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O Tutor na Educação a Distância: Função, Desafios, Vantagens e Perspectivas

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Autores

Especialista em Tecnologias e Educação Aberta e Digital (UFRB - UAb Portugal). Graduada em Licenciatura em Educação Física (UESB). Professora da rede municipal de educação na cidade de Jequié/Bahia. E-mail: joefuesb@gmail.com.

Doutoranda em Ciências da Educação (Universidade de Coimbra). Mestre em Estudos sobre a Europa (Universidade Aberta). Jornalilsta (Universidade de Coimbra). Coordenadora do Centro Local de Aprendizagem de Porto de Mós, Portugal (Universidade Aberta). Formadora na área de pedagogia e aprendizagem em plataformas digitais; desenho de atividades pedagógicas; gestão de atividades; avaliação; cinema. E-mail: seforasilva@gmail.com.

Resumo: As tecnologias de informação e comunicação (TIC) surgiram a partir das transformações sociais e dos avanços tecnológicos no mundo. Na conjuntura atual, as TIC são consideradas como um excelente meio para fins educacionais, especialmente no contexto da EaD. Diante disto, o intento foi identificar as funções, vantagens, desafios e perspectivas enfrentados pelos tutores atuantes na educação a distância. Destarte, utilizar-se-á como metodologia a abordagem qualitativa, do tipo descritivo. Para tal, os artigos foram coletados em bases de dados como: Scielo, Sucupira e, em artigos científicos disponíveis via web. Com a intenção de alcançar o objetivo proposto, utilizou-se o delineamento descritivo, por meio de pesquisa bibliográfica da qual foram analisadas as considerações referentes à Educação na modalidade a Distância; o sistema de tutoria e o papel do Tutor em cursos a distância, a partir da análise de artigos disponíveis em revistas científicas. A coleta dos dados foi realizada no período de janeiro a abril de 2020 e, foram selecionados, prioritariamente, artigos publicados a partir do ano de 2015, que tratassem de temáticas inerentes ao ofício da tutoria. Diante disto, identificou-se que o tutor é multifuncional, com atribuições de aspectos socioafetivo, tecnológico, pedagócico, etc. Foi possível perceber que os desafios são imensos, principalmente pela baixa remuneração/desvalorização, bem como, pelo quantitativo exarcerbado de estudantes por tutor. Ademais, as vantagens são mínimas e as perspectivas se inserem na tentativa de ampliar as discussões em largas proporções com o intento de lutar pela valorização e por criação de uma lei que os ampare.

Palavras-chave: Educação a distância. Tutor.Tecnológia. Ensino.

Introdução

As transformações sociais dos últimos tempos acarretaram mudanças em vários aspectos da vida humana, entre tantas, podemos citar a forma de integração com o sistema de produção vigente. Muitas dessas modificações alicerçam-se, também, pelo "surgimento da Internet possibilitando um compartilhamento de informações sem precedentes na história da humanidade" (POYATOS et al 2019 p.43). Ainda segundo o pensamento de Poyatos et al (2019), a expansão da internet com custos baixos democratizou seu acesso. Além disso, a evolução, em âmbito mundial, na infraestrutura tecnológica dos computadores colaborou com esse processo, aumentando exponencialmente a rapidez no acesso a diversas informações. As pessoas passaram a ter alcance a uma infinidade de conteúdos, de forma abundante. Deste modo, a internet/tecnologia se transformou em um dos meios para a materialização da educação formal.

Diante desse contexto, se faz necessário refletir a respeito da forma como a educação formal, no contexto da EAD, vem sendo pensada e estruturada com o intento de atender, com qualidade, as demandas existentes na sociedade. Nesse sentido, as inovações tecnológicas têm ganhado, cada vez mais, importância em vários seguimentos da vida humana e, em especial, no contexto educacional, como pontuado por Sarment e Abrahâo (2007) em um de seus estudos.

Um dado interessante a ser pontuado segundo Shitsuka *et a*l (2018), é referente ao percentual de matrículas na Educação a Distância (EaD), o qual vem aumentando a cada novo ano, mesmo com as dificuldades econômicas enfrentadas pelo país. Segundo os dados coletados no Censo EAD.BR (2019 p.60), "o número de matrículas aumentou significativamente de 2017 para 2018. Foram mais de 1.500.000 novos alunos que se engajaram em cursos a distância em 2018". No referido documento, consta ainda que "esse crescimento não foi tão vertiginoso quanto o observado de 2016 para 2017. De qualquer modo, a ampliação desse número por dois anos consecutivos consolida a modalidade como opção de formação" (CENSO EAD 2019 p.60).

Partindo deste pressuposto, a EaD emerge com um papel muito importante, considerando o fato das classes virtuais serem mais acessíveis aos estudantes, em comparação com as classes físicas, quer do ponto de vista financeiro, quer pela flexibilidade geográfica e de tempo. A educação na modalidade EaD vai além da oportunidade de se adquirir saber "de forma livre e cooperativa, é uma forma de inclusão social. Especialmente em um país com dimensões continentais como o Brasil, onde as pessoas têm dificuldade de acesso por suas distâncias e barreiras sociais" (REIS e SALLES 2017 p.162).

A EaD tem se tornado cada vez mais comum e acessível. E, de acordo ao que afirma Costa (2017, p 61), "São diversas as ofertas de cursos técnicos, profissionalizantes, de aperfeiçoamento, de graduação, pós-graduação, entre outros". Por meio da EaD, é possível "disseminar o conhecimento em locais distantes dos grandes centros urbanos marcados por desigualdades sociais" (VIEIRA Et al 2017, p.39), oferecendo ao cidadão a possibilidade de melhorar sua condição social, através do saber sistematizado adquirindo uma formação técnica, com tendência a subir na escala social.

Nesse trilhar, a educação na modalidade a distância é uma realidade, pelo que é basilar pensar quais as funções, desafios, vantagens e perspectivas, enfrentadas pelos tutores no cotidiano, a fim de materializar seu trabalho. É fundamental refletir tais questões, tendo em vista o fato de o tutor ser uma das peças chave no desenvolvimento da EaD, podendo contribuir de forma significativa no processo de aquisição e construção de saber.

O interesse em desenvolver esta investigação surgiu a partir da participação no II Simpósio Internacional de Tecnologia e Educação Digital (Etapa Virtual), realizado pela Universidade Federal do Recôncavo Baiano, no periodo de 18 a 20 SET./19. Ao interagir em um dos fóruns de debate, foi possível compreender melhor a dinâmica do trabalho realizado pelo tutor, este que, por ignorância de alguns estudantes da EaD, muitas vezes é duramente criticado. A partir de então, surgiu a curiosidade em compreender melhor essa dinâmica.

Assim sendo, o intento foi identificar as funções, vantagens, desafios e perspectivas enfrentados pelos tutores atuantes na educação a distância. Como também, descrever a respeito das funções do tutor na EaD. Bem como, analisar se os tutores na EaD encontram desafios em sua prática enquanto mediadores do processo de aprendizagem. E ainda, apresentar os desafios enfrentados pelos tutores na EaD. Destarte, utilizar-se-á como metodologia a abordagem qualitativa, do tipo descritivo, para tal, os dados (artigos) foram coletados em bases de dados como: Scielo, Sucupira e em artigos científicos disponíveis via web (nomeadamente através do Google acadêmico).

Com a intenção de alcançar o objetivo proposto, utilizou-se o delineamento descritivo, através de pesquisa bibliográfica, por meio da qual foram analisadas as considerações referentes à Educação na modalidade a Distância, o sistema de tutoria e o papel do Tutor em cursos a distância, a partir da análise de artigos disponíveis em revistas científicas. A coleta dos dados foi realizada no período de janeiro a abril de 2020 e foram selecionados, prioritariamente, artigos publicados a partir do ano de 2015 e que tratasem da temática em questão.

Atribuições, desafios, vantagens e perspectivas do tutor na educação a distância

A Educação na Modalidade a Distância (EaD) acontece mediante o uso de Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC). Essa modalidade de ensino vem sendo ampliada, o que pode viabilizar "o acesso ao ensino de qualidade, desde que os responsáveis estejam envolvidos e direcionados ao planejamento e à elaboração de estratégias de ensino adaptadas ao ambiente virtual" (SANTOS, MANTILLA 2016 p.24). Quanto ao estudante da EAD, "deve ser estimulado a aplicar o conhecimento adquirido de forma a resolver problemas reais ou simulados a partir de situações reais, dando a oportunidade do discente não apenas absorver o conteúdo, mas resignificá-lo" (POYATOS et al 2019 p.43).

A EaD vem desempenhando um papel muito importante nas sociedades contemporâneas, como a possibilidade de retorno aos estudos das pessoas que não tiveram condições de estudarem quando mais jovens, por meio dos sistemas presenciais de ensino. No entanto, de acorodo a Shitsuka (et al 2018) nesta modalidade, na qual existe a separação física entre os tutores e estudantes podem existir dificuldades, principalmente aquelas pessoas que já não estudavam há algum tempo. Diante disto, é possível perceber que o Tutor na EAD está inserido em um sistema de ensino que necessita da sua capacitação para lidar com diversos contextos e situações, sempre procurando cooperar para que o estudante consiga construir o conhecimento.

Posto isto, o tutor virtual caracterizado como um dos responsáveis pelo processo de ensino aprendizagem deve atuar "como moderador e facilitador do processo, estimulando e instigando os alunos com a finalidede de que eles desenvolvam a autonomia nos estudos e aproveitem, da melhor maneira possível, o conteúdo abordado no curso (SANTOS e MANTILLA, 2016, p.24)". Destarte, ao investigar o processo de tutoria na Educação na modalidade a distância, é importante determinar quais as atribuições inerentes ao exercício da tutoria no contexto do sistema de ensino-aprendizagem e sua relação com o estudante.

Conforme Cunha (2009), citado por Santos e Mantilla (2016, p.24), "o tutor a distância deve desenvolver as seguintes competências essenciais: socioafetiva, autoavaliativa, gerencial, tecnológica e pedagógica, a fim de contribuir com a aprendizagem, nos modelos cognitivo e prático". Na concepção de Calvi & Silva (2018 p.4) "o tutor, portanto, adota o papel de facilitador da aprendizagem por meio de ferramentas que permitam ao aluno apreender os conteúdos trabalhados". Ele deve ser capaz de atender as demandas inerentes ao seu público, realizando seu papel enquanto educador a fim de:

[...] garantir que o processo de mediação chegue até o aluno, permitindo que ele estabeleça uma relação com a aprendizagem, certificando-se que o conhecimento aconteça sem ruídos. Para isso, é necessário que a mediação dos conteúdos não fique apenas no nível do conhecimento formativo, mas, transcenda para que tenha como preceitos a vivência do aluno em sociedade, já que esse tipo de relação favorece o processo de constituição do aluno, e o configura nas demais áreas da vida na qual ele integra (CALVI & SILVA 2018 p.4).

Deste modo, pode-se afirmar que um dos profissionais mais importantes no contexto da EaD é o Tutor, considerando que este caminha juntamente com os estudantes, tendo contato diário (via AVA) de forma interativa e colaborativa. Assim, Atua como mediador, se colocando entre "o aluno e o objeto de aprendizagem. Sua incumbência é incentivar os estudantes no processo de busca pelo conhecimento sistematizado, fazendo um intercâmbio entre o que se quer ensinar e o que o aluno já sabe" (Shitsuka et a*l 2018, p.11). Para tal, segundo Silva *et al (2019) é basilar que o Tutor busque estar sempre atualizado, considerando o processo natural de mudanças e a sua capacidade de aprender e aplicar novos métodos educativos.

O ofício de tutor está imerso em conjunturas didáticas difíceis, acarretando o processo de adaptação a padrões de linguagens especifícas, sensibilidade ao mediar o processo de aprendizagem, aptidão no ato de motivação e articulação dos conhecimentos por meio de práticas pedagógicas capazes de facilitar a apresentação de conteúdos online. Para isso, o tutor utiliza-se das funcionalidades disponíveis nas mais variadas plataformas de comunicação, além da capacidade de adequação a realidade educacional e suas especificidades e da desenvoltura ao navegar no ambiente virtual de aprendizagem (CORRÊA & SILVA 2015).

O tutor possui função de sanar as dúvidas, avaliar os resultados, garantir a assimilação dos conteúdos, engajar o estudante, sugerir novas metodologias, a fim de facilitar o processo de aquisição de conhecimentos, bem como, atender as necessidades dos estudantes, e, responder aos questionamentos. O tutor, ao fazer uso de suas atribuições com competência e qualidade, poderá, auxiliar os discentes no decorrer do curso, e assim, contruibuir com o enriquecimento da experiência na educação na modalidade EaD, considerando que "as novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) são mediações que oferecem suporte à criação, organização, armazenagem e construção de saberes e conhecimentos" (ZANOTTO et al 2017, p.219).

De acordo com Santos (2016), o tutor é responsável por fazer a mediação de todo processo de ensino aprendizagem, ajudando e direcionando os estudantes em seu processo de aquisição de conhecimento, contribuindo positivamente para a organização em relação ao tempo, de forma a compreenderem os conceitos abordados no desenrolar do curso. Com harmonia e cordialidade, deve despertar nos estudantes o sentimento de pertença, utilizando-se das capacidades motivacionais socioafetivas tão essencial na aprendizagem em EaD. A afetividade é importante, principalmente por "induzir e conduzir uma educação qualitativa, relevante e eficiente sendo um eixo indispensável na relação tutor- aluno- instituição (SANTOS 2016, p.106)".

Em consonância com Silva (2015), esse profissional precisa ter conhecimento referente à modalidade de ensino a distância, saber identificar suas particularidades, buscando promover ajustes de forma a contribuir para o desenrolar dos trabalhos da melhor maneira, provocar os estudantes a olharem o mundo e fazer a leitura dos materiais analisando-os criticamente, usando os diferentes recursos tecnológicos. Tem dever de estimular os debates e as interações no ambiente virtual, relatar e avaliar a evolução dos estudantes pelos quais for responsável, dando-lhes retornos constantes, acolhendo-os de forma a não se sentirem abandonados ou desanimados para continuar como os estudos.

Ao tratar das questões inerentes a afetividade, Santos (2016) assevera que a ação de educar torna-se completa quando todos os envolvidos assumem uma atitude de colaboração em um ambiente harmônico. A capacidade socioafetiva é essencial nesse processo, e possibilita atitudes de respeito, solidariedade e de partilha de conhecimentos. Os vínculos afetivos podem contribuir com a presença ativa e funcional dos envolvidos, tornando-os disseminadores da aprendizagem em EaD, aumentando a eficácia nos estudos. O discente sente-se envolvido e motivado à medida que cria laços afetivos com os demais envolvidos no processo educacional, sentindo-se amparado na arte de construção do saber sistematizado.

Ao pensar a respeito da construção colaborativa de saberes, é possível ter em mente as inúmeras ferramentas que podem ser usadas no contexto educacional na modalidade EaD. Essas, podem contribuir no aprimorar da capacidade do aluno construir conhecimento. Logo, além dos sabere tecnológicos é basilar ao tutor o "domínio do conteúdo a ser trabalhado, tomar decisões didáticas quando necessário, sendo coparticipantes na construção do conhecimento do aluno no novo fazer pedagógico" (DAMARCO; FERREIRA 2018 p.4).

Santos e Matilla (2016) sustentam que a utilização dos recursos tecnológicos digitais geram impactos na execução da tutoria, principalmente se for direcionada em consonância com as necessidades de cada discente. Diante disto, a mediação mais eficiente se dará quando o tutor tem competência e habilidade com os diferentes tipos de tecnológia digital de informação e comunicação.Isto exige disponibilização e dedicação por parte do tutor, e, faz parte da fluência técnica, prática e emancipatória necessárias. No entanto, em consonância com o pensamento de Calvie e Silva (2018 p.7) "a competência tecnológica não é a protagonista do processo de aprendizagem, mas, canal da relação entre professor e aluno cujo produto final é o conhecimento".

Conforme Silva (2015) é importante considerar que, mesmo com todo o aparato tecnológico usado em benefício da EaD, não é suficiente tão-somente apostar na desenvoltura dos tutores e estudantes em manuseá-los. É indispensável um arcabouço institucional, docente e didático-pedagógico efetivo, a fim de promover o intercâmbio multidisciplinar entre todos os envolvidos no processo. Posto isto, Calvi & Silva (2018) asseveram, referente ao diferencial no ensino a distância, ao ser estabelecido a partir da formulação dos materiais institucionais e de avaliação, fatos considerados como necessários, uma vez que a ação de mediar tem início logo no primeiro contato do estudante com os instrumentos pedagógicos instutucionais.

O tutor, ao atuar na educação a distância, tem a possibilidade de realizar seu trabalho no conforto de sua casa, possuindo flexibilidade de horários no cumprimento das demandas impostas ao seu ofício, isso pode ser considerado como vantagem por muitos. Além disso, na concepção de Damarco e Ferreira (2018), o tutor tem certa autonomia no trato com os estudantes, tendo a possibilidade de trabalhar de modo mais interativo e flexível. No entanto, segundo Velloso (2019, p.61) "o deslocamento espacial e a flexibilização do tempo podem redundar igualmente em sobrecarga e comprometimento das condições de trabalho ou da qualidade de vida".

Muitos profissionais da EaD também precisam se deslocar até as instituições nais quais prestam o serviço, isto ocorre por não ter a seu dispor, no ambiente doméstico, os meios necessários para trabalhar. Outro ponto a ser anotador é que os tutores precisam de atualizações, e há ausência de cursos de formação continuada ofertados pelas instituições nas quais atuam etc. Na concepção de Velloso (2019, p.56) "é inevitável considerar alguns desafios vivenciados por essa modalidade educacional, entre eles o [...] de avançar na direção de afirmação de sua credibilidade, [...] levadas a efeito sem anteparo legal e sem políticas públicas".

Outra questão basilar, pontuada por Damarco e Ferreira (2018) é o fato dos tutores receberem um valor salarial menor que os professores regularmente contratados, fato recorrente tanto no setor público, quanto no privado. Além do mais, enfrentam outros desafios e precisam administrar "o espaço-tempo [...], com postura e atitude a fim de evitar sobrecarga de trabalho ou gerir de forma equivocada o seu tempo e sua força de trabalho" (VELLOSO 2019 p.61). A complexidade se instala ainda mais "por conta da relação quantitativa de alunos-tutor. Em média, o número estimado desta relação é de 600 alunos /tutor (ou mais), tornando 'mecanizado' o trabalho da tutoria" (DAMARCO E FERREIRA 2018 p.213).

Segundo o pensamento de Damarco e Ferreira (2018) esse profissional acaba tendo sobrecarga de afazeres e dificuldades na disposição de tempo para materialização do seu ofício, gerando desafios em nutrir os estudantes e a si próprio, de ânimo. O trabalho é precarizado, e, em decorrência disto, há acúmulo de funções. Deste modo, atuar como tutor funciona como um complemento da renda, isso ocorre, especialmente, pela desvalorização e baixo retorno financeiro.

Consoante Straub et al (2018), o tutor ainda carrega consigo a necessidade de se fazer presente, mesmo a distância, de forma técnica e pedagógica, disponibilizando conhecimento e criando oportunidades, contribuindo com o fortalecimento das capacidades sociais, aumentando a possibilidade de intercâmbio entre os estudantes. Diante disto, conforme Velloso, (2019 p.115) "é imperativa a adoção de um olhar crítico, que permita ao observador vislumbrar a tensão que se instaura entre o exercício (e reconhecimento) da profissão". Segundo o referido autor, tal compreensão é fundamental em frente às situações e desafios postos no enfrentamento dos movimentos de precarização do trabalho do tutor (professor) em EaD.

Diante disto, segundo Velloso (2019, p.17) "os desafios a que se faz referência não envolvem meramente a reorientação de métodos e técnicas, pois, se assim o fosse, bastariam programas de treinamento para novas condutas na relação mediada pelas tecnologias". O referido autor considera "que os desafios remetem à compreensão (política), da parte do professor, quanto ao seu lugar no contexto da educação na modalidade EaD", e acrescenta que isso deve ser visto "no âmbito da qual sua identidade é colocada em xeque, a partir de um movimento de segmentação ou fragmentação da ação docente, com forte apelo à precarização do trabalho" (2019, p.17).

Nessa perspectiva, Demarco e Ferreira (2018 p.13) "pensam ser necessário construir uma proposta tutorial que atenda as especificidades e traga novos sentidos e significados, visando à melhoria das condições e remunerações para essa categoria docente". É cabível a esses profissionais serem amparados por leis específicas regulamentando seu ofício, analisando a formação inicial e continuada, sua trajetória acadêmica e profissional, planos de carreira, remuneração, proteção trabalhista, quantidade de alunos por tutor, duração dos contratos, horário de trabalho, despesas com os equipamentos, direitos autorais e de imagem, dentre outras questões, com o intento de reconhecer as adversidades encaradas a fim de buscar melhorias às condições de trabalho dos mesmos. A falta de legislação trabalhista específica para a educação a distância coopera para a precarização das condições de trabalho do tutor/docente virtual no país.

Considerações Finais

Refletir acerca das funções, os desafios, as vantagens e perspectivas dos tutores atuantes na educação a distância a fim de materializar o seu trabalho é fundamental, tendo em vista que esse profissional é uma das peças chave no desenvolvimento da EaD, podendo contribuir de forma significativa no processo de aquisição e construção de saber. Logo, o intento foi identificar as funções, vantagens, desafios e perspectivas enfrentados pelos tutores atuantes na educação a distância. Como tambem, descrever as funções do tutor na EaD. Além de analisar se os tutores na EaD encontram desafios em sua prática enquanto mediadores do processo de aprendizagem.

Diante disto, percebeu-se a partir das leituras e reflexões realizadas, que os tutores na modalidade de EaD são profissionais multifuncionais, agregando inúmeras responsabilidades em seu ofício, tais como: a de avaliar e relatar o desenvolvimento do estudante, realizar autoavaliação e adequação de conteúdos e de ferramentas educacionais, incentivar, estimular, motivar e facilitar o processo de aquisição de saber, interagir e colaborar, planejar, criar estratégias, gerenciar os saberes e o percurso de cada estudante, ter habilidades e competência pedagógica e tecnológica.

Além disso, é basilar que o tutor tenha conhecimentos a respeito do curso no qual realiza sua função; proporcione interações sociais a fim de melhorar as aprendizagens; estimule os estudantes na construção do conhecimento de forma autônoma, cooperativa e ética. Ter bom senso, empatia, equilíbrio, consciência e responsabilidade valorando as inúmeras probabilidades de edificação do Saberes. Conhecer, desenvolver e colocar em prática a capacidade socioafetiva, fomentando a motivação e o entusiasmo, estabelecendo relação de respeito por meio da afetividade, apoio, orientação, motivação e incentivo. O tutor deve ser compromissado e liderar, sem perder de vista atitudes de bom senso com todos.

Ao falar das vantagens, podemos citar o fato de que muitos profissionais a exercem enquanto meio de adquirir uma renda extra, outros consideram a flexibilidade e a "liberdade" no trato com os estudantes como uma vantagem imersa nesse contexto. Contudo, há muito mais desafios a serem superados, como: excesso de alunos por tutor, disponibilidade de tempo para o exercício da função e formação continuada, desvalorização salarial e profissional, excesso de atribuições, necessidade de saber lidar com os mais diversos aparatos tecnológicos, inexistência de regularização profissional por meio de lei específica, precariedade nos diálogos entre os envolvidos no processo ensino-aprendizagem, entre outros.

Diante disto, as perspectivas são inúmeras, e se inserem no contexto da busca por valorização profissional e financeira, por meio da ampliação dos debates acerca das questões elencadas, tais como: criação de lei específica que contribua para superação das dificuldades, oferecendo-lhes melhores condições de trabalho; redução e definição da quantidade dos alunos a serem mediados por cada tutor. Além disso, construir uma proposta tutorial que atenda as especificidades e traga novos sentidos e significados a esse ofício será fundamental, uma vez que tais ações podem contribuir na melhoria na qualidade da educação a distância em vários aspectos.

Destarte, Demarco e Ferreira (2018) asseveram que as perspectivas são no sentido de existir uma ampla discusão referente a tais questões, visando melhoria nas condições de trabalho, principalmente pelo fato de o ofício do tutor ser basilar na promoção da educação de qualidade. Posto isto, a intenção foi buscar responder as questões aqui elencadas, finalizando com a certeza da necessidade de ampliação dos estudos acerca das questões debatidas, a fim de galgar maior profundidade nas respostas obtidas e contribuir no alcance das melhorias das condições gerais da atuação do tutor na EaD.

Referências

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