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Percepções dos cursistas em relação ao curso online autoinstrucional de Atuação Político-parlamentar

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Autores

Doutorando em Ciências da Saúde, Mestre e Licenciado em Educação Física, pela Universidade de Brasília (UnB). Especialista em Planejamento, Implementação e Gestão de Educação a Distância pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Especialista em Inovação em Mídias Interativas pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Especialista em Gestão Pública pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Especialista em Educação Aberta e Digital pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e Universidade Aberta de Portugal (UAb). Professor Voluntário no Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (CEAM) e pesquisador na Comunidade Virtual de Aprendizagem e de Prática da Psicologia (UnB). E-mail: jleonidas@unb.br.

Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Vinculado à Rede Estadual de Ensino da Bahia, atualmente é professor de Sociologia da Educação Básica (ensino médio) da rede estadual de ensino da Bahia e professor substituto no Departamento de Educação II – Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA ), na área de Metodologia e Prática de Ensino de Ciências Sociais. E-mail: dankrocha@gmail.com.

Resumo: Este artigo teve como objetivo identificar as percepções dos cursistas egressos em relação à qualidade do curso online autoinstrucional de Atuação Político-Parlamentar, utilizando-se de dados coletados em instrumento adaptado de Leônidas (2016). O curso foi idealizado pela Associação Nacional dos Auditores da Receita Federal Brasileira (ANFIP), sendo disponibilizado na Escola Virtual da instituição para os seus associados. O instrumento online de coleta de dados foi organizado a partir das teorias do modelo de medição denominado escala SERVPERF criada por Cronin e Taylor (1992), originada a partir da escala SERVQUAL proposta por Parasuraman et al. (1985). Trata-se de uma pesquisa com investigação de abordagem qualitativa, objetivo exploratório e o método estudo de caso como estratégia de investigação, conforme orienta Yin (2010). Os sujeitos da pesquisa foram os 110 cursistas matriculados, entre os meses de novembro de 2018 e maio de 2019. Os respondentes da pesquisa foram 42 indivíduos, que correspondem a 42,6% da amostra, sendo que todos fizeram a emissão do certificado de conclusão do curso no ambiente virtual de aprendizagem. As percepções dos cursistas demonstram múltiplas intenções: as respostas apontam indícios de que, em grande parte, os cursistas estão satisfeitos e muito satisfeitos com o curso, no entanto, também indicam algumas insatisfações, pontos fortes e fracos do curso, elementos que acendem o alerta para melhorias, haja vista os objetivos da pesquisa obter diversas percepções a partir de diferentes questionamentos. Dessa forma, percebe-se que toda pesquisa possui limitações, porém, a partir da autoavaliação do pesquisador autor deste artigo, este estudo não tem intenções de esgotar as discussões sobre percepções de cursistas, justamente por situar-se como uma contribuição pontual sobre o problema estudado, aconselhando-se a realização de pesquisas para registros e a apresentação de evidências à sociedade.

Palavras-chave: percepções de cursista EAD; atuação político-parlamentar; educação a distância.

Introdução

A pesquisa sobre percepções de cursistas online pode contribuir para a descoberta e entendimento de registros, impressões e evidências sobre a qualidade mensurada online, por meio de questões alinhadas com indicadores perceptíveis nos cursos online na modalidade a distância, podendo gerar evidências científicas variadas sobre algum curso estudado, que incluem características regionais, pessoais, de visão de mundo etc.

Produzir estudos de percepções de cursistas se faz essencial, especialmente no mundo globalizado em que vivemos hoje. Trata-se de um mundo tecnológico, dinâmico, acelerado, e conforme apontam Moreira e Dias Trindade (2018), que originou a "nova sociedade" com múltiplas designações, sendo essa a "sociedade em rede", a "sociedade da aprendizagem", a "sociedade do conhecimento", e muitíssimas outras adjetivações em que o denominador comum é o reconhecimento do papel das tecnologias na reconfiguração dos ambientes educacionais. É necessário pensar sobre a tecnologia, mas também avaliar os resultados de suas ofertas.

Sendo assim, em evidências coletadas online sobre as percepções de egressos, é possível identificar interpretações de variadas situações inerentes a um determinado curso online, podendo desenvolver-se referenciais que ajudariam a identificar características que se fazem presentes nas propostas de educação online. Tanto na modalidade presencial, quanto na a distância, é comum propor-se cursos que parecem ser adequados, com objetivos bem estruturados e aparentemente alinhados com as expectativas dos professores e cursistas; porém, ao se fazer pesquisas com a coleta de percepções, percebe-se que nem tudo são maravilhas. Há diversos pontos fortes e fracos em um determinado planejamento de curso online, bem como aqueles pontos que deveriam ser rapidamente ajustados, em decorrência dos indícios apresentados em tais pesquisas, que representam fortemente a visão dos cursistas que vivenciaram o curso online.

Ao oportunizar-se registros sobre percepções, permite-se aos cursistas exercerem a autoavaliação, podendo refletir sobre temas que foram marcantes na formação, desenvolvendo alguma percepção crítica, bem como preconcepções sobre o curso ofertado, fornecendo à pesquisa informações de relevância científica. Esses estudos são interessantes, pois propiciam informações coerentes aos profissionais, pesquisadores, egressos e comunidade científica, contribuindo para a exposição de facetas presentes em um curso, sendo que, em nosso caso, referimo-nos ao curso online Atuação Político-Parlamentar.

Para os profissionais que coordenam programas de Educação a Distância ou algum ente social (público ou privado), estudos sobre percepções de egressos geram insumos e argumentos científicos que favorecem a idealização, implementação, validação e gestão de um curso EaD alinhado com o público-alvo e adequado para um determinado cenário.

Estudos sobre percepções de egressos na modalidade a distância contribuem para o conhecimento e o fomento de políticas públicas para a formação por meio da EaD, harmonizando melhorias que poderão servir de referência para outros projetos em outros campos e áreas da ciência, oferecidos em diferentes instituições.

Portanto, realizar estudos sobre as percepções de cursistas permite evidenciar suas relevâncias sociais e apresentar à comunidade acadêmica e instituições financiadoras informações condizentes com uma proposta concretizada devido às tecnologias da informação e comunicação (TIC) aliadas à experiência acadêmica dos técnicos e docentes envolvidos com o planejamento, implementação e gestão do curso.

A partir dos produtos gerados nesta pesquisa, espera-se construir artefatos científicos que poderão contribuir significativamente, proporcionando evidências coerentes com a ciência, a comunidade, pesquisadores, estudantes, tutores, corpo docente, gestores, equipe administrativa e agências de fomento que poderão entender evidências de que um curso na modalidade a distância é composto por componentes interdependentes, em um checklist presente no planejamento, implementação e gestão das ações que podem influenciar diretamente a eficácia do curso e as percepções dos egressos.

Sendo assim, estipulou-se como problema para essa pesquisa a seguinte pergunta: Quais são as percepções dos cursistas em relação à qualidade do curso online autoinstrucional Atuação Político-Parlamentar, ofertado pela Escola Virtual da Associação Nacional dos Auditores da Receita Federal Brasileira (ANFIP)?

Na sequência, como objetivos geral e específicos, articulou-se o desejo de identificar as percepções dos cursistas egressos em relação à qualidade do curso online autoinstrucional Atuação Político-Parlamentar, utilizando-se dados coletados em instrumento próprio do pesquisador e validado por especialistas em EaD, sendo que os objetivos específicos visavam analisar os dados coletados no instrumento de avaliação da qualidade do curso, disponibilizado após a conclusão das atividades realizadas, compreender qualitativamente as diferentes evidências coletadas, bem como apresentar discussão sobre os dados coletados nos onze (11) itens do instrumento da pesquisa.

Quanto ao método da pesquisa, trata-se de uma investigação de abordagem qualitativa de caráter exploratório, com o estudo de caso como estratégia de investigação, conforme orienta Yin (2010). Trata-se de um estudo sobre Educação a Distância, incluído no projeto aprovado pelo comitê de ética da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília, de número CAAE: 62060516.5.0000.0030. Os sujeitos da pesquisa foram os 40 cursistas concluintes do curso online autoinstrucional Atuação Político-Parlamentar, ofertado pela Escola Virtual da Associação Nacional dos Auditores da Receita Federal, entre os meses de novembro de 2018 e maio de 2019. Todos esses sujeitos responderam ao instrumento de avaliação da qualidade do curso, bem como fizeram a emissão do certificado de conclusão no ambiente virtual de aprendizagem.

O curso foi estruturado com 6 vídeos em 4 módulos, com autoria de professores servidores do Senado Federal, tratamento de design instrucional, revisão ortográfica, diagramação, ilustração e fechamento de e-book para download e impressão, assim como embed na tela do ambiente virtual de aprendizagem. Em decorrência da usabilidade e conceitos de UI e IX, estruturou-se um percurso em uma trilha em abas com recursos bootstrap do tipo Buttons com apresentação do curso em formato de e-book embedado, playlist de vídeos sequenciais, avaliações em questionários online e link para a emissão do certificado de conclusão, após a obtenção de 60% de aproveitamento do curso. Foram disponibilizados canais para o suporte, tais como perguntas frequentes e central de ajuda. Um vídeo animado do tipo explainer foi publicado para a apresentação do ambiente virtual de aprendizagem, sendo conduzido pela personagem animada Eva. Após a matrícula, todos os cursistas tiveram 60 dias para finalizar a formação.

Percebe-se que existem muitos detalhes importantes na estruturação do método da pesquisa, tais como a descrição dos artefatos digitais presentes do curso, seu design instrucional, a escolha pelo seu formato autoinstrucional, e também informações que colaboram, em algum medida, para a elaboração de percepção do leitor sobre a proposta da pesquisa, sendo que para a revisão de literatura deste estudo de caso e para a construção da justificativa do artigo foram utilizadas as bases indexadas no Periódicos CAPES, Google Acadêmico e bibliotecas virtuais do curso de Especialização em Tecnologias e Educação Aberta e Digital, na modalidade a distância da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e Universidade Aberta de Portugal (UAb Portugal).

Reflexões sobre sociedade e culturas digitais

Falar sobre um curso online, que oportunizou a formação de profissionais para a atuação político-parlamentar, é abordar um tema pertinente e sensível, incipiente de produções científicas e que inevitavelmente se faz presente na nova realidade da cultura digital, haja vista que foi ofertado na modalidade de Educação a Distância por meio de tecnologias e internet. Moreira (2018) confirma que a usabilidade e conectividade tornaram-se algo imperativo, portanto, é necessário refletirmos sobre os limites, potencialidades e impactos que o uso de tecnologias promove no contexto educacional, sobretudo, na modalidade de educação a distância direcionada à atuação político-parlamentar.

Tendo em vista isso, faz-se necessário refletir sobre teorias que justifiquem o contexto da cultura digital, pois Serres (2013) nos fala sobre uma suposta oferta e demanda originada e fomentada nesse novo cenário tecnológico e de ciberespaço no século 21. De fato, apesar do conservadorismo em torno dos diversos temas sobre a formação humana, presentes no parlamento brasileiro, na sociedade, no campo da Educação e demais áreas, pode-se dizer que houve uma reviravolta, em que as tecnologias, ou como dizem alguns teóricos, novas tecnologias da informação e comunicação influenciaram de forma avassaladora a educação em ambientes digitais, favorecendo uma certa convergência entre mídias interativas, possibilidades e desafios para a formação na contemporaneidade.

Portanto, Lévy (1999) argumenta de forma coerente a evolução do ciberespaço e o avanço das tecnologias, sobretudo, dos computadores que antes da década de 70 eram máquinas utilizadas em cálculos complexos e gestão de atividades administrativas. Sabe-se também sobre fatos históricos em que as tecnologias e computadores foram utilizados em ambientes militares, sendo empregadas para o desenvolvimento das mais diversas demandas institucionais, inclusive a internet.

Essa descrição do autor nos faz refletir sobre a importância da popularização dos computadores e, consequentemente, das tecnologias digitais, especialmente em meados dos anos 80, 90 e 2000, sendo este século 21 o ápice, momento favorável para o uso tecnológico, observando arranjos e contextos históricos que foram decisivos para a proposição de possibilidades, técnicas, métodos e configurações em ambientes propositivos em cenários de educação online nas mais diversas áreas.

Serres (2013) nos contempla com teorias importantes ao tratar sobre o pensamento algorítmico, surgido na Europa com Pascal e Leibniz, inventores de máquinas de calcular, ao afirmar que um conjunto considerável de métodos utilizam procedimentos tecnológicos ou algoritmos, evidências que nos fazem refletir sobre o avançado ponto a que chegamos socialmente, em um dilema sobre os muitos desafios ainda existentes na educação digital.

Lévy (1999) nos instiga a refletir de forma crítica sobre questões tecnológicas e de ciberespaço, apontando que qualquer reflexão sobre o futuro dos sistemas de educação e de formação na cibercultura deve ser fundamentada em uma análise prévia da volatilidade contemporânea da relação com o saber difundido por meio de tecnologias. Observam-se casos e proposições já oferecidos por empresas e instituições de ensino, que deveriam ser avaliados e percebidos como elementos fundamentais no desenvolvimento da cibercultura, visando ao fomento de uma cultura de convergência de mídias para adequada formação no cenário da educação online, ou como preferem alguns, cenário da educação a distância.

Portanto, ao falarmos de tecnologias, educação online e possibilidades para educação mediada por tecnologias, ofertam-se reflexões sobre as mais diversas alternativas para a educação, as quais envolvem games e simulações cada vez mais presentes em atividades de pesquisa científica, indústria, gestão e aprendizagem em múltiplas áreas.

É necessário ter um olhar articulado sobre as tecnologias, positivamente, compreendendo que os ambientes de educação digital são complexos e voláteis, que podem ser desenvolvidos por meio da aprendizagem colaborativa e constantes investidas rumo à mudança da cultura, o que também pode ser denominada como cultura digital ou cibercultura, possibilitando a diferentes áreas se apropriarem das tecnologias para a formação de profissionais para os mais diversos e insipientes campos de intervenção, especialmente no que diz respeito à atuação político-parlamentar junto à câmara legislativa e senado federal.

Usualmente, é necessário recorrermos a teóricos do campo da cibercultura, conectividade, educação digital, educação online, educação a distância e suas variações, com o objetivo de teorizar conceitos e balizar entendimentos de que estamos vivendo uma nova era, móvel, interligada e híbrida, presente em espaços, locais e instituições, sobretudo, com finalidades de formação e oferta de serviços.

Algumas considerações sobre a educação aberta e colaborativa

A formação para a atuação político-parlamentar parece vivenciar suas primeiras experiências no contexto da educação digital, e quem sabe, futuramente, também aberta, a partir do fomento de iniciativas que visem expandir a formação de profissionais para a atuação em intervenções que recorram ao tema.

Percebe-se que, dessa forma, a sociedade está em constantes mudanças, sendo que a filosofia da educação aberta e colaborativa se torna cada vez mais incidente em diferentes regiões e contextos, independente de área e região, sendo que no contexto da atuação político-parlamentar isso não é diferente, uma vez que os assuntos de interesse da sociedade e do povo brasileiro deveriam ser amplamente socializados entre indivíduos e instituições.

Os cursos online vieram para ficar, portanto, Dias (2013) nos diz que as formas e os processos de mediação da interação social e cognitiva nas comunidades de aprendizagem apontam para novas direções e situações que favorecem o desenvolvimento do pensamento complexo sobre inúmeros fenômenos, especialmente para concepção, organização e práticas da educação aberta e em rede na sociedade digital por meio das múltiplas tecnologias.

A partir da literatura disponível, percebe-se que a educação aberta e em rede permite amplo desenvolvimento de novos percursos e práticas de experiências colaborativas, conforme Dias (2013), logo, pode-se afirmar que as aprendizagens e conhecimentos partilhados podem ser criados, remixados e difundidos de diferentes maneiras, especialmente com intenções que visem impactar o maior número de indivíduos sociais.

Dessa forma, sugere-se a criação e cocriação de espaços de aprendizagem em rede, observando-se a convergência de interesses e objetivos, planos e ações de trabalho conjunto e colaborativo pela participação e nas interações sociais e cognitivas entre os membros das comunidades (DIAS, 2013).

Paralelamente, os teóricos também afirmam que há um interesse em reforçar que os ambientes de educação aberta sejam definidos e concebidos na singularidade da experiência individual e coletiva, abrangendo mídias, métodos, técnicas e possibilidades elaboradas individualmente, nas comunidades e na própria rede mundial.

Portanto, a educação aberta e colaborativa já é algo real, consta no dia a dia de muitos profissionais e sujeitos em formação, e Moreira (2018) afirma que neste contexto de mudanças, de transformação e de abertura a novas perspectivas e cenários de aprendizagem é que devemos promover o desenvolvimento de comunidades construídas não apenas em territórios físicos, mas na convivência digital, observando evidências de educação híbrida e móvel, uma vez que se quisermos realmente inovar, será necessário que implementemos mudanças, especialmente de paradigmas.

Sendo assim, reflete-se sobre o que revela Moreira (2018) em relação ao contexto do digital, que em sua essência é responsável por essa mudança que estamos vivendo atualmente, sendo que não deveríamos compreender os fenômenos digitais como utopia, haja vista que as tecnologias digitais favorecem a inovação, integração, internacionalização, inclusão, flexibilização, mobilidade, automatização, bem como uma série de outras possibilidades entendidas como possibilidades reais, sendo que para o público-alvo deste estudo, formar-se, por meio da educação online, pode ser um diferencial competitivo, especialmente nos pleitos das questões de interesse da classe associada à instituição, responsável pela Escola Virtual em que o curso foi idealizado e ofertado.

Contextualizando o termo percepção

Oliveira et al. (2010) apontam que podemos entender o termo percepção como a maneira como um objeto é visto, o conceito que se faz sobre algum produto ou pessoa, e até mesmo a lembrança existente sobre momentos específicos ocorridos durante um período de tempo em nossas vidas.

Por sua vez, Paim (1993) destaca que percepção pode ser considerada como ato pelo qual tomamos conhecimento de um objeto presente no meio exterior, considerado como real, isto é, existente fora da própria atividade perceptiva. Oliveira et al. (2010) apontam que o desenvolvimento da percepção depende de objetos, cores e movimentos necessários para atingir um dos quatro sentidos humanos uma vez que a percepção engloba sensações, expectativas e experiências do indivíduo.

Lersch (1966) confirma que as sensações são resultantes de sinais neurais de sistemas do ambiente, iluminação, temperatura e sons, e são fundamentais para a formação da percepção, pois fazem parte dela somente após serem selecionadas, organizadas e interpretadas pelo cérebro. Vigotski (2008) orienta que a percepção se altera de acordo com o crescimento do indivíduo, desde o seu nascimento e durante toda a sua trajetória na vida adulta. Já Bee (1986) argumenta que a percepção está intimamente ligada ao "saber", bem como a "prestar atenção" em algo que nos chama atenção.

Para Oliveira et al. (2010), a percepção se altera no decorrer da vida, durante o conhecimento intelectual, em experiências e expectativas que são dinâmicas e vão se alterando conforme as motivações de cada indivíduo. Dessa forma, o indivíduo não tem consciência de suas totais mudanças e também não conhece as alterações na sua percepção sobre diferentes eventos pertencentes ao seu cotidiano.

Sheth et al. (2001) relembram que as percepções dos indivíduos podem ser alteradas por conta das suas crenças pessoais; Krech e Crutchfield (1980) confirmam que a composição da percepção de um indivíduo está relacionada com sua interação com um objeto, além de suas diferenças culturais, valores e até mesmo doenças físicas, mentais e alterações hormonais. Conhecer um determinado objeto diferencia a maneira de ele ser percebido, assim como a motivação pessoal também pode ser fator de alteração da percepção.

A motivação e a personalidade do indivíduo têm papel importante no processo de composição da percepção, pois conforme aponta Carter (2003), o sistema nervoso central recebe por meio dos receptores sensoriais uma série de sensações a todo o momento, o que estimula os neurônios em regiões diferentes do cérebro.

Sendo assim, observa-se que a percepção se inicia a partir do contato do indivíduo com o meio, o que se dá através da interação com os estímulos sensoriais. Contudo, faz-se necessário compreender Myers (2003), o qual diz que pode haver alguma falha entre as sensações e o processo perceptivo de um indivíduo, evento que pode ser considerado totalmente normal na vida humana, impactando a forma como as percepções sobre algo são concebidas.

Perceba que na estruturação do texto é lançada mão de teorias de diferentes autores que conceituam percepção, situação que possibilita compreender a percepção a partir de diferentes estudiosos. Inevitavelmente, a percepção faz parte do nosso cotidiano e as definições de Oliveira et al. (2010) justificam de forma coerente o discurso para compreendê-la, uma vez que ela é gerada a partir de sensações, somadas às expectativas e experiências do indivíduo em inúmeras situações ou circunstâncias de seu dia a dia.

Leônidas (2016) revela que as percepções são consideradas como uma função que atribui significados a partir do histórico de vivências. Geralmente, eventos bons e ruins, situações agradáveis e desagradáveis, convivências harmoniosas e conflituosas, momentos felizes e tristes, bem como situações presentes em qualquer situação social, irão gerar interpretações pessoais com o objetivo de atribuir significado ao meio.

Pode-se citar como exemplo a percepção de diferentes cores visualizadas em uma sala de aula ou quadra esportiva, sendo que esses aspectos, conforme relembra Leônidas (2016), contribuem para a atribuição de significados por uma pessoa, pois a percepção pode ser entendida como interpretação, aquisição, seleção e organização das informações obtidas pelos sentidos e gerada pela fisiologia e processos mentais, podendo ser analisada por pontos de vista presentes em aspectos psicológicos, cognitivos ou biológicos.

Evidências teóricas sobre a atuação político-parlamentar

Netto e Queiroz (2019) afirmam que o processo decisório no Congresso Nacional é complexo, e seu desfecho é muito mais produto da negociação, das disputas internas (ideológica, política ou orçamentária etc.), da pressão externa e da correlação de forças do que da ação puramente racional, como imagina o senso comum. Os autores descrevem que o trabalho parlamentar, por meio da atuação político-parlamentar, busca prestar esclarecimentos e defender causas, pleitos e interesses de categorias, por meio do acesso às autoridades, de interlocutores em defesa da carreira, dos direitos previdenciários e dos temas tributários e fiscais em debate no Poder Legislativo.

Desta forma, Carneiro et al. (2014) apontam que o processo legislativo compreende a elaboração de: I -- emendas à Constituição; II -- leis complementares; III -- leis ordinárias; IV -- leis delegadas; V -- medidas provisórias; VI -- decretos legislativos; VII -- resoluções. Consiste também em um conjunto de atos -- iniciativa, emendamento, discussão, votação, sanção, promulgação, publicação, veto etc. -- praticados pela Câmara dos Deputados, pelo Senado Federal e, no que couber, pelo Presidente da República, com vistas à produção de normas que integrem o ordenamento jurídico brasileiro.

Portanto, Carneiro et al. (2014) afirmam que para realizar uma atuação junto ao Poder Legislativo, faz-se necessário que compreendamos o papel desempenhado pelos congressistas, bem como, o funcionamento do sistema legislativo, refletindo sobre como o Poder Legislativo federal elabora as normas legais e constitucionais, percebendo-se como ele cumpre o papel primordial ao exercer a fiscalização financeira, operacional, contábil, orçamentária e patrimonial sobre os poderes da União.

Sendo assim, Carneiro et al. (2014) apontam que o relacionamento com o governo e com o Congresso existe porque é preciso moderar os poderes do Estado, que, por intermédio das instituições de governo, dispõe dos monopólios: a) de impor conduta e punir seu descumprimento, podendo mobilizar exércitos e utilizar a violência para fazer valer suas decisões (poder coercitivo); b) de legislar ou de fazer leis obrigatórias para todos; e c) de tributar, ou seja, de arrecadar compulsoriamente o excedente econômico da sociedade.

Percebe-se, assim, que formar um corpo de profissionais, para a realização de intervenções, objetivando adquirir pleitos pessoais das instituições que atuam, e de sua categoria profissional, é fundamental em um estado democrático de direito, haja vista que o ordenamento brasileiro proporciona a atuação dos atores políticos nas variadas instâncias e casas em que ocorrem processo legislativo, sendo que este é destinado, conforme descreve Netto e Queiroz (2019), para a produção de emendas à Constituição, leis complementares, ordinárias, delegadas, e também, decretos legislativos e resoluções, bem como a conversão ou não em lei das medidas provisórias propostas pelo Presidente da República, como resultado da aprovação das proposições que tramitam nas diversas instâncias das Casas legislativas.

Ao compreender os diversos processos inerentes ao processo legislativo brasileiro, o profissional que exercerá a atuação político-parlamentar poderá vivenciar as variadas possibilidades do legislativo, sendo que este, conforme relembra Coelho (2007), não se refere apenas à atividade legislativa exercida pelo Poder Legislativo, mas abrange, ainda, a elaboração legislativa que está a cargo do Executivo, representada pelas leis delegadas e medidas provisórias. E ainda, conforme aponta Nelson de Sousa Sampaio sobre o legislativo, os elementos nele envolvido direcionam a ação dos parlamentares, tais como os grupos de pressão, entidades da sociedade civil, pactos entre os partidos e entre os próprios legisladores, entre outros exemplos.

A partir de conteúdos técnicos e baseados na legislação vigente, foi estruturada uma proposta de curso online Atuação Político-Parlamentar, destinado ao corpo de auditores e integrantes da ANFIP, visando instrumentalizá-los para as intervenções, bem como ampliando a difusão da formação por meio da EaD.

Justificativas para o curso online Atuação Político-Parlamentar

Netto e Queiroz (2019) dizem que o curso Atuação Político-Parlamentar da ANFIP, ofertado pela Associação Nacional dos Auditores da Receita Federal, tem por objetivo, explicitar, com dados, informações e análises o "funcionamento, o papel e a missão do Poder Legislativo", além de apontar ferramentas e estratégias de acompanhamento do processo decisório no Congresso Nacional.

Conforme o plano de curso criado pelos autores do curso online, professores Miguel Gerônimo da Nóbrega Netto e Antônio Augusto de Queiroz, o curso online Atuação Político-Parlamentar foi constituído de 4 módulos, com conteúdo programático apoiado em videoaulas, com abordagens sistematizadas em 4 módulos, sendo eles: 1. Processo legislativo; 2. Estrutura e espaços institucionais do Poder Legislativo; 3. Formas de Atuação; e 4. Trabalho Parlamentar. A proposta visava à sistematização de uma visão ampla sobre o que é, o que faz e como funciona o Poder Legislativo, além do necessário conhecimento sobre o trabalho parlamentar, que vai desde as modalidades de proposições legislativas, papéis dos líderes e das comissões temáticas, passando por noções de atuação (lobby, grupos de pressão, advocacy, relações institucionais etc.), de rotinas e estratégias, até regras de postura, requisitos do jogo parlamentar e forma de abordagem no dia a dia da atividade.

Netto e Queiroz (2019) demonstram que na conclusão do curso, os participantes deveriam estar aptos a compreender o processo decisório no âmbito do Poder Legislativo federal, com base na atuação dos atores e nos procedimentos e fases identificados no âmbito do processo legislativo, assim como perceberem a importância das funções legislativa e representativa e os instrumentos para elaboração das normas jurídicas.

Afirma-se, dessa forma, que uma vez qualificados, os quadros de associados de diferentes instituições e entidades podem fazer o trabalho parlamentar a partir de conhecimentos e o domínio sobre as regras, os procedimentos, as estruturas e os atores que conduzem o processo decisório no âmbito do Poder Legislativo.

Destaca-se a importância da formação de capital humano para a defesa dos mais diversos interesses de classe, pois conforme relembram Netto e Queiroz (2019), a importância e a necessidade do aprendizado estão diretamente associadas à missão da entidade que propôs o curso, que consiste em representar e defender os direitos e interesses profissionais dos auditores-fiscais perante as autoridades constituídas, particularmente no Congresso Nacional.

Ao estabelecermos reflexões sobre as teorias de Netto e Queiroz (2019), percebemos a multidisciplinaridade da educação a distância no contexto atual, haja vista que esta é receptiva, customizável e inclusiva, ao percebermos que diversas áreas, especialmente a gestão pública, podem dialogar e articular desenhos de cursos EaD, capazes de formar indivíduos para os mais diversos contextos e pleitos inerentes ao conhecimento e vivência das características próprias do parlamento brasileiro.

Método

Esta pesquisa é uma investigação de abordagem qualitativa, com objetivo exploratório e método estudo de caso como estratégia de investigação, conforme orienta Yin (2010). Os sujeitos da pesquisa foram os 110 cursistas matriculados entre os meses de novembro de 2018 e maio de 2019.

Os respondentes da pesquisa foram 42 indivíduos, que correspondem a 42,6% da amostra, sendo que todos fizeram a emissão do certificado de conclusão do curso no ambiente virtual de aprendizagem.

Apresentação e discussão dos dados

Nesta seção, apresentamos a sequência dos onze (11) itens com questões relacionadas à coleta de dados da pesquisa, sendo que a amostra selecionada foi de 110 cursistas regularmente matriculados no curso de atuação político-parlamentar, em que os respondentes corresponderam a 42 indivíduos, sendo 42,6% da amostra concluintes e respondentes da avaliação da qualidade do curso e com posterior emissão do certificado digital de conclusão. Dessa forma, a apresentação dos dados da pesquisa refere-se aos itens presentes na estrutura no instrumento online de coleta das percepções, adaptado por Leônidas (2016) e criado a partir das teorias de Cronin e Taylor (1992), e aspectos da escala SERVQUAL proposta por Parasuraman et al. (1985).

Ao iniciarmos as descrições a partir do item 1, que mensura por meio de uma escala de 0 a 10, sendo 0 a menor nota e 10 a maior nota, na questão "Como você avalia o curso online Atuação Político-Parlamentar, 32% confirmaram nota 10, seguido de 45% que assinalaram nota 9, enquanto 17% marcaram nota 8 e 4% nota 7, finalizando com 2% que registraram nota 6. Percebe-se, portanto, que neste item, 77% dos cursistas avaliaram o curso com as notas 9 e 10, respectivamente, ocorrendo a maior incidência de registros para a opção de avaliação com a nota 9.

Acredita-se que tais resultados da inferência de percepções estão diretamente relacionados ao formato adotado no curso Atuação Político-Parlamentar, bem como do notório saber dos autores convidados, das mídias utilizadas na composição do curso, do suporte técnico disponível na central de atendimento, assim como da importância que a instituição representa para os seus associados.

Em relação ao item 2 do instrumento da pesquisa, que se refere à questão: "Você acredita que os autores do curso demonstraram familiaridade na elaboração e proposição dos conteúdos apresentados? Assinale sua percepção", 2% da amostra respondente assinalou a opção pouco satisfeito, enquanto 26% satisfeitos, 70% muito satisfeitos, sendo que apenas 2% afirmaram não ter condições de opinar. Percebe-se uma predominância de muito satisfeitos e satisfeitos, totalizando escores que somados apontam 96% de percepções para essas duas opções.

Parece que tais escores são resultados da percepção que os cursistas possuem em relação à extensa experiência dos professores junto ao cotidiano e trâmites do processo legislativo brasileiro, que pode ser percebida pelas obras já publicadas pela dupla de conteudistas, pela carreira junto ao legislativo, visto que são servidores públicos e dominam o tema, e também do relacionamento que estes possuem com a associação promotora do curso EaD, neste caso a ANFIP.

Sobre o item 3 do instrumento da pesquisa, "Você acredita que o material didático do curso, disponibilizado em formato .pdf possui organização convidativa que favorece a leitura? Assinale sua percepção:", 9% da amostra respondente assinala a opção pouco satisfeito, enquanto 45% satisfeitos, 40% muito satisfeitos, sendo que 6% afirmaram não ter condições de opinar. Ao analisar os registros, verifica-se a predominância de muito satisfeitos e satisfeitos, que somados totalizam escores de 85% de percepções para as opções citadas no item.

Tais registros obtidos nos fazem refletir que, conforme Barreto (2014), o desenho instrucional dos materiais didáticos para Educação a Distância é o que permite que as aulas sejam envolventes, motivantes e relevantes, e podem mostrar-se essenciais para os alunos. A autora destaca que a linguagem utilizada em materiais para a Educação a Distância tem importância decisiva, uma vez que, utilizada adequadamente, pode persuadir os aprendizes a experimentar interatividade entre outras vivências, além de realizar novas buscas, pesquisas e questionamentos que se fazem adequados ao seu aprendizado.

Na sequência da apresentação, o item 4 do instrumento de coleta da pesquisa: "Você acredita que o material didático do curso favorece a aplicabilidade na sua realidade profissional? Assinale sua percepção:", registra-se que 4% da amostra respondente assinalou a opção pouco satisfeito, enquanto 46% satisfeitos, 41% muito satisfeitos, sendo que 9% afirmaram não ter condições de opinar. Nesses registros, a predominância com maiores escores ocorre com as opções muito satisfeitos e satisfeitos, que somadas, totalizam registros 87% de percepções.

Percebe-se que o desenho do material didático deve estar alinhado com as características e possíveis expectativas dos cursistas, sendo necessário aos professores autores uma articulação entre tópicos e teorias, a fim de proporem desenhos compatíveis com os interesses dos cursistas e, sobretudo, significativos para o seu dia a dia. Sendo assim, Gomes e Silva (2016) afirmam que os desafios da contemporaneidade, desse mundo permeado por tecnologias, de novas formas de socialização e de amplitude comunicacional requerem docentes que busquem seu desenvolvimento nos níveis cognitivo, emocional e comportamental, em evidências aplicáveis aos mais diversos cenários de educação online.

Discorrendo sobre o item 5 da pesquisa, que apresenta uma questão qualitativa: "Se você fosse o(a) professor(a) autor(a) desse curso o que faria diferente em seu planejamento?", registra-se diversos anseios da amostra respondente, sendo que recorrentemente, solicitam o acréscimo de novas videoaulas adicionalmente às existentes, melhoria na escrita de trechos do material didático, inclusão de exercícios de fixação ao longo da leitura, atividades interativas, bem como atividades de avaliação da aprendizagem com maior abrangência sobre o tema do curso online.

Percebe-se que a exigência para este novo contexto reforça a importância de o professor que deseja ser docente online manter-se alinhado com as possibilidades que a educação a distância, educação online e suas variações oferecem para o cenário que se deseja construir, haja vista que, segundo Teixeira e Silva (2013), o docente mudou o foco de um mero transmissor de informações e detentor do conhecimento absoluto para encarar um novo papel na cultura da Web Semântica, como um mediador e orientador das atividades educativas no incentivo à aprendizagem colaborativa do aprendente e das novas gerações conectadas. Nesse contexto, a reflexão de Piaget (1972) ainda se mantém atual, quando diz que o conhecimento não é uma cópia da realidade, pois conhecer é modificar, transformar o objeto e compreender o processo dessa transformação para compreender como aquele é construído.

Já o item 6, "Você acredita que a carga horária estabelecida para o curso foi suficiente para seu aprendizado? Assinale sua percepção:", 2% da amostra confirma que não possui condições de opinar, sendo que 41% declaram muita satisfação, enquanto 48% afirmam satisfação. Neste item, 9% dos respondentes registram pouca satisfação, sendo que há evidências que demonstram a predominância de satisfeitos e muito satisfeitos, totalizando um somatório de 89%.

Neste item, percebe-se um escore relativamente baixo, mas significativo, de respondentes pouco satisfeitos com a proposta em questão. Neste caso, recorremos a Gomes e Silva (2016), pois refletem que embora a ação de planejamento seja fala recorrente nas atividades educacionais, a ideia de perceber a realidade, avaliar possíveis caminhos, construir referenciais futuros, antecipando possíveis resultados ainda parece bem distante da prática docente, considerações que nos ajudam a refletir sobre a importância do alinhamento das proposições, versus as expectativas dos cursistas sobre a aplicabilidade da proposta em sua formação e no seu dia a dia, especialmente no mundo do trabalho.

Desta forma, avançamos na apresentação caracterizando o item 7, que abordou a questão "O Ambiente Virtual de Aprendizagem da Escola Virtual funcionou bem, estando disponível online de forma satisfatória durante toda a oferta do curso? Assinale sua percepção", 2% da amostra apontou pouca satisfação, enquanto 30% confirmaram satisfação e 68% muita satisfação com o item questionado, registros que ao serem somados, confirmam 98% de satisfeitos e muito satisfeitos.

No caso deste item, percebe-se uma boa aceitação do ambiente virtual de aprendizagem da oferta do curso online, sendo que a sua organização agradou uma parcela considerável dos cursistas que o acessaram. Esse fato é interessante, haja vista que é necessário expertise e conhecimento de estudos de casos para a proposição de um desenho instrucional de ambientes, com desenvolvimento web passíveis de serem acessíveis e bem avaliados, uma vez que, conforme destacam Moreira e Dias Trindade (2019), as visões populares das tecnologias digitais tendem a exagerar tanto na promessa como no risco, sendo que os computadores e a internet não são remédios instantâneos para currículos mais ou menos obsoletos nem tampouco camuflagens para as tradicionais instruções didáticas, dessa forma, ter clareza sobre a composição do curso online que será ofertado, bem como das possibilidades que o ambiente virtual de aprendizagem dispõe, faz-se como essencial para a busca da adesão, retenção e aprovação de um número significativo de cursistas e, sobretudo, possibilita o cumprimento adequado dos objetivos educacionais da instituições que fazem o uso da EaD.

Sequencialmente, o item 8 questionou sobre "O design do Ambiente Virtual de Aprendizagem da Escola Virtual possui estética, cores relevantes e ilustrações condizentes com os conteúdos propostos para o curso? Assinale sua percepção, tendo revelado assim, 2% de insatisfeitos, 2% de pouco satisfeitos, 56% de satisfeitos, 38% de muito satisfeitos, enquanto 2% assinalaram estar sem condições de opinar no item em questão, revelando evidências que, ao serem somadas, mostram 94% de satisfeitos e muito satisfeitos com o questionamento realizado.

Destaca-se que o design favorece o processo educativo e torna as experiências na educação online muito mais atrativas e representativas para um determinado contexto, sendo que Silva (1999) afirma que o emprego de técnicas de design na área da educação é bem amplo, haja vista que, ao considerar o design como uma forma de resolução de problemas, veremos soluções muito antigas em forma de materiais pedagógicos, métodos de ensino e mesmo de currículos. Não apenas na área da EaD, mas as técnicas do design são amplamente utilizadas na concepção de brinquedos, espaços de sala de aula, mobiliário, softwares educativos, livros impressos e livros eletrônicos (e-books), multimídia, vídeos, jogos e ambientes de aprendizagem; entre muitos outros tipos de produtos, desde softwares educativos a equipamentos (GOMES; PADOVANI, 2005; ALVES et al., 2005; GOMES et al., 2013), podendo ser um diferencial notável nas variadas proposições de projetos educação online.

Posteriormente, temos os itens 9 e 10, que referem-se a questões qualitativas descritas como: "Acrescente comentários referentes aos pontos fortes e fracos deste curso:", que revelam novas considerações da amostra, entre elas: Sugestões para a ampliação de tópicos com densidade e qualidade nos conteúdos apresentados, consideração positiva sobre o domínio de conteúdo pelos professores conteudistas, fácil acesso com acessibilidade da Escola Virtual e didática empregada pelos professores, sendo esses tópicos compreendidos como pontos fortes. Sequencialmente, para os pontos fracos, registrou-se queixas sobre a falta de interação entre participantes e professores, sobre a arquitetura do índice e paginação dos materiais didáticos, necessidade de novas revisões ortográficas de textos e inclusão de figuras, haja vista a ocorrência de poucas ilustrações e esquemas, registros que revelam possibilidades críticas e enriquecedoras para posteriores correções e melhorias no curso online.

Por fim, destaca-se o item 11, estruturado enquanto o último item qualitativo do instrumento da pesquisa que descreve a questão: "Desejamos saber um pouco mais. Opine sobre qualquer outra questão desse curso que julgue importante. Críticas, sugestões e observações são fundamentais.", sendo um item do tipo dissertativo, geralmente favorável à captação de evidências que proporcionam correções, reparos e melhorias para as próximas ofertas do curso online. Portanto, para o item em questão, destaca-se novas considerações reveladas em torno da necessidade da adição de diferentes estudos de casos e questões formativas ao longo das leituras e após as videoaulas.

Conforme destaca Leônidas (2016), essa sequência aponta percepções oriundas de impressões sobre questões que se enquadram como importantes para os egressos cursistas do curso de Atuação Político-Parlamentar. A partir desses dados, podemos compreender variados sentimentos em evidências científicas, que transcorrem da formação dos cursistas nos seus muitos momentos, revelando questões que, em tempo, criticam aspectos do curso, mas também proclamam características que condizem com percepções de satisfação em variados itens.

Portanto, acredita-se que todos os questionamentos induzem a uma compreensão do que os cursistas inicialmente pensam sobre o curso, inclusive, revelam um panorama sobre as reais percepções registradas por estes, sendo que todo e qualquer registro, sejam eles elogiando ou criticando, são constructos que possuem seu valor, que contribuem para ciência e beneficiam o conhecimento da proposta do curso objeto deste estudo de caso.

Considerações finais

Como conclusões desse artigo, destaca-se a necessidade da realização de pesquisas para a exposição dos variados achados relacionados à percepção de cursistas sobre cursos EaD, haja vista que muitos cursos são idealizados, ofertados e avaliados com critérios, em alguns casos, insuficientes, e sem a devida publicização dos resultados, sendo este um fator fundamental para o conhecimento e melhor compreensão do panorama em que os cursos na modalidade de Educação a Distância estão localizados, especialmente o curso em questão, Atuação Político-Parlamentar, da Escola Virtual da Associação dos Auditores da Receita Federal Brasileira - ANFIP.

É preciso compreender que as relações humanas, sociais e pedagógicas contemporâneas têm sofrido grandes transformações impulsionadas pela apropriação das tecnologias, que assumem um papel crucial na mudança de hábitos e comportamentos, conforme apontam Moreira e Dias Trindade (2019), portanto, ofertar cursos online, disciplinas EaD, bem como projetos de educação online por meio da internet se faz como intervenção educacional promissora, dada a natureza das demandas de Educação a Distância, geradas rotineiramente nas mais diversas instituições.

Desta forma, e conforme destaca Leônidas (2016), as percepções dos cursistas descrevem múltiplas intenções de endossar certa visão de qualidade, com respostas que, em grande parte, mostram cursistas satisfeitos e muito satisfeitos com o curso, mas que também indicam algumas insatisfações, pontos fracos do curso, elementos que formam percepções coerentes para melhorias e estruturação de boas práticas, haja vista os objetivos da pesquisa em obter variadas percepções a partir de diferentes questionamentos dos cursistas.

Conforme Moreira e Dias Trindade (2019), entende-se que a capacidade para aprender por si mesmo é um requisito cada vez mais importante para alcançar o sucesso nas múltiplas dimensões que formam o indivíduo, sendo que este pode aprender de forma autoinstrucional, autônoma e responsável, dessa forma, este estudo de caso sobre o curso online Atuação Político-Parlamentar, ofertado pela ANFIP, pode ter contribuído de forma coerente para a formação e carreira de seus cursistas associados, dadas as valiosas respostas registradas no instrumento online de avaliação da qualidade do curso.

Destaca-se que essa pesquisa é preliminar e apresenta alguns limites, sendo que a partir da autoavaliação do pesquisador, este estudo não tem intenções de esgotar as discussões em torno dos estudos sobre as percepções de cursistas na Educação a Distância, justamente por colaborar como uma contribuição pontual sobre o problema estudado, portanto, aconselha-se outros estudiosos a realizarem pesquisas sobre percepções de egressos da EaD, visando indícios para registros e a apresentação à comunidade acadêmica e sociedade.

Espera-se que outros pesquisadores produzam conteúdos científicos e instrumentos que favoreçam a mensuração de percepções de cursistas em cursos à distância, visando difundir panoramas de cada curso, não apenas no campo do legislativo e na atuação político-parlamentar, mas em qualquer campo que necessite compreender as percepções de seus alunos, bem como a efetividade de seus cursos, haja vista que estes se fazem necessários de serem estudados, dada a sua aplicabilidade nas mais variadas áreas de estudos.

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