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Redes Sociais na Internet: Seu Potencial Socioeducativo no Processo de Ensino-Aprendizagem

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Autores

Especialista em Tecnologias e Educação Aberta e Digital (UFRB - UAb Portugal). Graduada em Pedagogia (UNEB). E-mail: rosane.uneb@hotmail.com.

Doutora em Sociologia - especialidade em Educação, Comunicação e Cultura (ISCTE-IUL). Mestre em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação (ISCTE-IUL). Licenciada em Sociologia (ISCTE-IUL). Professora Auxiliar da Universidade Aberta, Departamento de Educação e Ensino a Distância. E-mail: susana.henriques@uab.pt.

Resumo: O presente artigo expõe reflexões acerca da análise realizada sobre o potencial educativo das redes sociais na internet, considerando as múltiplas funções que este ambiente promove para os usuários. Para tanto, o artigo baseia-se numa perspectiva na qual o sujeito é visualizado como receptor e autor de informações, com o intuito na disseminação e na democratização do conhecimento. A priori, serão expostas de modo sintético algumas distinções de 'sociedades'. Por conseguinte, a pesquisa traz considerações em relação às redes sociais com vista à aprendizagem e à possível transformação no trabalho docente diante desse cenário. O estudo conclui que essa é uma discussão importante, pois amplia o olhar sobre as potencialidades da rede, de modo a atribuir-lhe sentido dentro e fora do ambiente virtual, destacando que, na atual conjuntura social, o homem só se faz livre por meio do domínio das informações. E dominar implica fazer uso consciente, para que a informação se torne conhecimento.

Palavras-chaves: Conhecimento. Educação. Internet. Ensino-aprendizagem.

Introdução

As transformações tecnológicas pelas quais o mundo atual vem passando impõem a necessidade de se redimensionar práticas desenvolvidas ante a modernidade. A presença intensa dos computadores e das telecomunicações é global e pode ser percebida em diferentes esferas: trabalho, lazer, educação, economia. As chamadas 'Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação' (TDICs) aliadas ao desenvolvimento da internet assumem um papel estratégico, e principal, permitindo a dissociação do tempo e do lugar geográfico das atividades humanas.

O presente estudo, que possui como procedimento técnico a pesquisa bibliográfica segundo Gil (2008), terá seu alicerce em materiais já elaborados, constituídos principalmente de artigos científicos e de livros, com o objetivo de refletir sobre as Redes Sociais na Internet e o seu potencial socioeducativo.

Com as tecnologias da informação e da comunicação, há novas possibilidades ao diálogo, à troca, ao ouvir o outro, à diversidade, contribuindo para a autonomia e para a liberdade de expressão, ampliando horizontes de ação e de reflexão. Nesse contexto, Lévy (1999) considera a internet como um agente humanizador (porque democratiza a informação) e humanitário (porque permite a valorização das competências individuais e a defesa dos interesses das minorias).

Longe de estabelecer uma 'adoração' às TDICs, devemos utilizá-las a nosso benefício de modo funcional e consciente. Não se pretende aqui criar uma 'receita' ou discorrer acerca das possibilidades das TDICs direcionadas a áreas diversas, mas propor uma reflexão em torno disso. Assim, partiremos da seguinte inquietação: Como as redes sociais na internet podem contribuir para uma educação mais significativa e transformadora? De fato, abriremos uma discussão, para que, a partir das linhas que se seguem, possamos endereçar realmente a tecnologia a serviço da aprendizagem humana, evitando que dela o indivíduo se torne um escravo ou um reprodutor de ações tecnologicamente inconscientes.

De início, serão apresentadas as transformações que ocorreram e que ocorrem no meio social, político e econômico relacionadas à emergência da tecnologia e às 'sociedades' que emergiram a partir dela. Será discutido o papel das redes sociais no atual contexto socioeducativo. Finalmente, trataremos de que forma os indivíduos podem aprender nessas redes e o que muda (ou deve mudar) no trabalho docente ao fomentar o uso da tecnologia no ambiente escolar.

Sendo assim, a pesquisa realizada para desenvolver este artigo pode ser classificada como qualitativa e descritiva. Isto porque houve observação e coleta de dados bibliográficos, registro, análise e uma possível correlação com aspectos que envolvem fenômenos ou fatos, sem alterá-los.

A pesquisa se desenvolveu basicamente em dois momentos. Primeiro momento: 'Seleção bibliográfica', no qual ocorreram leituras que puderam ser utilizadas durante a elaboração do projeto de pesquisa e, posteriormente, para a conclusão da mesma. Segundo momento: 'Reflexão e registro', no qual ocorreu a decodificação reflexiva do que foi visualizado e pesquisado, a fim de desenvolver o arcabouço do presente trabalho de conclusão de curso.

É importante ressaltar, ainda, que o presente artigo não exclui outras perspectivas a serem analisadas/registradas em trabalhos científicos acerca dessa temática. De tal forma, almejamos promover uma discussão a respeito do potencial das Redes Sociais na internet como fomento a uma educação transformadora, com o propósito de que os educandos possam se constituir como verdadeiros protagonistas sociais e não como meros compartilhadores de informações.

Start da(s) sociedade(s) conectada(s)

A partir do século XX, um cenário social tem sido desenvolvido. Este, por sua vez, marcado pela inovação tecnológica, propicia a realização de novos artigos, serviços, planejamentos e uma 'nova' forma de organização social.

Relembrando um pouco a nossa história, podemos perceber que passamos por diferentes Sociedades: Medieval, Feudal, Industrial. Para nomear a sociedade atual, diferentes teóricos percebem e caracterizam-na de maneiras distintas: Sociedade da Informação, Sociedade(s) do Conhecimento, Sociedade da Aprendizagem, Sociedade Tecnológica. Nos parágrafos que se seguem, trataremos brevemente sobre cada uma destas nomenclaturas.

Sociedade Tecnológica

Ao realizar estudos sobre a Sociedade Tecnológica, percebemos uma severa crítica a esta e um paradoxo vivido pela (na) mesma. Para a discussão, faremos alusão à invenção do computador, bem como aos aspectos da Sociedade Industrial. Nesta se priorizou a padronização das mercadorias e a especialização do trabalho. O espaço ocupado pela força física do homem/operário foi substituído pela máquina, que por sua vez aumentava a produtividade e reduzia o tempo de produção.

Com a industrialização, o homem passa a atuar junto com a máquina. Como a máquina é muito mais veloz que o homem, quem define o ritmo do trabalho é ela. No filme Tempos Modernos (1936), Charles Chaplin ilustra muito bem isso quando não consegue acompanhar a velocidade da máquina e acaba sendo 'engolido' por suas engrenagens.

Como a mudança de sociedade decorre, sobretudo, das transformações políticas e econômicas, a perpetuação dos fatos citados acima, proporcionados por aqueles que utilizam as inovações tecnológicas como instrumentos de poder e de dominação para os demais, mantém uma sociedade na qual o nível de vida tende a adquirir valores padronizados, marcados também pela busca incessante de informações.

Em decorrência disso, o filósofo alemão Herbert Marcuse (1999) conceitua de forma repulsiva a 'Sociedade Tecnológica':

Entendo por sociedade tecnológica aquela que se caracteriza pela automação progressiva do aparato material e intelectual que regula a produção, a distribuição e o consumo, quero dizer, um aparato que se estende tanto às esferas públicas de existência como às particulares, tanto ao domínio cultural como ao econômico e político; em outras palavras, é um aparato total. A dita sociedade se caracteriza também por um alto grau de concentração e acasalamento do poder político e do econômico. Nesta sociedade a tecnologia, os técnicos e o progresso técnico são utilizados como instrumentos políticos na batalha contra as formas humanas de existência. (MARCUSE, 1999, p.36)

Se a Sociedade Tecnológica é capaz de causar danos para o homem, a exemplo da mecanização do tempo -- o tempo humano, marcado pelos ritmos biológicos, é substituído pelo 'tempo da máquina' --, em contrapartida ela possibilita a realização da singularidade, entendida aqui como condição básica para a cidadania e vice-versa.

Sociedade da Informação

Desde 1973, em seu livro "O Advento da Sociedade Pós-Industrial", que o sociólogo Daniel Bell introduziu a noção de 'sociedade da informação'. Foi na década de 1990, com o boom das TDIC's, que esta expressão reapareceu com força, sendo adotada por grandes organizações política e econômica, dentre elas o G7 e o G8, os fóruns da Comunidade Europeia, a Organização das Nações Unidas e o Banco Mundial.

Nesse contexto, Burch (2006, n.p.) afirma que "o conceito de 'sociedade da informação' como construção política e ideológica se desenvolveu das mãos da globalização neoliberal, cuja principal meta foi acelerar a instauração de um mercado mundial aberto e 'auto-regulado' ".

Segundo Castells (2003):

O que caracteriza a revolução tecnológica atual não é o caráter central do conhecimento e da informação, mas a aplicação deste conhecimento e informação a aparatos de geração de conhecimento e processamento da informação/comunicação, em um círculo de retroalimentação acumulativa entre a inovação e seus usos. A difusão da tecnologia amplifica infinitamente seu poder ao se apropriar de seus usuários e redefini-los. As novas tecnologias da informação não são apenas ferramentas para se aplicar, mas processos para se desenvolver. (...) Pela primeira vez na história, a mente humana é uma força produtiva direta, não apenas um elemento decisivo do sistema de produção. (CASTELLS, 2003, p. 78)

Corroboramos com Castells que a intensificação dos fluxos de informações, causa e consequência de um novo paradigma tecnológico, transformou profundamente não só as relações entre os sujeitos sociais, mas de uma forma mais ampla, as próprias relações econômicas. Assim, buscamos compreender como este conjunto de informações (dos mais variados conteúdos), as quais não encontram limites geográficos e cronológicos, poderá possibilitar novas aprendizagens com base na disseminação do conhecimento.

Sociedade(s) do Conhecimento

Como alternativa à 'Sociedade da Informação', no final dos anos 1990 surgiu a noção de "Sociedade(s) do Conhecimento". Esta é uma nomenclatura que para a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) permite a incorporação de um entendimento mais integral, não direcionado apenas aos aspectos econômicos. O termo 'Sociedade do Conhecimento' (diferente de 'Sociedades do Conhecimento'), criado por Alvin Toffler, é utilizado para nomear um novo cenário que se configura principalmente no campo da economia: as organizações empresariais. A partir desta ótica, o conhecimento torna-se mola propulsora da economia, sendo indispensável.

Numa análise paralela à de Toffler, para além da economia, acredita-se que o conhecimento é dinâmico, inerente ao indivíduo e está sempre presente nas experiências adquiridas, nas crenças e nos valores, os quais ajudam a descobrir e a avaliar o uso adequado da informação.

Em consonância com o entendimento da UNESCO, não adianta acumularmos informações se não soubermos o que fazer com elas. Faz-se necessário que a informação tenha conteúdo, tenha consistência, seja fundamentada e, assim, valorizada. O conhecimento é resultado de uma ação experiencial e dinâmica, decorrente de uma construção pessoal, e para que a sociedade da informação possa ser considerada Sociedade(s) do(s) Conhecimento(s), é essencial que se estabeleçam critérios para filtrar e organizar as informações.

Sociedade da Aprendizagem

Como vimos, o percurso que as relações humanas seguem, bem como seus modos e mecanismos, sofre mudanças significativas com o passar do tempo. Cada momento histórico traz em si elementos característicos que, operando em conjunto, possibilitam mudanças na forma de como o homem se percebe, se relaciona e troca o conhecimento.

Tendo em vista que vivemos num mundo em que nos possibilita acessar inúmeras informações, aprender constantemente se torna fundamental. A partir da concepção de 'Sociedade da Informação', passou-se à 'Sociedade(s) do(s) Conhecimento(s)'. As ações desenvolvidas nesta sociedade sugerem novas maneiras de aprendizagem, o que implica a configuração de outro modelo de sociedade que para alguns estudiosos se denomina 'Sociedade da Aprendizagem' (POZO, 2004).

Para saber lidar com tal fluxo de informações, faz-se necessária uma maior capacidade cognitiva que nos permita assimilação crítica da informação. Aprender nos propicia conviver com a diversidade de perspectivas, com a existência de inúmeros entendimentos acerca de conteúdos diversos, com a relatividade das teorias para estabelecer, a partir delas, o próprio ponto de vista.

Fabela (2005) conceitua a Sociedade da Aprendizagem ou 'cultura aprendente' como um ambiente no qual a diversidade de atores contribui para que haja a construção do conhecimento de forma compartilhada, numa perspectiva processual e contínua, quer de modo coletivo ou individual, e em todos os domínios da sociedade. Desta forma, disponibilizar informações não é suficiente para que se caracterize a sociedade da aprendizagem, pois isso depende de um pensamento reflexivo, decorrente da mudança na consciência humana que o conhecimento originado pela informação é capaz de promover.

A emergência da Sociedade dos Conhecimentos Compartilhados

Na década de 1970, Paulo Freire propôs uma educação na qual o processo de ensino-aprendizagem fosse desenvolvido com base no diálogo e na troca de experiências entre os agentes envolvidos no processo. Nessa perspectiva, o indivíduo/estudante na atualidade pode construir seu próprio conhecimento, utilizando-se de aportes, como o fornecido pelas redes sociais. Esses ambientes tornaram-se propícios para práticas que objetivam o compartilhamento de informações e a troca de vivências entre estudantes e professores.

As transformações pelas quais o mundo atual vem passando impõem a necessidade de refletirmos a respeito dos valores e dos costumes elaborados e desenvolvidos, principalmente pós século XX. O aumento na velocidade de ocorrência dos fatos e a diminuição nas distâncias possibilitam uma maior rapidez na tomada de decisão e na ação (seja ela comum ou não) das pessoas. Essa nova era possibilita inúmeras formas de apreender e o ambiente escolar deixa de ser exclusivo no que tange à apropriação do saber e à preparação do indivíduo para uma vida ativa no âmbito social.

Vivemos numa sociedade na qual a pluralidade se destaca e nos confronta com o uno. Essa sociedade, que nos referimos de forma singular, é composta por várias outras 'sociedades', que são encontradas na ação comum de um determinado número de pessoas. Trata-se, denotativamente, de uma 'teia' na qual os seus cruzamentos (pontos) estão separados, porém interconectados.

Tendo por base a vocação ontológica do homem, a de ser um sujeito em constante processo de mudança de si e da realidade que o circunda, não há por que estranhar se o mesmo fizer uso de todos os mecanismos para assumir isso de modo efetivo. Hargreaves (2003) destaca que há, a partir das TDIC's, uma possível renovação de ações no que tange ao diálogo, à diversidade, à troca, e principalmente a uma maior democratização do conhecimento, que acabam por contribuir com a ampliação de limites de ação e reflexão.

O que marca as 'Sociedades dos Conhecimentos Compartilhados' é a interatividade, de sorte que esta enriquece a relação do indivíduo com a máquina, permitindo-lhe através dela 'dialogar', criando possibilidades democráticas de acesso às informações e aos conhecimentos, aumentando os potenciais dos bens e dos serviços culturais, bem como os valores que formam a nossa cultura. A acessibilidade a várias fontes de informação nos permite uma reavaliação constante de nossa própria cultura e sociedade. Assim, a utilização da tecnologia digital reconfigura comportamentos.

As redes sociais na internet

Antes de discorrer sobre este tópico, enfatizaremos que nele, como o próprio nome já elucida, discutiremos de forma generalizada 'Redes Sociais' e não 'Sociedade em Rede', que é discutida por Manuel Castells (1999) na trilogia "Sociedade em Rede", apesar de utilizarmos o autor como referencial teórico.

Somos seres sociais, procuramos constantemente interagir com outros, nas mais diversas ocasiões. Na história da Grécia, percebemos que os gregos tinham o hábito de se reunir em grandes espaços abertos para falar de assuntos comuns. O local servia de ponto de encontro para os moradores da pólis, onde eram discutidos variados temas, desde julgamentos civis a simples notícias. Este ambiente ficou conhecido como Ágora.

Com o desenvolvimento da internet, houve a disposição de novas e de diversificadas formas de interação/comunicação. Analogamente, dois milênios se passaram e encontramos a Ágora da pós-modernidade: as redes sociais virtuais. Redes sociais virtuais são, portanto, um resultado da necessidade de comunicar do ser humano, direcionada às redes web.

É consenso entre os especialistas no assunto que uma rede social na internet pode ser definida como uma página ou um local na rede em que se pode divulgar um perfil público de si mesmo -- com imagem e informações pessoais -- e montar uma lista de contatos (geralmente amigos) que também fazem parte do mesmo site. Como em um bar, uma praça ou um clube, esse é o ambiente no qual as pessoas trocam informações sobre as novidades cotidianas de sua vida, seja ela profissional ou pessoal, mostram suas fotos e de seus familiares, comentam os vídeos caseiros dos seus amigos, compartilham suas músicas preferidas e até encontram novas oportunidades de trabalho. Tudo como as relações sociais devem ser, mas com uma diferença: a ausência total de contato físico.

Recuero (2009) define redes sociais da seguinte forma:

Rede social é gente, é interação, é troca social. É um grupo de pessoas compreendido através de uma metáfora de estrutura, a estrutura de rede. Os nós da rede representam cada indivíduo e suas conexões, os laços sociais que compõem os grupos. Esses laços são ampliados, complexificados e modificados a cada nova pessoa que conhecemos e interagimos. (RECUERO, 2009, p.29)

Todos que utilizam as redes sociais na internet procuram nela seus semelhantes, seus interesses profissionais e pessoais. Cada pessoa busca seus 'parceiros': pessoas que tenham gostos, valores, estudos e perspectivas afins; pessoas fisicamente próximas e distantes, conhecidas e 'desconhecidas'. Como nas redes sociais virtuais há ausência do contato físico, nestes ambientes os atores não são discerníveis, logo são o que se denomina de 'representações de atores sociais', podendo ser representados em diversas redes, a saber: Instagram, Skype, WhatsApp, Facebook, Twitter, Blog e outras.

É observado que existe uma gama de redes sociais na internet. Muitas delas são semelhantes e já outras divergem quanto à finalidade. Recuero (2000) elucida que as redes são estabelecidas a partir de laços sociais virtuais, que, por sua vez, são formados através da interação social virtual entre os atores. É a variação das conexões que altera a estrutura dos grupos que se constituem graças às interações da rede.

Dessa forma, constata-se que as TDIC's se fazem presentes na vida das pessoas, possibilitando inovações no modo de pensar os aspectos culturais e comunicacionais. Sendo assim, uma das possibilidades emergentes para a aprendizagem na era digital está no seu potencial híbrido e na junção de recursos que promovem experiências mais ricas, como vídeos, jogos educativos, animações etc.

Paralelamente às redes supracitadas, têm-se também outros sites emergentes, tais como Foursquare, Youtube, Pinterest, Tumblr etc. que permitem a criação de conteúdos mais dinâmicos e que encantam o público. Nesse prisma, a realidade virtual desperta nossa atenção pelas possibilidades de criação de espaços, de vontades, de sentimentos que poderão ser compartilhados por diferentes pessoas, vencendo os limites geográficos, culturais e idiomáticos. Nota-se que a internet conseguiu a atenção de muitos e as redes sociais cada vez mais se expandem, mudando a noção de alguns indivíduos acerca do entretenimento, de relacionamento, de comunidade, das formas de trabalhar e das formas de ensinar e de aprender.

Conforme Moran (2015):

O que a tecnologia traz hoje é integração de todos os espaços e tempos. O ensinar e aprender acontece numa interligação simbiótica, profunda, constante entre o que chamamos mundo físico e mundo digital. Não são dois mundos ou espaços, mas um espaço estendido, uma sala de aula ampliada, que se mescla, hibridiza constantemente, "Por isso a educação formal é cada vez mais blended, misturada, híbrida, porque não acontece só no espaço físico da sala de aula, mas nos múltiplos espaços do cotidiano, que incluem os digitais". (MORAN, 2015, p. 16)

A partir da citação acima, visualizamos uma sociedade que transformou a maneira das relações no que tange à troca de informação e de experiências. As mudanças ocorridas nessa sociedade desde a popularização da internet proporcionaram ao homem estar em diferentes ambientes ao mesmo tempo, não saindo do seu espaço físico. Portanto, compreende-se que as redes sociais também podem potencializar novas maneiras de aprender e de ensinar, não mais num sistema vertical, mas numa estrutura horizontal em rede, em que cada intersecção é, ao mesmo tempo, centro e não centro, de acordo com o entendimento de cada pessoa inserida nesta 'teia' de conhecimentos.

Assim, nos últimos anos, professores ultrapassaram os muros da escola e ampliaram os horizontes do saber ao utilizar as mídias sociais digitais em benefício da aprendizagem. Esses profissionais vêm se destacando no ensino de forma inovadora por meio de seus espaços virtuais. As temáticas propostas são variadas, desde aulas motivadoras para concursos públicos às aulas teórico-práticas das mais variadas disciplinas da Educação Básica. Em ambos os conteúdos, há a utilização da interlocução como estratégia, a fim de proporcionar aos aprendizes sugestões, esclarecimentos de dúvidas e interação com outros usuários. Assim, os obstáculos são socializados, o conhecimento compartilhado e o ensinar e o aprender se tornam possíveis on-line.

Ensinar e aprender on-line

A informação, a tecnologia e a educação são entendidas como produtos das relações sociais necessárias à manutenção da existência humana. Ao utilizar os recursos tecnológicos em benefício do processo de ensino-aprendizagem, há a possibilidade de ampliarmos seu uso para além da socialização e do acesso à informação, mas também para o desenvolvimento da própria aprendizagem.

É interessante que cada sujeito, além de acessar as informações contidas na rede, possa também ter condições de ser autor, autônomo e crítico, em suas aprendizagens e suas escolhas. Que os sujeitos possam ainda não apenas utilizar e produzir, como também interagir e participar socialmente. Sendo assim, integrar-se em novos ambientes, criando novos significados para a educação num espaço muito mais ampliado.

Com a utilização da internet no âmbito educacional, a capacidade de aprender poderá ser bastante elevada e estimulada. Como sugere Primo (2003), o ciberespaço pode ser o 'local' de intercâmbio entre instituições escolares de todo o mundo, de forma que acontecimentos ocorridos em diferentes países, por exemplo, poderão ser contados/discutidos a partir dos depoimentos de quem vivenciou, sem intervenções de pesquisadores oficiais ou da imprensa.

Num entendimento dialógico, o computador on-line poderá ser uma ferramenta e um instrumento de mediação. Uma ferramenta, pois permite ao usuário construir objetos virtuais, modelar fenômenos em quase todos os campos do conhecimento, desenvolver a capacidade de concentração e possibilitar o estabelecimento de novas relações para a construção do conhecimento. Desta forma, o educador, ao mediar um novo modo de representação do conteúdo ensinado, além de proporcionar ao aluno uma atividade educacional, oferece um instrumento de motivação.

Tanto a teoria de Vygotsky (1896-934) quanto a de Piaget (1980) estão baseadas no pressuposto de que os indivíduos são agentes ativos que estão buscando e construindo o conhecimento dentro de ambientes significativos. Entretanto, as escolas continuam com um ensino tradicional, com cadeiras situadas no interior do espaço da sala de aula arrumadas em fileiras e com o professor à frente transmitindo o conhecimento de modo linear e compartimentado, utilizando os mesmos materiais didáticos de décadas atrás.

Tais instituições não estão considerando que é preciso formar um ser humano sociável integralmente, para que desta forma ele possa desenvolver a capacidade de trabalhar em grupo, pois é fato que, como ser social, historicamente, o homem realiza suas ações com o coletivo. Infelizmente, deixamos em segundo plano a importância do homem como ser social que se relaciona e que a partir de discussões e de trocas de ideias constrói o conhecimento.

Assim, Souza e Giglio (2015) alertam para

[...] a importância do levantamento prévio dos elementos do entorno educacional e sociocultural da contemporaneidade, a fim de compor um quadro de expansão dos currículos educacionais, pois constata-se a dependência cada dia maior da população e, portanto, do ambiente escolar, perante as novas tecnologias. Estas por sua vez, oferecem possibilidades diversas, bem como diferentes metodologias que permitem, entre outros fatores, estender a sala de aula para fora do ambiente físico e tornar a linguagem mais acessível e interessante para os estudantes. (SOUZA E GIGLIO, 2015, n.p)

Os caminhos apontam para a renovação do ensino, formulando uma concepção mais ampla do processo educativo. Este se configurará em oportunizar aos indivíduos a experiência de criticar, de rever, de pensar, de pesquisar, de criar e de saber relacionar o conhecimento teórico com a prática, de provocar o avanço do conhecimento e de (re)construir o conhecimento elaborado.

É por meio do conhecimento que teremos condições, como indivíduos, de compreender e de nos situarmos na sociedade contemporânea como cidadãos partícipes e responsáveis. Assim, as novas tecnologias também devem ser compreendidas como elementos mediadores para a construção de uma nova representação da sociedade. Se o indivíduo não tiver oportunidades reais de se apropriar das tecnologias como produtor de conhecimento e não for capaz de interagir social e politicamente através da 'rede', torna-se ineficaz, do ponto de vista educacional, ele ter habilidade no manuseio desses instrumentos tecnológicos.

Nesse sentido, Silva (2018) alerta que:

A tecnologia é impensável sem admitir a relação entre o homem e a sociedade. A tecnologia não é neutra, obedece a jogos de poder e a leis de mercado da própria sociedade na qual está inserida. Devemos então, considerar que o sistema educacional está sujeito a apropriar-se das produções tecnológicas, de várias formas, devendo, porém, prevalecer o sentido ético e político-ideológico que considera a dimensão humana e a função social da utilização destas tecnologias. (SILVA, 2018, p. 95)

Aprender utilizando a internet como suporte pressupõe o desenvolvimento da capacidade de discernir, de refletir e de discutir sobre as informações recebidas para se chegar ao conhecimento, que é a capacidade de contextualizar essas informações criando relações entre elas. Desta forma, o computador on-line renova a relação do sujeito com a imagem, com o texto, com o som, com o registro e com o conhecimento. Não cabe mais à educação escolar servir unicamente para a preparação das pessoas para a prática das funções sociais e a sua adequação às oportunidades sociais existentes, relacionadas à empregabilidade. Como afirmam Pereira e Carloto (2016):

A educação está em permanente processo de mudança uma vez que é influenciada pela revolução das técnicas, desta forma a educação se transforma a todo instante. Para uma escola atenta às mudanças que impactam uma sociedade, todo coletivo envolvido no processo educacional (professores, alunos, pais e gestão) deve acompanhar a mudança e fazer parte da inovação e transformação da escola, uma vez que o contexto social, político, econômico e cultural estão inseridos na vida da instituição e das pessoas que dela faz parte. (PEREIRA E CARLOTO, 2016, n.p)

Recursos disponibilizados na internet, a exemplo dos documentos hipertextuais1, que possibilitam novas formas cognitivas e intelectuais, extrapolam em muito aquelas oferecidas por documentos em átomos, de estrutura e leitura linear. Com isso, não devemos esquecer que utilizar a internet exige diversas capacidades (como compreensão de textos, comunicação por escrito, operação de computadores e softwares, entre outras), que exigem grau de instrução relativamente elevado, dependendo da finalidade do uso.

Fofonca, Schoninger e Costa (2018) salientam que a interação possibilitada pela rede aumenta as condições do professor desenvolver um trabalho direcionado para a construção do conhecimento por parte do aluno. No entanto, permitir seu uso de forma livre, sem uma metodologia que lhe dê sustentação, não refletirá em um trabalho pedagógico consistente. A internet não pode ser apenas apresentada como uma grande fonte de dados sobre os mais diversos assuntos, sem que se perceba que se transformou também o modo de produzir conhecimento.

Com tanta informação disponível, a condição sine qua non consiste em tornar cada sujeito capaz de localizar a informação necessária para que possa construir um sentido individual ou coletivamente, já que "[...] sem o saber que lhe permite ascender à informação e ter um pensamento independente e crítico, ele pode ser manipulado [...]" (ALARCÃO, 2003, p.19).

Além da busca por informação de fontes diversas, a capacidade de utilizá-las com agilidade e flexibilidade é condição indispensável para o sujeito. Portanto, há a necessidade de "[...] distinguir entre o que é relevante e irrelevante; sério e fraudulento para reter o que é importante e deixar ao lixo o que não presta ou que não se adapta [...]" (ALARCÃO, 2003, p.25). Esta interação com as informações exige uma postura autônoma, flexível e criativa.

Assim, a tendência atual é aliar tecnologia à educação e, em virtude desta nova realidade, torna-se cada vez mais necessária a implementação de uma nova cultura docente e discente nas instituições educacionais. A utilização das tecnologias na educação implica uma transformação nos paradigmas educacionais atuais, que poderá levar a uma evolução na metodologia do ensino, caracterizando-se, portanto, numa oportunidade singular para as instituições de ensino, para os professores e para os alunos repensarem a prática de ensino e de aprendizagem.

Conclusão

Percebemos que a internet se encontra nas diversas áreas sociais, em especial na educação. Esta ferramenta pode ser relevante no processo de ensino e de aprendizagem, mas o professor deve construir uma prática pedagógica reflexiva para desenvolver ações que atendam a suas necessidades e às realidades do seu contexto. Neste sentido, uma mudança de paradigma não se restringe apenas a incorporar as tecnologias digitais de informação e comunicação no processo educacional, deve propiciar reflexões e ações críticas sobre o trabalho do docente na sala de aula.

Portanto, faz-se necessário nos atentar para o fato de começar a trabalhar um ensino inovador, baseado num paradigma emergente que possa atender às exigências do mercado de trabalho e, sobretudo, às necessidades da formação do estudante como cidadão. As novas oportunidades tecnológicas exigem mudanças não apenas das teorias educacionais, mas da própria prática educativa e da forma como a própria escola e o meio no qual ela está inserida percebe a sua funcionalidade atual.

A educação pressupõe participação dinâmica, troca, interação, que podem ser fomentadas pelas tecnologias digitais. A aprendizagem, através de trocas virtuais e/ou presenciais com pessoas de diferentes idiomas e contextos sociais, direciona a resultados distintos numa ação educativa na qual o conhecimento individual cede espaço para o conhecimento compartilhado, promovendo a aprendizagem colaborativa. Dessa forma, o espaço escolar deixa de ser o único ambiente social de veiculação do conhecimento.

Como vimos no desenvolvimento desse trabalho, as informações e inovações se encontram disponíveis também em redes sociais digitais, produzindo um conhecimento muitas vezes fragmentado, mas que fascina o sujeito através de ferramentas de som e de imagem acessíveis a quase todo o momento. Uma variedade de elementos que precisam ser compreendidos e trabalhados coletivamente, para serem apreendidos de modo crítico.

Por fim, precisamos compreender as redes sociais também como um espaço de reflexões e de reivindicações permanente do direito civil e político, da autonomia e da justiça social. Para tanto, faz-se necessário que assumamos o compromisso de torná-las um verdadeiro caminho para a construção da cidadania e da educação, atribuindo a elas uma identidade que não se pauta unicamente no entretenimento.

Referências

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  1. É o termo que remete a um texto em formato digital, ao qual agregam-se outros conjuntos de informação na forma de blocos de textos, palavras, imagens ou sons, cujo acesso se dá através de referências específicas denominadas hiperlinks, ou simplesmente links