientam a importância de argumentos e ideias opostas para organização do enredo em prol de um sentido. Cognitivamente, apresentar conceitos e ideais opostos permite que o estudante faça conexões que facilitem sua aprendizagem, o que favorece a transmissão efetiva do conhecimento.
Verdade Humana -- Segundo Palacios & Terenzzo (2018, p. 103), este conceito "diz respeito àquilo que faz sentido porque faz sentir. Esse fator se refere à crença de que, no fundo, somos todos muito parecidos". Na Educação está relacionado à utilização de breves relatos da vida real, e procura gerar identificação, tais como situações em que de fato o uso do conhecimento abordado no curso pode ter feito diferença na vida do professor, por exemplo, ou como a aplicabilidade de determinada teoria pode ter parecido duvidosa a ele e o percurso percorrido por ele para chegar a dada conclusão.
Audiência¶
Quando pensamos no termo audiência associamos com as áreas de marketing, entretenimento ou negócios, no entanto, conhecer o público é algo fundamental também à área de Educação e faz parte das técnicas para aplicar Storytelling em cursos on-line.
O novo educador precisa conhecer seu público, pois para engajar estudantes é necessário saber mais sobre seus interesses, os produtos culturais que consomem diariamente e o que os motiva a aprender. Ao compreender, por exemplo, quais produções midiáticas são interessantes aos alunos, o professor poderá incluir na sua narrativa educacional as personagens e referências destes produtos, e tornar assim o ensino mais próximo da realidade deles.
Entende-se que o educador, assim como o designer, é um comunicador que precisa buscar as melhores maneiras de apresentar uma informação. No contexto educacional, o conteúdo precisa ser transmitido de maneira inteligível ao aluno, para que a comunicação, logo, o possível aprendizado, efetivamente aconteça. (TAVARES, 2016, p. 16)
Como afirma Tavares (2016), faz parte da tarefa do professor apresentar-se inteligível ao aluno, o que exige planejamento para compreender o universo deste estudante e, desse modo, envolvê-lo ao longo do percurso educacional.
Hipermídia e recursos tecnológicos¶
Utilizar recursos tecnológicos e hipermídia é parte da técnica de Storytelling, pois permite atrair a atenção do aluno enriquecendo a narrativa apresentada ao longo do curso. A combinação de boas histórias com recursos digitais pode trazer grandes benefícios para a Educação.
A tecnologia não deve ser a base de uma boa narrativa em cursos EaD, mas funcionar de maneira complementar para construção de sentidos e engajamento de estudantes. Acrescentar áudio ou trilha sonora, vídeos, imagens e elementos de design promove maior imersão através dos sentidos e consolidação das ideias e conceitos apresentados.
Linguagem e conteúdo¶
Considerando o perfil da audiência em cursos EaD, ou seja, os alunos da era digital, sabemos que teremos variantes quanto ao comportamento e preferências, mas há uma forte tendência no comportamento dos estudantes: são pessoas bem informadas e precisam de algo além do básico para se sentirem envolvidas durante o percurso pedagógico.
Uma narrativa educacional bem elaborada funciona como uma boa história, pois conecta e contextualiza diferentes conhecimentos, tornando-os mais interessantes e envolventes para os alunos e os incentiva a participar ativamente da experiência educativa.
Aplicar Storytelling ao ensino on-line inclui atentar para o conteúdo, a linguagem e abordagem pedagógica, já que precisarão ter elementos capazes de cativar a atenção dos alunos.
Dessa forma, o material didático a ser utilizado precisa ser planejado de modo que esteja alinhado com a narrativa proposta ao longo do curso, além de traçar conexões e um contínuo entre personagens e cenários presentes na trajetória.
Ademais, a abordagem utilizada no ambiente virtual deve facilitar a navegação e compreensão dos conteúdos e tarefas a serem seguidas durante o curso. Portanto, para uma comunicação bem-sucedida e, consequentemente, aplicação adequada de Storytelling, a clareza da linguagem é um fator relevante:
A elaboração de materiais didáticos para EaD requer o uso de uma linguagem amigável, clara e concisa, em tom de conversação, para que o aluno, apesar da distância física, possa "sentir" a presença do professor. Sempre que possível, a escrita e a oralidade devem dirigir-se diretamente ao aluno, no intuito de envolvê-lo e fazê-lo sentir e pensar como interlocutor do material, e, por fim, sugerir clareza e simplicidade, de maneira a facilitar a identificação dos elementos mais importantes que se está querendo que o aluno aprenda. (LIMA & SANTOS, 2017, p. 117)
Ainda sobre a elaboração de material didático, Rosalin et al (2017) corroboram com as ideias apresentadas por Lima & Santos (2017) e ainda apresentam o potencial engajador de uma abordagem adequadamente planejada:
Dessa forma, o material didático oferecido deve enfatizar a reflexão, o desenvolvimento da autonomia e a construção do conhecimento. Necessita, sobretudo, de viabilizar a interação entre os alunos e alunos e professores. Precisa ser pensado e produzido, visando estimular o aluno a ser agente de seu próprio saber. (ROSALIN et al, 2017, p. 816)
Interação¶
A interação é um fator relevante na utilização do Storytelling. Por meio da narrativa é possível promover interação aplicando ferramentas tecnológicas e técnicas aliadas, como apresenta Lima & Santos (2017):
Mais importante que apresentar os conteúdos de um curso em seu material didático é oferecer aportes teóricos e estratégias metodológicas, em uma perspectiva interativa, que motive o aluno à busca de conhecimentos e que o estimule a resolver os desafios que lhes são propostos, possibilitando, assim, o desenvolvimento de competências que permitam uma formação profissional e humanística. (LIMA & SANTOS, 2017, p. 115)
Uma vez que permite criar conexões com o público, o Storytelling tem se revelado "muito útil para melhorar qualquer interação em que haja a necessidade de criar algum tipo de laço ou promover engajamento, como na relação entre professor e aluno" (HOTMART, 2019), pois facilita o entendimento e a troca de conhecimento entre as pessoas.
No ambiente virtual de aprendizagem (AVA), existem recursos positivos para a interação em cursos EaD, como chat, fórum e videoconferências, os quais podem ser utilizados para criar infinitas histórias, especialmente de maneira colaborativa.
Há ainda outros recursos externos ao AVA como uso de redes sociais e jogos digitais, os quais, se bem coordenados com o projeto pedagógico do curso, podem gerar aproximação entre os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, o que favorece o engajamento dos estudantes.
Outra técnica interessante para aliar ao Storytelling é a Gamificação, "uma técnica de incorporar jogos no ambiente educativo" (GOMES, 2019) com o propósito de engajar estudantes, que pode ser utilizada em cursos na modalidade on-line de modo a "despertar interesse, aumentar a participação, desenvolver criatividade e autonomia, promover diálogo e resolver situações-problema" (LORENZONI, 2016).
Um dos grandes benefícios da gamificação é que ela não necessariamente necessita de recursos tecnológicos para ser aplicada, já que alguns de seus conceitos se baseiam em construções de narrativas, personagens e desafios que podem estar dentro da sua história, e trazer interação entre usuários e o conteúdo apresentado.
Considerações Finais¶
A partir da revisão de literatura a que se propõe este artigo, apesar do grande número de publicações sobre o uso do Storytelling em diversas áreas interessadas em cativar a atenção do público, verificamos certa carência de estudos sobre o uso desta estratégia na Educação, seja no ensino presencial ou no ensino a distância. Dentre os poucos estudos disponíveis, nota-se que há diversos estudos sobre o uso do termo Storytelling associado a "contação de histórias", no âmbito da Educação Infantil, ou como recurso pedagógico, como no ensino de técnicas de roteirização hipermidiática de histórias digitais criadas pelos alunos nas aulas de produção textual.
Entretanto, apesar do potencial do Storytelling enquanto estratégia no processo didático-pedagógico para elaboração de conteúdo educacional na modalidade EaD, entendemos que ainda serão necessários estudos mais significativos sobre o uso desse método e sua capacidade de representação do conhecimento no desenvolvimento de propostas pedagógicas e materiais didáticos.
Com base na investigação dos trabalhos selecionados, verificou-se que o Storytelling pode trazer benefícios para o fazer educativo na modalidade on-line, uma vez que faz uso de uma gama de técnicas com fins de atrair e reter a atenção dos estudantes, algo essencial no cenário educacional contemporâneo e um dos maiores desafios do ensino EaD. Dentre os principais benefícios mencionados ao longo deste trabalho estão: a capacidade de gerar identificação, conexão emocional, sensação de pertencimento e aproximação; despertar imaginação; promover autonomia, interação e engajamento.
A narrativa dos conteúdos de cursos EAD pode motivar alunos a terem um papel mais ativo e autônomo no processo de ensino-aprendizagem, pois um enredo educativo bem elaborado é capaz de tornar o ensino mais envolvente e, portanto, tornar os estudantes mais conectados e engajados com o fazer educativo.
O uso de S*torytelling* no desenvolvimento de conteúdo educacional pode tornar a experiência em AVA mais interessante, como pudemos notar, pois os elementos de narrativa aliados aos diversos recursos tecnológicos de hipermídia tornam o ambiente mais atrativo.
Dessa forma, é necessário refletir sobre a dinâmica do contexto atual, seja através do uso de ferramentas tecnológicas ou se valendo de novas formas de abordagem pedagógica. É urgente a renovação do fazer educativo, de modo a trazer nova perspectiva para todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.
Referências¶
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