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Aprendizagem móvel e uso do celular na escola

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Autores

Mestra em Educação e Diversidade (UNEB, 2016). Licenciada em Letras (UNEB, 2016). Especialista em Estudos Literários (UNEB, 2001). Especialista em Técnicas e Planejamento de Ensino (AEM,1999). Especialista em Gestão Escolar (UFBA, 2011). Especialista em Educação, Contemporaneidade e Novas Tecnologias (UNIVASF, 2017). Especialista em Tecnologias e Educação Aberta e Digital (UFRB, 2018). Atua como professora da Educação Básica no Colégio Estadual João Queiroz e na Escola Municipal São Sebastião, no município de Tapiramutá, Bahia. E-mail: josianeclribeiro@gmail.com.

Mestra em Educação (UFBA, 2014), Pedagoga (UFBA, 2010) e graduanda em Letras Libras. Especialista em Educação de Jovens e Adultos (UFBA, 2011) e em Coordenação Pedagógica (UFBA, 2012). Coordenadora Pedagógica Escolar concursada da Secretaria Municipal de Educação de São Francisco do Conde (BA). Professora orientadora do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na Pós-graduação em Tecnologias e Educação Aberta e Digital (UFRB). E-mail: adriana.ufba@gmail.com.

Resumo: Este artigo centra-se na indagação sobre desenvolvimento da competência tecnológica docente e na exploração da aprendizagem por meio do uso dos celulares em sala de aula. Para tanto, utiliza-se revisão bibliográfica objetivando conhecer as demandas para formação dos professores e, a partir disso, foram elencados conteúdos e temáticas para criar a ementa e um curso de formação sobre o uso do celular na escola. O presente estudo desenvolve pesquisa qualitativa que conta com a participação de docentes voluntários em ambiente virtual de aprendizagem, possibilitando acesso a um objeto digital, que contemplasse estudos acerca da cultura digital, a partir de experiências com o uso do celular na escola. A interação e uso desse espaço virtual proporcionaram reflexões e ações que contemplaram a inserção do celular como ferramenta que favorece o ensino e a aprendizagem, por meio do desenvolvimento de propostas que incluíram positivamente esse artefato tecnológico na sala de aula.

Palavras-chave: aprendizagem móvel; formação docente; competência tecnológica; objeto digital.

Introdução

A era digital tem proporcionado, por meio dos seus artefatos tecnológicos móveis, formas outras de ensinar, aprender, comunicar, ler e se relacionar. Crianças e adolescentes demonstram, pelo manuseio curioso e ágil, pleno domínio de uso dos tablets, celulares ou smartphones, notebooks, entre outros.

As inovações tecnológicas têm impressionado e gerado certo desconforto aos imigrantes digitais (adultos nascidos antes da década de 80), já que estes necessitam aprender a lidar com os equipamentos tecnológicos que se tornam cada dia mais inteligentes. Em contrapartida, para os nativos digitais (nascidos após a década de 80) são extensões naturais. Imigrantes e nativos digitais estão imersos no mundo cercado pelas tecnologias, pela cultura móvel, pela cibercultura, estabelecendo uma coesão entre a vida social, dispositivos móveis e a internet.

Em meio a essas mudanças, reconfigurar o processo de ensino e aprendizagem, contemplando a inovação e criatividade é algo extremamente necessário, haja vista que pensar uma prática pedagógica centrada unicamente na transmissão oral das informações e que não considera a diversidade cognitiva e emocional, não condiz mais com a realidade vivenciada por quem já acessa e domina as tecnologias digitais em vários momentos do cotidiano.

Desse modo, cabe às instituições que promovem a educação, seja ela presencial ou a distância, ensino básico ou superior, auxiliar seus estudantes no processo de utilização e mediação desses artefatos culturais e tecnológicos a favor das múltiplas aprendizagens e/ou na criação de cenários pedagógicos mais interativos e colaborativos entre docentes e discentes.

A internet tem sido aprimorada a cada dia para atender aos seus usuários. Passamos da internet 1.0 que se restringia a conteúdos estáticos e limitados a pequenas empresas, para a Web 2.0 na qual os internautas já produziam seus próprios conteúdos e estabeleciam interações por meio das redes sociais. Com a Web 3.0, as informações foram organizadas semanticamente e de forma mais rica, o que facilita as buscas online, já a Web 4.0 caracteriza-se pela mobilidade e ubiquidade, otimizando nosso tempo e favorecendo nossas ações diárias.

São inúmeras as possibilidades de uso dos recursos disponíveis na Web para compartilhamento, interação e produção de saberes. Para tanto, os docentes precisam estimular os discentes a interagir, adotando uma metodologia ativa, instigante para que a aprendizagem possa transpassar as salas de aula, acontecendo em qualquer hora, tempo ou lugar.

Assim, partimos do pressuposto da necessidade de que os docentes tenham uma formação adequada em tecnologias digitais que superem a instrumentalização técnica do professor e favoreça a apropriação educacional das tecnologias digitais da informação e comunicação para o aperfeiçoamento do processo de formação como um todo e não a utilização das tecnologias como solução mágica para resolver os entraves educacionais.

Para além dos conteúdos de ensino, o docente necessita possuir/construir os saberes pedagógicos que são inerentes à sua formação docente e os tecnológicos que se dão pelas trocas entre colegas, pela sua experiência e pela formação contínua, articulando conhecimento, prática, experiências, eficácia e ética e favorecer a aprendizagem mediante a ação-reflexão-ação.

O presente estudo centra-se na seguinte questão: Como os docentes podem desenvolver a competência tecnológica e inserir a tecnologia móvel em sala de aula, explorando o potencial pedagógico dos celulares?

Para responder com propriedade ao que é indagado, o estudo teve início com uma revisão bibliográfica para tomarmos conhecimento das demandas de formação de professores no que concerne ao uso do celular na escola, a partir de artigos e teses já publicados. A partir de então, foram elencados os conteúdos necessários para montar a ementa e temáticas do curso. Assim, a pesquisa teve caráter qualitativo já que almejou produzir um espaço de qualificação profissional e é de cunho qualitativo, prioriza o estudo do homem, considerando que ele intervém e interpreta o mundo que o cerca, faz contato com as pessoas e constrói sentido sobre si, sobre as coisas e sobre os outros.

Desta forma, produzimos um curso online gratuito, um ambiente virtual de aprendizagem, para que os docentes possam ter acesso a um objeto digital, abordando a temática do uso do celular em sala de aula e as possibilidades de incorporação dessa tecnologia como ferramenta que proporciona ensino e aprendizagem tanto aos docentes, quanto aos discentes, de forma híbrida, propagando o conhecimento de maneira interativa e flexível. Nosso objetivo primeiro foi apresentar uma proposta de formação de professores, na modalidade online, que contemplasse estudos acerca da cultura digital, a partir de experiências com o uso do celular na escola.

A partir da imersão dos cursistas nas semanas temáticas e por meio do aprofundamento nos estudos pudemos alcançar os objetivos específicos**:**

  • Compreender a relação da convergência tecnológica móvel no contexto da sala de aula;

  • Refletir sobre os desafios, perspectivas e possibilidades de uso pedagógico dos dispositivos móveis no ambiente escolar a fim de preparar os docentes e discentes para as práticas digitais mais presentes no cotidiano;

  • Conhecer/ explorar os recursos disponíveis nos celulares que podem potencializar o ensino a fim de implementar uma proposta didática.

O curso proporcionou reflexões e ações que contemplaram a inserção do celular como uma ferramenta que favoreça o ensino e a aprendizagem, por meio do desenvolvimento de propostas que incluíram esse artefato tecnológico na sala de aula.

Aporte teórico

[...] Mexer-se não é mais deslocar-se de um ponto a outro da superfície terrestre, mas atravessar universos de problemas, mundo vividos, paisagens dos sentidos. Essas derivas nas texturas da humanidade podem recortar as trajetórias balizadas dos circuitos de comunicação e de transporte, mas as navegações transversais, heterogêneas dos novos nômades, exploram outro espaço. Somos imigrantes da subjetividade.[...] (LÉVY, 2014, p.14).

No cenário contemporâneo de inovações tecnológicas, transportado pelos dispositivos móveis conectados à internet, o acesso a informações e conhecimentos vários é partilhado em rede. Com a crescente conexão a dados, textos, imagens e sons, a comunicação tem-se diversificado e difundido crescentemente, tal expansão inscreve-se em uma mutação de grande alcance, que é impulsionada pelos novos artefatos culturais, mas que os ultrapassa, "voltamos a ser nômades" (LÉVY, 2014, p.15).

Os artefatos móveis, como notebooks e celulares, possibilitam ao seu portador "desplugar-se" dos computadores fixos para experimentar uma conexão desterritorializada, por isso nômade e ubíqua. Tomamos a acepção nômade para se referir a viagens imóveis, proporcionadas pelas transformações diversas do mundo circundante, saímos da imobilidade frente aos aparelhos fixos, televisores ou computadores e flutuamos nesse espaço impalpável de conhecimentos, saberes, potências de pensamento em que brotam e transformam nossas qualidades, nossas maneiras de ser em sociedade.

Instituem-se assim novas maneiras de pensar, conviver, aprender e ser, como nos fala Pierre Lévy (2014):

Massas de refugiados em marcha para campos improváveis... Nações sem domicílio fixo... Epidemias de guerras civis... Barulhentas "babéis", megalópoles mundiais... Travessia de saberes da sobrevida nos interstícios do império... Impossível fundar uma cidade, impossível doravante estabelecer-se em qualquer lugar que seja, num segredo, num poder, num solo... Os signos, por sua vez, tornam-se migrantes: esse húmus não para de tremer, de arder... Deslizamentos vertiginosos entre as religiões e as línguas entre as vozes e os cantos, e bruscamente, na esquina de um corredor subterrâneo, surge a música do futuro... A Terra como uma bola sob o olho gigante de um satélite...  (LÉVY, 2014, p.16).

Nesta representação ficcional do ciberespaço, o autor delineia um panorama da era da informação, da comunicação, da mobilidade, do fluxo, das trocas e agenciamentos culturais, nesse ínterim, tece-se de maneira líquida e camaleônica, a cibercultura. Esta inscreve-se em nosso dia a dia, nas mais diversas atividades, nos campos do trabalho, familiar, lazer e vida privada, estendendo os usos dos recursos digitais às mais diversas esferas, na busca por tornar o nosso cotidiano mais virtualizado, atraente, célere e móvel.

Com essa mutabilidade, os aparelhos celulares ou smartphones ganham o apreço das diversas faixas etárias, já que nos acompanham a qualquer lugar, pois, diante da diversidade de funções que acumulam, tornam-se computadores de bolso e nos dão acesso a uma infinidade de recursos hipermídias, a informações sobre qualquer lugar do mundo, acessadas instantaneamente a um toque na tela de silício. Desta forma, os nossos afazeres cotidianos são modificados e essa mobilidade tem impactado diretamente a educação, já que as metodologias utilizadas pelos docentes não mais atendem às necessidades de aprendizagem vigentes, "o ensino do futuro já se tornou imageticamente presente na tela ubíqua do aparelho celular" (ZUIN; ZUIN, 2018, p. 424).

O investimento no uso das tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC) em sala de aula faz necessário, a fim de qualificar a juventude para atuar de forma efetiva na contemporaneidade, acessando informações e produzindo conhecimentos de forma crítica, respeitando os valores éticos e morais que se estendem às redes sociais e ao ciberespaço. Pierre Lévy (2014) vislumbra um engajamento coletivo na tentativa de inventar técnicas, pensar em conjunto, convergir esforços intelectuais, pluralizar nossas imaginações e experiências projetando dar soluções práticas aos complexos desafios que estão diante de nós.

Quanto melhor os grupos humanos conseguem se constituir em coletivos inteligentes, em sujeitos cognitivos, abertos, capazes de iniciativa, de imaginação e de reação rápidas, melhor asseguram seu sucesso no ambiente altamente competitivo que é o nosso (LÉVY, 2014, p. 19).

O autor advoga a favor da inteligência em massa, uma inteligência distribuída constantemente, em diversos espaços, articulada em tempo real, que será resultado de uma motivação bem-sucedida das competências. Nesse princípio, os humanos não atuariam "bestializados" ou "manipulados", mas estariam inter-relacionando-se em múltiplas comunidades, como "seres singulares, múltiplos, nômades e em vias de metamorfose (ou de aprendizado) permanente" (LÉVY, 2014, p. 32).

Para tanto, as TDIC são a porta de entrada no Espaço do saber, nesse novo espaço antropológico, visto que estão partilhadas por toda parte, para Lévy (2014, p. 55) "o digital é móvel, passível de reordenamento, mixagens e combinações", através destes aparatos, a humanidade pode produzir ferramentas que permitirão constituir-se em coletivos inteligentes e se orientar entre os mares tempestuosos da mutação.

Segundo Nagumo e Teles (2016), há uma cultura juvenil móvel que ainda é pouco aproveitada nas escolas para a produção e partilha de conhecimentos. Em pesquisa realizada sobre o uso do celular na escola, os autores constataram que os estudantes pesquisados afirmam que as escolas poderiam ser mais atraentes e interessantes se a tecnologia fosse melhor incorporada em sala de aula. Além disso, constataram que mesmo com as proibições, 52% dos alunos ainda buscavam formas de driblar as regras para utilizar o celular em sala de aula para acessarem suas redes sociais, pesquisarem, usar calculadora, dicionários, entre outras funções.

Os celulares estão imersos no cotidiano dos nativos digitais de forma onipresente, incentivam novas formas de interação e relacionamento e competem com a atenção que era dada a outras tecnologias, os estudantes estão presentes em sala de aula, mas a atenção é desviada para o ciberespaço. Com a inclusão das TDIC nas escolas cria-se uma nova cultura escolar e as demandas de formação docente crescem significativamente, visto que muitos não se sentem preparados para incorporar pedagogicamente os celulares em sala de aula.

Em recente pesquisa com docentes, Santo e Moreira (2018) utilizam a avaliação do Conhecimento Tecnológico e Pedagógico do Conteúdo (TPACK) para delinear os conhecimentos necessários à prática educativa, articulando os saberes de conteúdo, pedagógicos e tecnológicos como as três bases que alicerçam o conhecimento docente. Para os autores, boa parte dos docentes são imigrantes digitais que ainda estão em vias de desenvolvimento da sua competência tecnológica para atuar em sala de aula com metodologias mais dinâmicas, que incorporem as TDIC de forma significativa.

Neste estudo, destacamos na pesquisa realizada por Santo e Moreira (2018) o Conhecimento Tecnológico do Conteúdo que se refere o uso que é feito das tecnologias em sala de aula para potencializar os conteúdos que são ensinados, o Conhecimento Pedagógico da Tecnologia que faz menção à "habilidade de reconhecer e escolher as ferramentas das TDIC mais adequadas para uma tarefa, além dos conhecimentos das estratégias pedagógicas" (SANTO; MOREIRA, 2018, p. 329), no seu uso e o Conhecimento Tecnológico e Pedagógico de Conteúdo que é o encadeamento do conteúdo, da pedagogia e da tecnologia, com vistas a alcançar os objetivos de aprendizagem. Tal modelo é visto pelos autores como "um modelo de formação capaz de favorecer uma didática digital, baseada num conhecimento científico e pedagógico da tecnologia que permite planejar, conceber e utilizar" (SANTO; MOREIRA, 2018, p. 330) as TDIC para ensinar e aprender.

Para que os docentes consigam alcançar o conhecimento tecnológico pretendido, há que se conceber as TDIC como uma nova maneira de ensinar e aprender, o que demanda articulação entre os saberes docentes, as políticas públicas, a formação continuada e permanente dos professores em serviço.

Nesse aspecto, destacamos os cursos em ambientes virtuais de aprendizagem como uma modalidade de ensino que possibilita a formação de professores em larga escala, na busca pela aquisição de novos saberes mediados pela tecnologia. Com a crescente popularização da internet, dos computadores, tablets e smartphones, houve ainda maior estreitamento da distância física entre professores e alunos, favorecendo a onipresença, a virtualidade, a produção de conhecimento de forma compartilhada, autônoma, onde o adulto pode autogerir seu tempo dedicado ao estudo, a partir do seu ritmo de aprendizagem.

Na educação a distância, o aluno é um dos agentes da aprendizagem e da construção do conhecimento, visto que é o responsável pela gestão do seu tempo de estudo, no cumprimento das atividades online, na visita diária do ambiente virtual, acesso aos vídeos e materiais disponibilizados, onde a autonomia, a auto gestão e a iniciativa precisam ser propulsoras dessa nova forma de aprender.

Aretio (2017) elenca alguns fatores que vivificam a educação a distância como a modalidade de ensino mais procurada, entre eles consideramos que o livre acesso sem a necessidade de sair de casa é um dos fatores que mais impactam a busca pelo ensino a distância. Ademais, o acesso a informação dá-se de forma universal, ocorre por meio de diferentes mídias, é interativo, há liberdade de navegação em materiais multimídia e hipermídia, a aprendizagem se dá por meio de diversos contatos, com pessoas que ocupam os mais diferentes lugares no globo, o conhecimento está disposto livremente na biblioteca infinita da rede e pode ser acessado e apreendido mediante a gestão do seu tempo de aprendizagem, esforço e disciplina para auto estudo.

Além disso, Aretio (2017) acrescenta que as tecnologias têm impactado as nossas vidas e alterado as nossas necessidades de aprender e interagir em sociedade, tornando-nos mais exigentes e seletivos. Acrescenta que há uma massificação do uso dos dispositivos móveis, pois estão onipresentes e proporcionam acesso massificado à rede, o que favorece e pode ser o diferencial para que a aprendizagem móvel - m-learning - aconteça. Destaca ainda a ubiquidade desses dispositivos, as vantagens da m-learning, ressaltando que não estamos mais sujeitos ao fixo, pois o móvel domina e impacta diretamente as nossas vidas.

Diante do exposto, acreditamos que os ambientes virtuais de aprendizagem podem ser utilizados como espaços de formação docente, dando suporte aos professores na aquisição da competência tecnológica e qualificação da sua prática educativa. Ressaltamos ainda que no atual contexto da sociedade do conhecimento, as TDIC são um precioso e potencial alicerce para instrução, necessitando assim serem (re)conhecidas e melhor exploradas em prol da educação, seja esta presencial ou virtual.

Objeto de aprendizagem digital

Um objeto de aprendizagem digital destina-se a subsidiar a prática pedagógica tanto no espaço escolar quanto fora dele, na tentativa de oportunizar aprendizagens mediadas pelas tecnologias, seja na forma de jogos, salas de aula online, aplicativos, etc. Optamos por desenvolver nesse trabalho um curso online, destinado a professores da educação básica intitulado "Aprendizagem móvel e uso do celular", com uma carga horária de 60h, organizado em quatro semanas temáticas, a saber:

  • Funcionalidades do celular;

  • Aprendizagem móvel;

  • Aplicativos educacionais;

  • Qr Code.

As semanas de estudo foram realizadas em quatro momentos, a partir de um planejamento prévio, flexível que contemplou aspectos que consideramos imprescindíveis para a inclusão do celular como ferramenta de aprendizagem em sala de aula.

O curso foi editado na plataforma de educação a distância Ensine Online e pode ser acessado no link: https://www.ensineonline.com.br/professor/login/index.php, é um curso gratuito, acessível a qualquer pessoa, produzido em um sistema moodle, altamente intuitivo e de fácil navegação.

Nosso propósito em oferecer esse ODA para os discentes é auxiliá-los na mediação de atividades com o uso do celular em sala de aula, trazendo à tona discussões sobre o uso das TDIC em sala de aula e aplicação de atividades práticas no espaço escolar. Por meio do desenvolvimento das propostas acreditamos que os cursistas conseguiram

  • Compreender a relação da convergência tecnológica móvel no contexto da sala de aula;

  • Refletir sobre os desafios, perspectivas e possibilidades de uso pedagógico dos dispositivos móveis no ambiente escolar a fim de preparar os docentes e discentes para as práticas digitais mais presentes no cotidiano;

  • Conhecer/ explorar os recursos disponíveis nos celulares;

  • Pesquisar, selecionar e indicar um aplicativo de celular para ser utilizado em sala de aula;

  • Produzir um plano de aula contemplando aplicativos educacionais;

  • Produzir Qr Code para implementar uma proposta didática.

Figura 1: Interface do curso Aprendizagem Móvel e Uso do Celular.


Fonte: compilação das autoras.

Iniciamos o curso com a apresentação, conforme Figura 1, neste mesmo espaço incluímos o ambiente dos avisos, a configuração do perfil do cursista e a ementa do curso composta pela visão geral do que vai ser desenvolvido, objetivos, metodologia utilizada, temáticas e bibliografia.

Em seguida, apresentamos a primeira semana com o nome "Celular, para quê?", esta foi organizada em quatro momentos: no primeiro foi disponibilizado um fórum para análise de algumas charges sobre o uso do celular no nosso cotidiano, o segundo a audição e análise da música "Banda larga cordel", de Gilberto Gil, com seleção de versos ou expressões e comentários nas postagens dos colegas, o terceiro momento foram oferecidos dois artigos que trazem a análise sobre o uso do celular no contexto educacional; por fim propomos a produção de uma tabela na qual o cursista elenca vantagens e desvantagens do uso do celular na escola, considerando as leituras da semana e também a sua realidade educacional.

Figura 2: Interface Semana da Aprendizagem móvel e ubíqua.


Fonte: compilação das autoras.

Na segunda semana, optamos por disponibilizar leituras e estudos sobre "Aprendizagem móvel e ubíqua", objetivando aprofundar os conhecimentos dos cursistas acerca dessas nomenclaturas, bem como demonstrar por meio dos estudos como o uso da tecnologia tem se expandido rapidamente e modificado a forma de ensinar e aprender. Além das leituras da semana, disponibilizamos alguns links que trazem contribuições e estudos desenvolvidos pela Unesco sobre as TDIC, um glossário e também um wiki para produção colaborativa a partir do material consultado e de perguntas norteadoras e reflexivas sobre a prática pedagógica, conforme pode ser observado na figura 2.

Na terceira semana, intitulada "O mundo na palma da mão", oferecemos aos cursistas três vídeos como atividade primeira para que eles assistam e explicitem se é possível vivenciar na escola em que trabalha experiências que utilizem metodologias ativas, ensino híbrido e/ou aplicativos educacionais em sala de aula, já que os vídeos tratam e demonstram esse tipo de experiência. Em um segundo momento, há um chat com o nome "Café tecnológico", momento em que foram colocadas pauta as seguintes perguntas norteadoras:

  • O PPP da escola contempla projetos que envolvem/potencializam as habilidades dos nativos digitais? Se sim, cite qual(is).

  • Quais projetos ou atividades com o uso tecnologia móvel a escola tem implementado?

  • Para quais atividades podemos utilizar pedagogicamente o celular em sala de aula?

  • Quais aprendizagens podem ser potencializadas através deste uso?

  • O que os alunos têm aprendido conectados com o mundo através da internet?

Após o chat, as leituras da semana foram disponibilizadas cujas temáticas perpassam pelos conceitos de m-learning e u-learning e os critérios para análise de aplicativos educacionais.

Como atividade avaliativa, enfocamos mais na prática pedagógica, solicitando que os cursistas selecionem um aplicativo de celular para utilizá-lo em sala de aula a partir dos critérios elencados no texto das leituras da semana, fazendo ainda a recomendação de uso do aplicativo. Por fim, os cursistas são motivados a produzirem um plano de aula utilizando um aplicativo educacional a sua escolha.

Na última semana, optamos por oferecer uma oficina com o uso de leitor de QR Code (Quick Response: resposta rápida), trazendo estratégias sobre como utilizar esses códigos para dinamizar e tornar as aulas mais atrativas para os alunos. Para além das leituras dos artigos da semana, demonstramos passo a passo como baixar o aplicativo e realizar a leitura de QR Code. Organizamos um fórum para tirar dúvidas na produção de códigos QR e como atividade de conclusão do curso sugerimos a produção de uma sequência didática utilizando códigos como estratégia de aprendizagem.

Ao final do curso, sendo concluídas todas as atividades propostas, dentro dos critérios elencados para avaliação, o cursista poderá expedir o próprio certificado de conclusão.

Pensamos na produção desse ODA como um método de construção de estratégias e conhecimentos, que privilegiam a teoria e a prática para a consecução de objetivos comuns, em nosso caso a utilização do aparelho celular como ferramenta de aprendizagem. Foram pensados momentos que oportunizaram a experimentação de situações concretas de aprendizagem, o aprofundamento de conhecimentos teóricos sobre a temática em estudo, a produção coletiva, individual e em duplas de sequências didáticas que contemplam o uso do celular em sala de aula de forma educativa e crítica.

Análise dos resultados

Traremos aqui algumas reflexões sobre o possível uso deste OAD, visto que ainda não o disponibilizamos em larga escala.

O AVA aqui apresentado é um espaço virtual midiático, utilizado na mediação do ensino a distância, permitindo a veiculação de conteúdos, a interação entre os participantes, o compartilhamento de materiais diversos, por meio de ferramentas que dão suporte ao ensino-aprendizagem. Nesse ambiente destacamos a importância do papel do aprendiz, visto que por mais que um AVA oportunize o acesso a diferentes mídias, o processo de aprendizagem só se fará eficaz se houver envolvimento e dedicação do participante em acessar os materiais disponibilizados, comunicar-se de forma síncrona ou assíncrona e produzir suas atividades, entre outros fatores.

Inicialmente convidamos quatro colegas de profissão a avaliarem voluntariamente a plataforma desenvolvida, com olhar analítico para elencar qualidades e oportunidades de melhoria do curso. Assim, disponibilizamos um questionário online (https://forms.gle/MzHgWwHqfYL7NHtz9) anônimo para que os voluntários fizessem a análise e obtivemos alguns resultados.

Ao serem perguntados sobre o layout do curso e a facilidade de manuseio da plataforma, os voluntários sinalizaram como ótimo, o que é imprescindível para manter a navegabilidade, conforme Ribeiro, Todescat e Jacobsen (2015) ao avaliar esses ambientes, "a interface destes softwares deve ser amigável e intuitiva de modo a facilitar e otimizar o seu uso e reduzir o processo exaustivo de busca de acesso a informação pelo usuário" (RIBEIRO; TODESCAT; JACOBSEN, 2015, p. 3).

Quanto à qualidade das temáticas, à contextualização das atividades e à pertinência do conteúdo ao fazer pedagógico docente, os respondentes consideraram características positivas no ODA, o que atende ao critério didático-pedagógico destacado por Ribeiro, Todescat e Jacobsen (2015) ao propor um modelo de avaliação de ambientes virtuais de aprendizagem.

Ao serem questionados sobre se a carga horária do curso é suficiente para o conhecimento sobre a temática, a metade destacou que há necessidade de mais tempo para que os conteúdos sejam intensificados, impactem com mais profundidade o fazer docente dos cursistas e promova a melhoria da qualidade da aprendizagem, a partir do paradigma da sociedade em rede (SCHLEMMER; SACCOL; GARRIDO, 2015).

Perguntamos ainda se eles avaliam que o curso oferecido poderá proporcionar melhorias na prática pedagógica dos participantes e se eles indicariam o ODA para outros colegas de profissão, todos os respondentes sinalizaram que sim, o que reforça o foco do ODA no processo de ensino e de aprendizagem.

Quanto ao material didático oferecido, os voluntários sinalizaram que os textos, vídeos, charges e atividades propostas estão alinhados com os objetivos propostos nas semanas didáticas. Assim, cremos que a clareza e a autoinstrução são diferenciais nesse ODA, o que favorece mais ainda a comunicação fluída e inteligível, reforçando o desejo e o encorajamento para aprender. Outro ponto positivo destacado foi a linguagem utilizada no material didático produzido e nas orientações para as atividades propostas, a linguagem aplicada no ambiente favorece a intelecção e autonomia do estudante.

Nessa perspectiva, acreditamos que o ambiente virtual apresentado conduz ao diálogo, onde a construção do conhecimento realiza-se conjuntamente, por meio da colaboração, do refinamento e esclarecimento de ideias que poderão advir dos feedbacks, da interlocução entre tutor/mediador e estudante. Com esse fortalecimento de vínculos, há o encorajamento para o alcance das metas de estudo, a partilha de opiniões, o estímulo à criticidade, já que "o diálogo é o elemento emancipador e o caminho para o homem retomar seu papel de sujeito" (PRETI, 2017, p. 68).

Com isso, o isolamento e a distância presencial diluem-se nessa constante interlocução, pois o cursista poderá sentir-se apoiado, guiado, conduzido em sua aprendizagem, além de oportunizar o surgimento de sentimentos nas relações pessoais que acontecem entre os envolvidos. Há que se ter cuidado nos feedbacks para que as possíveis críticas não desencorajem e desestimulem os estudantes, assim, é sempre bom primar por palavras que incentivem, sugiram alternativas.

Diante do exposto, pode-se extrair uma grande potencialidade do ambiente virtual/objeto de aprendizagem digital produzido, visto que por meio do pleno uso das novas tecnologias pode-se reduzir a solidão de aprender e atender às demandas de formação de professores, favorecendo o constante estímulo à interação, para que a distância presencial seja ofuscada por uma relação pessoal que se fundamente no diálogo produtivo e na autonomia do aprendiz.

Considerações finais

Partimos da compreensão de que a tecnologia móvel já é parte constitutiva dos nossos hábitos e identidades por meio dos usos que fazemos do celular, principalmente por parte dos nativos digitais, assim as TDIC podem ser incorporadas pedagogicamente em sala de aula.

Acreditamos que por meio da realização do curso online Aprendizagem Móvel e Uso do celular, muitas reflexões e ações são potencializadas no sentido de contemplar a inserção do celular como uma ferramenta que favoreça o ensino e a aprendizagem. A partir da imersão nos conteúdos e atividades propostas, os cursistas podem compreender a relação da convergência tecnológica móvel no contexto da sala de aula; refletir sobre os desafios, perspectivas e possibilidades de uso pedagógico dos dispositivos móveis no ambiente escolar a fim de preparar-se para as práticas digitais mais presentes no cotidiano e conhecer/explorar os recursos disponíveis nos celulares, o que demonstra o alcance dos objetivos propostos.

As semanas temáticas aprofundam as discussões, oportunizando aos cursistas por meio de estudos sobre as funcionalidades do celular, a aprendizagem móvel, os aplicativos educacionais e os Qr Code reflexões e aplicação prática de estratégias de inovação da aprendizagem, bem como, o aprimoramento da sua competência tecnológica no exercício de uso das TDIC em sala de aula.

Assim, a partir da primeira análise realizada, consideramos que o curso ofertado é relevante para a educação básica, pois contempla temáticas que ainda não foram esgotadas na era digital e apresenta proposições sobre as potencialidades de uso celular como uma ferramenta útil ao processo de ensino e de aprendizagem. Além disso, os avaliadores sinalizaram qualidades positivas nas características mais relevantes ao se analisar um ambiente virtual de aprendizagem/objeto digital de aprendizagem.

Para qualificar esse ODA, podemos inserir outras temáticas relevantes à educação digital, trazendo os estudos já sinalizados na Base BNCC que destaca a competência Cultura Digital como um dos pilares, além de inserir jogos digitais e gamificação, produção de formulários online, uso de whatsapp, instagram e Facebook em sala de aula, letramento digital e informacional e outras demandas que podem surgir ao consultar os próprios cursistas e suas realidades plurais de sala de aula. Desta forma, haveria uma extensão gradativa do curso para atender as temáticas aqui sugeridas.

Para tanto, poderemos buscar vinculação a uma instituição de ensino superior para que os certificados emitidos tivessem uma validação e pudessem ser incorporados significativamente na vida funcional dos cursistas, o que implicaria em uma inovação educacional na perspectiva de aprendizagem híbrida, móvel, ubíqua e em rede.

Referências

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