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Utilização do Facebook para o ensino da Astronomia: uma proposta metodológica para a formação de estudantes e professores de ciências na perspectiva da Base Nacional Comum Curricular

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Autores

Mestre em Ensino de Astronomia, pelo Programa de Pós-Graduação em Astronomia da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Especialista em Gênero e Sexualidade na Educação, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Especialista em Tecnologias e Educação Aberta e Digital pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Especialista em Ensino de Química e Biologia pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF). Licenciado em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci/ Universidade Estadual de Feira de Santana. Atualmente, é professor de Biologia e Química da Secretaria de Educação do Estado da Bahia e professor supervisor do subprojeto de Biologia do PIBID da UEFS. E-mail: rafalonguinhos@hotmail.com.

Mestra em Educação (UFBA, 2014), Pedagoga (UFBA, 2010) e graduanda em Letras Libras. Especialista em Educação de Jovens e Adultos (UFBA, 2011) e em Coordenação Pedagógica (UFBA, 2012). Coordenadora Pedagógica Escolar concursada da Secretaria Municipal de Educação de São Francisco do Conde (BA). Professora orientadora do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na Pós-graduação em Tecnologias e Educação Aberta e Digital (UFRB). E-mail: adriana.ufba@gmail.com.

Resumo: O presente estudo traz a análise acerca da utilização da rede social Facebook como cenário virtual de aprendizagem para a formação de estudantes e professores de Ciências no campo da Astronomia, sob a perspectiva da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Neste trabalho, utilizou-se o método de abordagem qualitativa, adotando-se a pesquisa bibliográfica como meio técnico procedimental de investigação, possibilitando um maior aprofundamento teórico a respeito dos possíveis benefícios da adoção de cenários virtuais de aprendizagem no Ensino Fundamental como uma ferramenta metodológica ao longo do processo de ensinar e aprender Astronomia. Com os resultados obtidos, verificamos que a utilização da rede social Facebook para se discutir temáticas da Astronomia não é uma novidade no mundo acadêmico, sendo abordado em trabalhos de especialização, mestrado e doutorado. Sob a ótica da BNCC, os conteúdos sugeridos como pertinentes para discussões no grupo de estudos em Astronomia, no Facebook, foram: a forma, estrutura e movimentos da Terra; composição do ar; efeito estufa; camada de ozônio; sistema Sol, Terra e Lua; clima; composição, estrutura e localização do Sistema Solar no universo; Astronomia e cultura; vida humana fora da Terra; ordem de grandeza astronômica e evolução estelar. Nesse contexto, concluiu-se que para um processo de ensino e aprendizagem em Astronomia mais significativo e contextualizado, professores e estudantes precisam estar dispostos a compreender os avanços da era digital, haja vista que os livros didáticos não conseguem acompanhar a rapidez com a qual os conhecimentos astronômicos são produzidos e difundidos no ambiente virtual.

Palavras-chave: astronomia; BNCC; ensino de ciências; ensino fundamental; Facebook.

Introdução

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o Ensino Fundamental, aprovada em 2017 pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e homologada, no mesmo ano, pelo Ministério da Educação, estabelece que as temáticas da Astronomia devem ser trabalhadas ao longo do Ensino Fundamental (do 1º ao 9º ano), entretanto, a formação inicial dos professores brasileiros não os capacita para desempenhar com eficiência tais determinações.

O presente estudo possui abordagem qualitativa, que "objetiva gerar conhecimentos novos úteis para o avanço da ciência sem aplicação prevista" (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 51), caracterizando-o como uma pesquisa básica. Adotou-se a pesquisa bibliográfica como meio técnico procedimental de investigação, possibilitando um maior aprofundamento teórico a respeito dos possíveis benefícios da adoção de cenários virtuais de aprendizagem como uma nova ferramenta metodológica ao processo de ensinar e aprender Astronomia no decorrer dos anos finais do Ensino Fundamental (do 6º ao 9º ano). Na etapa da pesquisa bibliográfica foram realizadas consultas em bases de dados da Capes, do Google Scholar e do Scielo (bibliotecas eletrônicas), bem como, em bibliotecas de universidades públicas para que pudéssemos ampliar o nosso entendimento a respeito do estudo da Astronomia em meio digital.

As atuais gerações de estudantes tanto das escolas quanto das instituições de ensino superior vêm demandando, implicitamente, dos educadores o uso de metodologias diferenciadas em prol de um processo de ensino e aprendizagem cada vez mais efetivo e significativo. As metodologias empregadas desde tempos pretéritos para o processo de ensino e aprendizagem não dão conta das atuais demandas apresentadas pelos estudantes.

Diante disso, acredita-se que os professores necessitam apropriar-se mais do universo dos seus estudantes, público composto em sua maioria por crianças e adolescentes, considerados nativos digitais, aqueles que "[...] dominam as questões tecnológicas de modo fácil e simplificado, sem maiores problemáticas." (SILVA, 2014, p. 11). Assim sendo, o problema de pesquisa com o qual deparamos foi: quais as possibilidades de utilização da rede social Facebook como cenário virtual de aprendizagem para a formação de estudantes e professores no campo da Astronomia ao longo dos anos finais do Ensino Fundamental?

Como os cenários virtuais de aprendizagem objetivam "[...] descrever situações, preferencialmente que se aproximem das experiências do mundo real e, a partir delas, desenvolver atividades associadas por meio de elementos lúdicos." (GUSMÃO; MENEZES JÚNIOR; MACHIAVELLI, 2014, p. 2), a Astronomia pode ser utilizada como tema gerador de estudos e debates nas redes sociais, incentivando a criação de grupos e/ou páginas virtuais para a promoção de discussões e divulgação das mais diversas notícias e curiosidades.

A partir de tais possibilidades, escolheu-se a Astronomia para servir de tema gerador para a criação de um cenário virtual de aprendizagem no Facebook porque, infelizmente, além do conhecimento humano já ser estudado de maneira fragmentada pelas escolas por meio de suas disciplinas, o ensino das temáticas da Astronomia, transversais às Ciências Naturais (que englobam a Geociências, a Biologia, a Física e a Química) durante os anos finais do Ensino Fundamental, também vem sendo realizado de forma fragmentado e desconectado com o que os(as) estudantes vêm aprendendo ao longo de seu percurso escolar.

Essas práticas fragmentadas de ensino e aprendizagem não levam em consideração a estrutura cognitiva dos estudantes, defendida nos anos de 1960 por David Paul Ausubel, especialista na área da Psicologia Educacional. Ele afirmava que o ensino deveria partir daquilo que os estudantes já sabem, ou seja, por meio dos conhecimentos prévios que os estudantes trazem consigo, formando uma espécie de ancoragem.

Diante disso, ressalta-se que o objetivo geral deste estudo foi analisar a possibilidade da utilização da rede social Facebook como cenário virtual de aprendizagem para a formação de estudantes e professores no campo da Astronomia, na perspectiva da BNCC. Para isso, fez-se necessário definirmos os seguintes objetivos específicos: delimitar sob a ótica da BNCC quais conteúdos seriam pertinentes para discussões no grupo de estudos em um espaço virtual; investigar se havia indícios na literatura especializada quanto à promoção de debates em grupo de estudos por meio de temas geradores (em nosso caso, sobre os tipos de estrelas, formas das galáxias...), e; contribuir com o processo de ensino e aprendizagem da Astronomia com a utilização do Facebook.

O ensino da Astronomia antes da BNCC

Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental para a área das Ciências Naturais de 1998 organizam os conteúdos em quatro eixos temáticos: Terra e Universo, Vida e Ambiente, Ser Humano e Saúde, Tecnologia e Sociedade. Ao analisarmos as possibilidades de utilização da rede social Facebook como cenário virtual de aprendizagem fez-se necessário atentarmos para as recomendações do eixo Terra e Universo, no qual os estudantes devem compreender as "[...] teorias que explicam essa história [da composição e fisionomia terrestre], desde as teorias fixistas e catastrofistas até elementos das teorias da evolução e da formação e deslocamento das placas tectônicas." (BRASIL, 1998).

E nesse mesmo eixo, 'Terra e Universo', é defendido que:

Compreender o Universo, projetando-se para além do horizonte terrestre, para dimensões maiores de espaço e de tempo, pode nos dar novo significado aos limites do nosso planeta, de nossa existência no Cosmos, ao passo que, paradoxalmente, as várias transformações que aqui ocorrem e as relações entre os vários componentes do ambiente terrestre podem nos dar a dimensão da nossa enorme responsabilidade pela biosfera, nosso domínio de vida, fenômeno aparentemente único no Sistema Solar, ainda que se possa imaginar outras formas de vida fora dele. (BRASIL, 1998).

Tradicionalmente, no Ensino Fundamental, o ensino da Astronomia vem sendo responsabilidade dos professores que lecionam a disciplina de Ciências Naturais, cuja formação se dá em cursos de nível superior de Licenciatura em Pedagogia e Licenciatura em Ciências Biológicas, nos anos iniciais e finais dessa etapa de ensino, respectivamente. A maioria das universidades brasileiras e demais centros de formação de professores para o ensino de Ciências não possuem disciplinas em sua matriz curricular que abordem as temáticas da Astronomia. Essa problemática inviabiliza a qualidade do processo de ensino e aprendizagem dessas temáticas no Ensino Fundamental, especialmente nos anos finais, momento de consolidação de certos conhecimentos astronômicos.

Em relação aos anos finais, observa-se que no 6º ano, os estudantes tinham o seu primeiro contato com a Astronomia ao estudar sobre as estrelas, os planetas e demais corpos celestes, além de compreenderem que o conhecimento que temos a respeito do cosmos é resultado do estudo de astrônomos e outros pensadores que se dedicaram à observação e estudo da formação e composição do universo. Já no 7º ano, trabalhava-se com a questão da origem da vida em que não se discutia a relação da teoria do Big Bang com o surgimento das primeiras formas de vida no planeta Terra.

Com base no que foi exposto anteriormente, percebe-se que na perspectiva da teoria do Big Bang, todo ser vivo é composto por elementos químicos. A vida no planeta Terra só foi possível após a morte das estrelas, já que "os planetas se formam a partir de um disco de poeira e gás que sobram durante a formação da estrela" (NOGUEIRA; CANELLE, 2009, p. 105). Nesse viés, é possível retomar o conteúdo em questão no último ano do Ensino Fundamental, no 9º ano, durante as aulas de Química, quando for abordado a respeito dos elementos químicos e de como estamos interligados ao cosmos. Aqui, é possível citar a questão de que os "átomos biogênicos: nitrogênio e carbono [...] foram formados há mais de 12 bilhões de anos, quando estrelas um pouco maiores que o Sol começaram a morrer." (DAMINELI, 2010, p. 644).

No 8º ano, discutia-se a questão do conceito de seres vivos e as condições ambientais favoráveis à manutenção deles. Naquele momento, era possível trazer à tona questões da Astrobiologia, que nos permite discutir a respeito das condições próprias da Terra que a torna o único planeta com vida conhecida no Sistema Solar e a questão de a célula ser a unidade básica da biodiversidade existente em nosso planeta, salientando que quando se pretende encontrar vestígios de vida extraterrestre, busca-se inicialmente por estruturas celulares, pois a célula é o menor componente de um ser vivo.

No último ano do Ensino Fundamental 9º ano, dialogava-se com os temas transversais da Astronomia em Química, ao qual se podia discutir sobre as teorias que afirmam que as moléculas de água vieram de corpos estelares. Nessa perspectiva, a água "[...] se formou usando o hidrogênio (o átomo mais abundante no Universo), gerado no Big Bang, e o oxigênio (o terceiro átomo mais abundante), expelido na morte da primeira geração de grandes estrelas [...]" (DAMINELI, 2010, p. 643-644).

Ainda no 9º ano, trabalhava-se com a Física, na qual eram discutidos assuntos, como: Eclipses solar e lunar, magnetismo, gravidade, luz, tipos e transformações de energia etc., sendo possível chamar a atenção dos estudantes para o fato de que "a Astronomia apresenta o esforço humano, ao longo da história, para descrever o Cosmos e a posição que ocupamos no Universo. É a mais antiga das Ciências e pode ser vista como precursora da Física [...]." (PUCRS, 2016).

É por meio da contemplação do céu estrelado que a Astronomia "ganhou vida", dado que "ao observar os movimentos dos corpos que estão no céu, por exemplo, a Lua, o Sol e os astros errantes, normalmente as pessoas ficam fascinadas. Esse fascínio gera dúvidas e desperta a curiosidade sobre esses acontecimentos" (ALBRECHT; VOELZKE, 2016, p. 2). Tanto é, que em "... tempos antigos, na fala e nos hábitos cotidianos, os acontecimentos mais mundanos eram relacionados aos maiores eventos cósmicos." (SAGAN, 2017, p. 19).

As citações anteriores mostram que na disciplina de Ciências deve ser abordada a questão da origem da vida relacionando com os conhecimentos sobre a teoria do Big Bang. Diante disso, considerou importante apresentar inicialmente a inserção do ensino da Astronomia ao longo da disciplina de Ciências sob a ótica dos Parâmetros Curriculares Nacionais antes da Base Nacional Comum Curricular, porque a BNCC reafirma a necessidade de se trabalhar ao longo da Educação Básica (Ensinos Fundamental e Médio) com as temáticas da Astronomia.

Antes da BNCC, os professores tinham no PCN apenas uma orientação didático-metodológica sem caráter obrigatório de aplicação, atualmente, com a BNCC, todos os sistemas de ensino devem inserir os conteúdos astronômicos em seus currículos, haja vista que a BNCC é uma normativa que impõe uma obrigatoriedade a ser seguida.

Cenário virtual de aprendizagem para a Astronomia

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), o ensino das Ciências Naturais de forma fragmentada não contempla a natureza dinâmica, articulada, histórica e não neutra da ciência, pois ela é fruto da construção humana (BRASIL, 1998). Em vista disso, o PCN informa que na tentativa de "[...] superar a abordagem fragmentada das Ciências Naturais, diferentes propostas têm sugerido o trabalho com temas que dão contexto aos conteúdos [...]" (BRASIL, 1998).

Dessa forma, durante os anos finais do Ensino Fundamental, ao ser trabalhado um determinado conteúdo relacionado com temáticas da Astronomia que sejam transversais à disciplina de Ciências, o(a) professor(a) deve estar disposto(a) a retomar e relacionar o novo conhecimento com aquilo que já fora discutido, assim, os estudantes conseguirão por meio de ancoragens, compreender e articular os seus conhecimentos prévios com os novos conhecimentos adquiridos em cada aula.

Uma alternativa exequível que atenda a essas demandas é instrumentalizar os professores para que possam fazer uso de cenários virtuais de aprendizagem para relacionar por meio de vídeos, imagens e textos, o que é trabalhado nas aulas de Ciências com os conhecimentos astronômicos, motivando assim os seus estudantes, sujeitos cognoscentes do processo de ensino e aprendizagem.

Para o PCN,

é essencial considerar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes, relacionado às suas experiências, sua idade, sua identidade cultural e social, e os diferentes significados e valores que as Ciências Naturais podem ter para eles, para que a aprendizagem seja significativa. (BRASIL, 1998).

É nesse contexto, que retomar o conhecimento da Astronomia discutido e relacionado em determinados assuntos trabalhados na disciplina de Ciências ao longo do Ensino Fundamental faz-se de suma importância. Acredita-se que a solicitação por parte dos professores para que seus estudantes criem páginas no Facebook com o objetivo de divulgar a Astronomia pode servir de ferramenta inovadora em um processo de ensino e aprendizagem, rompendo assim com as barreiras físicas e abstratas da sala de aula.

Dias e Osório (2011) apud Barros, Romero, Moreira (2014, p. 80) afirmam que "os avanços das tecnologias de informação e da comunicação (TIC), e em particular da Internet, têm estimulado de forma decisiva a aprendizagem para além das estruturas educativas formais".

É nesse contexto que se propõe a criação e utilização de cenários virtuais de aprendizagem, ambientes virtuais informais e não formais. As redes sociais, consideradas ambientes nos quais crianças e adolescentes estão imersos, podem servir para a criação de um cenário virtual de aprendizagem para a discussão de diversas temáticas, a exemplo da Astronomia, que ganhou destaque na seara da educação após a aprovação da atual Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o Ensino Fundamental, em dezembro de 2017.

Gusmão, Menezes Júnior e Machiavelli (2014, p. 4) afirmam que "através do uso de cenários virtuais, é possível disponibilizar recursos multimídias para a apresentação de situações-problemas, normalmente acompanhadas de outros objetos de aprendizagem [...]".

É possível notar que os novos cenários de aprendizagens virtuais compreendem um conjunto de ferramentas digitais capazes de dar mais autonomia aos estudantes ao passo que têm oportunidade de construir seu conhecimento por meios informais e não formais, como as redes sociais, jogos, plataformas de vídeos, entre outros. Essa experiência interativa, promovida pelo espaço criado no Facebook é de fundamental importância para assimilação e associação dos conteúdos a serem abordados.

Por meio dessas atividades, os estudantes poderão ser avaliados ao publicarem no grupo assuntos que estejam relacionados com o que foi discutido em sala de aula. Desse modo, haverá uma assimilação eficaz dos conteúdos discutidos e refletidos em sala de aula por intermédio desse espaço virtual informal. Para isso, faz-se necessário recomendar como estratégia pedagógica nos espaços online, o desenvolvimento de atividades cooperativas e colaborativas nas redes sociais com a finalidade de tornar o conhecimento algo público, devendo ser compartilhado com todos, garantindo assim, um aprendizado significativo aos envolvidos do processo de ensino e aprendizagem.

Em comunhão com essa reflexão, entendemos que a popularização da internet e o acesso cada vez mais ampliado das redes sociais, torna-se um instrumento de ação efetiva cujo alcance vai ao encontro da ampliação do leque de possibilidades para as análises e reflexões dos estudantes.

A Astronomia na BNCC

Como pôde ser visto, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento normativo brasileiro, aprovado pelo Conselho Nacional de Educação e, homologado pelo Ministério da Educação em dois momentos: em 2017 (conteúdo da BNCC referente ao Ensino Fundamental) e 2018 (conteúdo da BNCC referente ao Ensino Médio).

No que se refere ao Ensino Fundamental, a BNCC traz para o ensino de Ciências três unidades temáticas que devem ser trabalhadas ao longo dessa etapa da Educação Básica, partindo do 1º até o 9º ano. Após a aprovação e homologação da BNCC, torna-se obrigatório trabalhar a Astronomia de maneira sequencial, contextualizada e significativa ao longo de todo o Ensino Fundamental. Com isso,

[...] o conhecimento espacial é ampliado e aprofundado por meio da articulação entre os conhecimentos e as experiências de observação vivenciadas nos anos iniciais, por um lado, e os modelos explicativos desenvolvidos pela ciência, por outro. Dessa forma, privilegia-se, com base em modelos, a explicação de vários fenômenos envolvendo os astros Terra, Lua e Sol, de modo a fundamentar a compreensão da controvérsia histórica entre as visões geocêntrica e heliocêntrica. (BRASIL, 2017).

Terra e Universo é uma dessas unidades temáticas, que objetiva a compreensão por parte dos estudantes das "[...] características da Terra, do Sol, da Lua e de outros corpos celestes -- suas dimensões, composição, localizações, movimentos e forças que atuam entre eles." (BRASIL, 2017), permitindo-lhes a ampliação de "[...] experiências de observação do céu, do planeta Terra, particularmente das zonas habitadas pelo ser humano e demais seres vivos, bem como de observação dos principais fenômenos celestes." (BRASIL, 2017).

Á luz da BNCC, "Terra e Universo" são classificados como uma unidade temática, estando presentes nos últimos quatro anos do Ensino Fundamental. Uma inovação trazida pela BNCC é que para cada ano letivo tem-se a descriminação dos assuntos (objetos de conhecimento) que devem ser abordados a respeito dessa unidade temática (Quadro 1).

Tabela 1: Descriminação dos objetos de conhecimento de Terra e Universo em cada ano.

Unidade temática 6º ano 7º ano 8º ano 9º ano
Terra e Universo - Forma, estrutura e movimentos da Terra. - Composição do ar; - Efeito estufa; - Camada de ozônio; - Fenômenos naturais (vulcões, terremotos e tsunamis); - Placas tectônicas e deriva continental. - Sistema Sol, Terra e Lua; - Clima. - Composição, estrutura e localização do Sistema Solar no Universo; - Astronomia e cultura; - Vida humana fora da Terra; - Ordem de grandeza astronômica; - Evolução estelar.

Fonte: Brasil (2017).

No contexto da Astronomia, a utilização do Facebook como cenário virtual de aprendizagem, os estudantes terão a oportunidade de se envolverem:

[...] em processos de aprendizagem nos quais possam vivenciar momentos de investigação que lhes possibilitem exercitar e ampliar sua curiosidade, aperfeiçoar sua capacidade de observação, de raciocínio lógico e de criação, desenvolver posturas mais colaborativas e sistematizar suas primeiras explicações sobre o mundo natural e tecnológico [...]. (BRASIL, 2017).

Tais habilidades esperadas pela BNCC podem ser construídas em um cenário virtual de aprendizagem, mesmo ele sendo um instrumento caracterizado pelo fato do(a) professor(a) estar presente de forma não física; o ensino e aprendizagem ocorrerem em ambiente virtual; os estudantes localizarem-se em pontos distintos do planeta e; com a flexibilidade de horários para os estudos.

Assim como em um ambiente virtual de aprendizagem, um cenário virtual de aprendizagem é capaz de favorecer uma aprendizagem ativa, pois "[...] o estudante é sujeito mais ativo de sua aprendizagem; essa autoaprendizagem requer mais atividade, esforço pessoal, processamento e um alto grau de disciplina e envolvimento no trabalho." (ARETIO, 2017, p. 13, tradução nossa), bem como a socialização entre os pares, em vista que "[...] se propicia o trabalho em grupo e o cultivo de atitudes sociais; se permite o aprender com os outros, de outros e para outros por meio do intercâmbio de ideias e tarefas, e isto pode ser com pessoas muito diferentes [...]" (ARETIO, 2017, p. 14, tradução nossa), ou mesmo de turmas e/ou séries diferentes.

Como é possível perceber, por meio do cenário virtual de aprendizagem proposto, é possível fomentar a alfabetização científica dos estudantes, pois alfabetizar para a Ciência é oportunizar ao estudante a identificação dos signos manifestos pela Natureza, habilitando-os habilidade para a transformação desses signos em linguagem. A respeito da linguagem, Soltes e Raupp (2014, p. 2) afirmam que "a linguagem é uma ferramenta que está presente a todo o momento em nossas vidas. Compreender seus usos e funções deveria ser uma obrigação a todos nós, mas, sabemos que nem sempre é assim.".

Quando voltamos a nossa atenção à questão do signo, percebemos que ele compreende o conjunto de um elemento material perceptível aos nossos olhos e seu respectivo conceito abstrato. A partir daí, é possível perceber que os estudantes têm contato constante com os elementos materiais da Natureza, como: estrelas, luz solar, Lua, estações do ano, cometas, asteroide etc., porém, eles, por não estarem alfabetizados cientificamente, não conseguem traduzir essas manifestações da Natureza para o seu dia a dia.

Como já abordado na introdução, reafirmamos que se o ensino de Ciências Naturais for realizado de maneira fragmentada, não serão contempladas a visão de uma natureza dinâmica, articulada com a realidade e histórica, haja vista que ela é produto das diversas interpretações que várias sociedades fizeram ao longo do tempo a partir dos signos da Natureza.

Considerações finais

A intensa globalização por qual vivemos na contemporaneidade pressiona a escola a rever a forma como os seus currículos estão organizados. Essa globalização traz consigo uma sociedade que anseia por habilidades que os façam viver e compreender um mundo cada vez mais tecnológico e com constantes avanços científicos. Nesse sentido, aos professores de Ciências é solicitado um processo de ensino e aprendizagem que promova o conhecimento de aspectos astronômicos e tecnológicos que acompanham os avanços da era digital.

É nessa perspectiva que o presente estudo buscou investigar as possibilidades da utilização da rede social Facebook como cenário virtual de aprendizagem para a formação de estudantes e professores no campo da Astronomia na perspectiva da atual Base Nacional Comum Curricular.

Ao debruçarmos na literatura especializa, constatamos que um bom cenário virtual de aprendizagem tem que levar em consideração as peculiaridades e necessidades de cada aprendiz, sendo preciso retorno em relação ao andamento do processo de ensino e aprendizagem, interação entre estudantes e professores, bem como desmitificar a ideia de que o ensino a distância é distante dos envolvidos.

Constatou-se também que é a partir dos anos finais do Ensino Fundamental que os estudantes contarão com professores especializados na área das Ciências Naturais, favorecendo uma formação e alfabetização científica mais significativa. Tornando-os capazes de interligarem os conhecimentos da Astronomia com as Ciências Naturais que englobam a Geologia, Biologia, Química e a Física, contribuindo, dessa forma, como um processo de ensino e aprendizagem mais efetivos.

Sob a ótica da BNCC, os conteúdos pertinentes (Tabela 01) para discussões no grupo de estudos em Astronomia, no Facebook, são: a forma, estrutura e movimentos da Terra; composição do ar; efeito estufa; camada de ozônio; sistema Sol, Terra e Lua; clima; composição, estrutura e localização do Sistema Solar no universo; Astronomia e cultura; vida humana fora da Terra; ordem de grandeza astronômica; e evolução estelar.

Ademais, investigando indícios na literatura acadêmica por meio do Google Scholar, Scielo e Plataforma Capes quanto à promoção de debates em grupo de estudos por meio de temas geradores (em nosso caso, sobre os tipos de estrelas, formas das galáxias, planetas etc.), ao utilizarmos os descritores de busca "Astronomia" e "Facebook" encontramos os trabalhos de: Jesus, 2015; Santos, 2017; Barros, 2013; Barros e Bisch, 2014; Leme e Friaça, 2014; Pereira-Neto e Teixeira, 2017. Como é possível notar, a utilização da rede social Facebook para se discutir temáticas da Astronomia não é uma novidade no mundo acadêmico, sendo discutidos em trabalhos de especialização, mestrado e doutorado.

Referências

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