Tessituras sobre inovação e inclusão digital na educação¶
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Autores
Doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestra em Gestão e Tecnologias aplicadas à Educação pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Integrante do Núcleo de Estudos de Política e Gestão da Educação da UFRGS e do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Gestão Educacional e Formação de Gestores (NUGEF/UNEB). Professora da Educação Básica da Rede Municipal de Salvador/BA. E-mail: dourado.cris@gmail.com.
Doutor e Mestre em Ciência da Propriedade Intelectual, pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Especialista em Psicopedagogia e Licenciado em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Docente do Mestrado Profissional em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para a Inovação (PROFNIT), na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). E-mail: edilson@ufrb.edu.br.
Resumo: Este artigo decorre de uma pesquisa exploratória, desenvolvida através de revisão de literatura, com a utilização de pesquisa bibliográfica e documental, sobre trabalhos relacionados à inovação e inclusão digital, cujo objetivo foi investigar possíveis formas de inclusão digital na educação. O texto discorre sobre a importância do uso das tecnologias em sala de aula, além de apresentar uma revisão teórica sobre o conceito de inclusão digital e de defender que as práticas pedagógicas devem ser orientadas para a inovação, atendendo às necessidades dos novos aprendizes que vivem na era da rápida evolução dos recursos tecnológicos digitais. Também são apresentadas experiências bem-sucedidas de inovação e inclusão digital na educação.
Palavras-chave: inovação na educação; inclusão digital; tecnologias; práticas pedagógicas. aprendizagem.
Introdução¶
O mundo contemporâneo tem sido marcado pelo avanço das tecnologias, como por exemplo: o computador, o celular, o satélite, a internet, entre outros, e neste sentido é possível afirmar que a alfabetização tecnológica é uma necessidade das novas gerações, pois, notadamente, as crianças e adolescentes têm manejado dispositivos tecnológicos muito facilmente, despertando muito mais interesse por estes recursos que pelos livros didáticos.
Como referendam Queiroz e Ribeiro (2015), a grande maioria deles nasceu, e está crescendo, em ambientes marcados pela rápida evolução dos recursos tecnológicos digitais e está familiarizada com o uso de dispositivos móveis, como smartfones e tablets e também com a comunicação em tempo real. A Internet é, para eles, um recurso que parece ter sempre existido, podendo ser considerada como uma necessidade essencial para esta geração.
É possível afirmar que, com o acesso a esses recursos tecnológicos, as informações estão disponíveis a um simples toque. Estimulados pelo uso das redes sociais, podem, ainda, compartilhar conteúdos, contribuindo para uma possível difusão de conhecimento (QUEIROZ; RIBEIRO, 2015).
Neste sentido, a Educação, compreendida como a base das competências e das habilidades adquiridas pelas novas formas de estudar, de trabalhar, de nos divertir, pode ser favorecida pelo uso da tecnologia. Desta forma, acredita-se que as práticas pedagógicas devem ser orientadas para a inovação nas salas de aula, atendendo às necessidades destes novos aprendizes.
Acredita-se, ainda, que o uso das tecnologias pode ser um fator motivacional e estimulador para que os estudantes acessem, permaneçam nas escolas e possam aprender, pois, "a sala de aula presencial é um dos principais lugares de construção e difusão de conhecimento. É na escola física que a produção de conhecimento ou processamento de informações acontece em maior escala" (ARAGÃO; MENDES NETA, 2017, p.18). Isto reforça a importância dos professores estarem preparados para esta nova realidade educacional, pois eles são os mediadores em sala de aula.
Corroborando com esta linha de pensamento, Bonilla (2010, p. 44) considera a escola como "lócus primeiro e natural dos processos de inclusão digital, uma vez que ela constitui-se em espaço de inserção dos jovens na cultura de seu tempo -- e o tempo contemporâneo está marcado pelos processos digitais".
O Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024 estabelece a inovação e a tecnologia como estratégias para atingir os fins educacionais desejados. Evidentemente que se faz necessária uma mudança de postura, por parte de muitos professores, no que se refere à aceitação e abertura para a inovação da prática pedagógica e uso das tecnologias e sua inclusão nos espaços educativos. Não se pretende afirmar aqui que as tecnologias devam ser as protagonistas em salas de aula, mas acredita-se que o uso que se faz das mesmas, associados a projetos educacionais efetivos, podem favorecer a aprendizagem dos alunos.
Como referenda Santos (2015), o professor precisa ser capaz de potencializar seu ofício através da inclusão cibercultural e defende que esta inclusão se dá através da apropriação e empoderamento da inclusão digital que pode potencializar sua prática docente através da interatividade, conectividade, colaboração, dentre outras possibilidades.
A partir das interlocuções ora apresentadas, esse artigo decorre de uma pesquisa desenvolvida com o objetivo de investigar possíveis formas de inclusão digital na educação. O texto discorre sobre a importância do uso das tecnologias em sala de aula, além de apresentar uma revisão teórica sobre o conceito de inclusão digital e de defender que as práticas pedagógicas devem ser orientadas para a inovação, atendendo às necessidades dos novos aprendizes que vivem na era da rápida evolução dos recursos tecnológicos digitais. Também são apresentadas experiências bem-sucedidas de inclusão digital e utilização das tecnologias em escolas.
Para realização do estudo, optamos pela revisão de literatura, utilizando diversos suportes teóricos. Foram utilizados livros, periódicos científicos, teses e dissertações sobre a temática investigada, selecionados em bancos de dados de teses e dissertações, além de revistas científicas. Também exploramos documentos oficiais, disponíveis no portal do Ministério da Educação (MEC), a exemplo do PNE e Programa Educação Conectada, que tratam sobre inovação e inclusão digital na educação brasileira.
Alguns conceitos de inclusão digital¶
Com a finalidade de montar um arcabouço teórico para a realização da pesquisa, foi feito um levantamento de conceitos sobre a inclusão digital, sob o ponto de vista de diferentes pesquisadores. Foram utilizadas fontes variadas de pesquisa (teses de doutorado, dissertações de mestrado, artigos, entre outros).
Esse levantamento permitiu observar que existe uma preocupação, por parte dos estudiosos, de que a utilização das tecnologias da informação se faz necessária, mas é preciso que os indivíduos se apropriem dos conceitos, sabendo não somente utilizar os computadores, equipamentos e programas, mas que saibam também interagir com eles e compreendam que as tecnologias têm um papel importante na sociedade e na vida das pessoas, na medida em que favorece a resolução de problemas, facilita a comunicação e promove a melhoria da qualidade de vida, além de favorecer a interação entre diferentes grupos. O Quadro 1 apresenta uma síntese de alguns conceitos encontrados.
Quadro 1: Conceitos sobre Inclusão Digital, sob o ponto de vista de alguns teóricos.
CONCEITOS SOBRE INCLUSÃO DIGITAL |
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"O uso livre da tecnologia da informação, com a ampliação da cidadania, o combate à pobreza, a garantia da privacidade e da segurança digital do cidadão, a inserção na sociedade da informação e o fortalecimento do desenvolvimento local" (MARTINI, 2005, p. 2). |
"Deve acontecer a partir do interior dos grupos com vistas ao desenvolvimento de cultura de rede. Numa perspectiva que considere processos de interação, de construção de identidade, de ampliação da cultura e de valorização da diversidade, para, a partir de uma postura de criação de conteúdos próprios e de exercício da cidadania, possibilitar a quebra do ciclo de produção, consumo e dependência tecnocultural" (TEIXEIRA, 2005, p. 30). |
"Entende-se, como ponto de partida do conceito de inclusão digital, o acesso à informação que está nos meios digitais e, como ponto de chegada, a assimilação da informação e sua reelaboração em novo conhecimento, tendo como consequência desejável a melhoria da qualidade de vida das pessoas" (SILVA H. et al., 2005, p. 30). |
"Processo pelo qual os sujeitos sociais, ao se apropriarem dos recursos digitais como coautores, produtores e coparticipantes do processo interacional na cibercultura, utilizam tais recursos como instância transformadora do seu entorno sociocultural" (BONILLA; PRETO, 2011 apud PESCE; BRUNO, 2015, p. 353) |
"A aprendizagem necessária ao indivíduo para circular e interagir no mundo das mídias digitais como consumidor e como produtor de seus conteúdos e processos" (RONDELLI, 2003). |
"Um processo que fomenta apropriações tecnológicas nas quais os sujeitos são compreendidos como produtores ativos de conhecimento e de cultura, em uma dinâmica reticular que privilegia a vivência de características nucleares na sociedade contemporânea, como a interação, a autoria e a colaboração" (MARCON; CARVALHO, 2015, p. 472). |
"Comunicar-se a partir de computadores; entender o funcionamento de equipamentos (hardware), seus programas (software) e aplicações; produzir, organizar, disseminar e visitar a informação de forma automatizada; resolver problemas por meio do uso da tecnologia" (CÂMARA, 2005, p. 50). |
"O conceito de inclusão digital está vinculado a um processo que parte do acesso aos recursos digitais, mas de modo algum se restringe a ele. Mais que isso, a inclusão digital efetiva-se em um amplo processo de exercício da cidadania, na sua plenitude, mediante o abarcar de quatro capitais: social, cultural, intelectual e técnico" (LEMOS, 20017, apud PESCE; BRUNO, 2015, p. 353). |
Fonte: elaborado pelos autores.
É perceptível que existe unanimidade na opinião destes estudiosos sobre a inclusão digital ser uma aprendizagem necessária ao indivíduo.
Com o objetivo de enriquecer as discussões, apresenta-se as considerações de Silva, Silva e Freire (2018), que defendem que, antes mesmo de se pensar em inclusão digital, é necessário democratizar a informação, de maneira a garantir que os mais diversos tipos de sujeitos tenham acesso à mesma. Depois disto, é necessário oferecer a estes sujeitos conteúdos de qualidade, de forma a contemplar o cotidiano profissional, familiar, científico, tecnológico etc. Os autores acreditam ser de fundamental importância a construção de ações que visem o aguçamento do aprendizado informacional.
Estes autores ainda defendem que "a inclusão digital implica apoiar a formação de sujeitos digitalmente letrados no sentido de que essa formação respalde suas construções sociais" (SILVA; SILVA; FREIRE, 2018, p.165), bem como a articulação da inclusão digital de maneira didática e dialógica entre família, escola e meio social, e que esta formação deve estar presente desde a mais tenra infância.
Marcon e Carvalho (2015) trazem um estudo interessante sobre algumas características que podem ser consideradas fundamentais para análise do conceito de inclusão digital, apresentadas no Quadro 2.
Quadro 2: Conceitos sobre Inclusão Digital, sob o ponto de vista de alguns teóricos.
CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE DO CONCEITO DE INCLUSÃO DIGITAL |
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"Democratizar o acesso às tecnologias digitais e garantir a equidade" (MEDEIROS, 2013; DUSYK, 2013; CASARIN, 2014, apud MARCON; CARVALHO, 2015, p. 2). |
"Permitir, na apropriação tecnológica, que as pessoas atuem como provedores ativos dos conteúdos que circulam na rede" (TAKAHASHI, 2000; BONILLA, 2004; TEIXEIRA, 2010a; ODANAI, 2013, apud MARCON; CARVALHO, 2015, p. 2). |
"Valorizar a diversidade" (TEIXEIRA, 2010; PEDROSA, 2011, apud MARCON; CARVALHO, 2015, p. 2). |
"Promover a utilização das tecnologias a favor dos interesses e necessidades individuais e comunitários, com responsabilidade e senso de cidadania" (TAKAHASHI, 2000; TEIXEIRA, 2010a; RODRIGUEZ, 2011; RIBEIRO, 2012; SANTOS, 2012, apud MARCON; CARVALHO, 2015, p. 2). |
"Vivenciar uma cultura de redes" (PRETTO, 2006; TEIXEIRA, 2010a, apud MARCON; CARVALHO, 2015, p. 2). |
"Compreender inclusão digital como um conceito multidimensional, que envolve dimensões digital, informacional e social" (PEREIRA, 2014; ARAÚJO, 2013, apud MARCON; CARVALHO, 2015, p. 2). |
"Desenvolver habilidades e capacidades para a era digital" (ODAINAI, 2013, apud MARCON; CARVALHO, 2015, p. 2). |
"Buscar a fluência digital, com processos que aprimorem a ação e a autonomia dos sujeitos e o exercício da liberdade e da cidadania na rede" (TEIXEIRA, 2010a; PEDROSA, 2011; ALENCAR, 2013; BOTELHO-FRANCISCO, 2014, apud MARCON; CARVALHO, 2015, p. 2). |
Fonte: elaborado pelos autores, com base em Marcon e Carvalho (2015).
Evidentemente que o uso isolado das tecnologias digitais e informacionais não pode se traduzir em inclusão digital. Para que esta aconteça de fato é necessário que os sujeitos compreendam o que estão fazendo e, também, que construam conhecimentos. Estes podem ser usados nos âmbitos culturais, econômicos, sociais, políticos etc., de maneira crítica e autônoma (SILVA; SILVA; FREIRE, 2018).
Como defende Cruz (2004), para que o sujeito seja incluído digitalmente, não basta que ele tenha acesso a micros conectados à Internet. Também é preciso que ele esteja preparado para usar estas máquinas, não somente do ponto de vista de estar capacitado em informática, mas que tenha também uma preparação educacional que o permita usufruir destes recursos de maneira plena. Acrescentamos à defesa do autor, que os sujeitos precisam estar preparados para utilizar os mais diversos equipamentos e recursos tecnológicos disponíveis na contemporaneidade.
Este estudo apresenta a inclusão digital também como possibilidade de democratização do acesso às tecnologias, promovendo a utilização das mesmas, não só para interesses individuais, como também para interesses coletivos. Também pode ser considerada como uma forma de valorização da diversidade, na medida em que pode promover a interação entre diferentes indivíduos e grupos.
Inclusão digital na educação: considerações iniciais¶
De acordo com Pereira, Schmitt e Dias (2007), a maneira de ensinar e aprender está sendo transformada pela globalização e avanço das tecnologias, que requerem uma maior atualização das pessoas para que possam competir no mundo do trabalho.
Couto, Ferraz e Pinto (2017) asseveram que os currículos escolares não priorizam as reais necessidades e expectativas dos estudantes. Conjecturam que a escola vive na era analógica e os estudantes cada vez mais inseridos na cultura digital. Os autores acreditam que existe uma completa desarticulação entre o modelo tradicional de educação em vigor e a sociedade em rede, marcada pelas conectividades. Afirmam, ainda, que na cultura digital, a conquista da cidadania passa pela capacidade de compreender a sociedade para nela atuar e promover sua transformação.
As novas gerações têm vivenciado a "transição de uma formação estritamente institucionalizada (a escola, a universidade) para uma situação de troca generalizada de saberes" (LÉVY; 1999, p. 174) e, neste sentido, pode-se discutir a necessidade de uma alfabetização tecnológica, que lida com uma perspectiva de uso das tecnologias de uma maneira engajada, comprometida, crítica, reflexiva, e que questiona e sugere modificações nas várias formas de ação da sociedade.
Nesta perspectiva, a escola precisa promover o uso criativo dos meios audiovisuais e das tecnologias informáticas. Também se faz necessária uma mudança de concepção dos profissionais da educação, de modo que percebam as mudanças culturais e os processos de comunicação e informação que afetam a sociedade e, como defendia Paulo Freire (1989), muito mais do que saber ler e escrever, é necessário aprender a ler o mundo e compreender os contextos sociais.
Como assevera Knop (2014), basta tão somente perceber, por exemplo, o encurtamento das distâncias que as redes de computadores proporcionaram, além do surgimento de máquinas e softwares que passaram a executar, perfeitamente, tarefas que antes demandavam esforços e tempo das pessoas. Assim, pode-se perceber que a convergência tecnológica, mensurada pela proximidade entre a informática e as telecomunicações, pode impactar diretamente na vida das pessoas.
A partir destas análises pode-se afirmar que a necessidade de utilização das tecnologias, seja no trabalho ou nas atividades sociais cotidianas, requer das pessoas habilidades mínimas para viver nesta sociedade da informação.
Isto posto, por que não pensar que a educação pode ser beneficiada pelas tecnologias? O ensino remoto emergencial, adotado no período da pandemia da Covid-19 nos mostrou a real possibilidade de utilização de plataformas educacionais digitais, por exemplo.
Pretto (2011, p. 16) defende que para este momento contemporâneo é necessária uma escola do "partilhamento on line intensivo, pensando numa educação que compreenda as múltiplas possibilidades trazidas pela complexidade". Defende a escola como espaço de possibilidades de caminhos diferenciados, do se perder e do experimentar as inúmeras possibilidades trazidas pelo próprio caminhar (e agora, navegar), espaço da criação e da experimentação.
Para Martín-Barbero (2000), o cidadão moderno necessita de um sistema educativo que o capacite para ter acesso à multiplicidade de escritas, de linguagens e discursos. Neste mesmo sentido, "a Pedagogia muda completamente com as novas tecnologias" (SERRES; 2013, p. 27). Corroborando com estas ideias podemos afirmar que a educação deve levar em conta as mudanças culturais, políticas e sociais que afetam a sociedade, bem como os atuais processos de comunicação e informação, para alinhar seus projetos e propostas pedagógicas, de forma a garantir a formação de cidadãos aptos para atuarem neste novo contexto social.
As tecnologias digitais fazem parte da realidade no ambiente educacional moderno, na medida em que os educadores podem utilizar celulares, tabletes, computadores, aplicativos educacionais, internet, dentre outros recursos, para potencializar o ensino e a aprendizagem.
Objetivando garantir a todos os estados e municípios condições de implementar ações de inovação e uso das tecnologias nas escolas, o Ministério da Educação (MEC) lançou, em parceria com instituições governamentais e não governamentais, a Política de Inovação Educação Conectada, através do Decreto 9.204/2017 (BRASIL, 2017) e da Portaria Nº 1.602/2017 (BRASIL, 2017). Esta política foi idealizada a partir das seguintes premissas:
a) Qualidade: Personalização da aprendizagem de acordo com ritmo e necessidade de alunos; Acesso à educação continuada para desenvolvimento profissional de gestores e professores.
b) Melhoria da gestão: Ganhos de eficiência na gestão das redes de ensino; Formação de bancos de dados que gerem informações para tomada de decisão em nível federal, estadual e municipal.
c) Contemporaneidade: Maior engajamento dos estudantes por meio da aproximação da escola da cultura digital; Protagonismo e participação ativa de professores e alunos no processo de aprendizagem.
d) Equidade: Oferecer às escolas com maiores desafios recursos para garantir condições básicas de aprendizagem; Acesso a conteúdos de qualidade, independentemente de barreiras sociais e geográficas.
É esperado que esta iniciativa possa favorecer o processo de inclusão digital nas escolas. Todavia é necessário que as secretarias de educação garantam que todas as escolas possuam laboratório de informática, computadores ou outros dispositivos.
Inclusão digital na educação: algumas possibilidades¶
Nesta seção são apresentadas algumas possibilidades de se promover a inclusão digital na educação, identificadas em pesquisas e experiências realizadas no Brasil nas últimas décadas.
Projeto Formação Docente como Exercício Inclusivo de Autoria Colaborativa: Este projeto aconteceu em 2005, em parceria da Prefeitura Municipal de Passo Fundo com a Universidade de Passo Fundo, por intermédio do curso de Ciência da Computação, e a Secretaria Municipal de Educação com vistas à implantação de laboratórios de informática em dez escolas municipais. A partir desta proposta, foi desenvolvido um projeto piloto de formação docente com o objetivo de qualificar os educadores das escolas onde os laboratórios seriam instalados. Em novembro de 2006, iniciou-se o curso de 180 horas, cuja base foi alicerçada em conceitos concernentes à inclusão digital. Cerca de sessenta educadores participaram da formação que foi composta por cinco módulos. Após um ano da realização da formação identificou-se que das dez escolas, três ainda não tinham laboratório de informática. Nas sete escolas que possuíam laboratório, percebeu-se que todos os docentes acreditam na informática educativa como um elemento que pode contribuir significativamente nos processos de aprendizagem. Pôde-se perceber nas falas dos alunos que a utilização do laboratório é feita de duas formas: na primeira, os professores o utilizam como um elemento à parte, talvez como recreação; na outra, o utilizam para ampliar seus conteúdos, como em pesquisas para contribuir com o processo de aprendizagem do aluno em relação a conteúdos específicos. É evidente o desafio de buscar sempre novas alternativas para que esse processo de inclusão digital nestas escolas seja constantemente renovado e que a informática educativa assuma, de fato, o papel de dinamizadora de processos educativos (MARCON; TEIXEIRA;TRENTIN, 2009).
Projeto "Informática na Educação: uma rede para inclusão digital". Este projeto foi implantado na rede municipal de ensino da Prefeitura de Porto Alegre/RS, em 2005, adotando software livre. A partir deste projeto, como parte da política pedagógica do município, foram implantados em escolas dos níveis fundamental, médio e básico os ambientes informatizados que atenderam aos alunos por meio de um sistema que interligava 51 redes locais de escolas de variadas regiões da cidade. A rede dispunha de sistema operacional Linux, com StarOffice, correio eletrônico e acesso à internet. Estes ambientes eram utilizados pelas diversas disciplinas para desenvolver seus conteúdos (TEIXEIRA; CAMPOS, 2009).
Projeto mutirão pela Inclusão Digital: Desenvolvido em 2004, através da parceria entre o curso de Ciência da Computação e o Centro de Referência em Literatura e Multimeios -- Mundo da Leitura, ambos da Universidade de Passo Fundo, foi idealizado a partir das características e demandas da sociedade contemporânea, profundamente modificada pelas tecnologias de rede (TRs) e carente de propostas de inclusão digital. Assim, o objetivo inicial foi criar um ambiente no qual fosse possível incentivar o desenvolvimento de sujeitos habilitados a ser e estar no ciberespaço. O público-alvo foi composto por alunos de escolas públicas do bairro São José, região onde se localiza o Campus Central da Universidade de Passo Fundo. O projeto contou com uma equipe de voluntários formada por professores e alunos do curso de Ciência da Computação da universidade. Foram realizadas "Oficinas de Informática e Cidadania" baseadas numa lógica contrária à ideia de aulas de informática, onde desenvolviam-se atividades de suporte aos projetos escolares, com o objetivo de possibilitar uma apropriação crítica e contextualizada das TRs e de suas potencialidades, num processo de crescente domínio das ferramentas de informática. Nestas oficinais foram possibilitados: 1. Conhecimento da tecnologia; 2. Produção textual em editores de textos; 3. Comunicação na internet; 4. Construção de páginas na internet (TEIXEIRA; CAMPOS, 2009).
Programa um computador por aluno (UCA): Implantado em Santa Catarina, no ano de 2017, este projeto é derivado de uma das metas do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), que contempla a disseminação do uso pedagógico da tecnologia digital. As ações propuseram a inclusão digital em escolas das redes públicas municipais, estaduais e federais. Os professores das escolas envolvidas receberam computadores e participaram de uma formação. A primeira etapa da formação, denominada de instrumentalização, possibilitou que os professores compreendessem os princípios do uso das tecnologias. A partir daí, foram capacitados a utilizar as tecnologias nas práticas pedagógicas. Os professores puderam repensar suas práticas, passando a incluir o uso de tecnologias de maneira coerente, crítica e criativa em suas atividades. Ainda foi possibilitada a aplicação de um projeto socioeducativo multidisciplinar, onde os professores criaram uma rede colaborativa na escola, e desenvolveram práticas socialmente relevantes para a comunidade, utilizando as tecnologias disponíveis (BERGMANN; SILVA, 2017).
Khan Academy: Em parceria com a Fundação Lemann, a Secretaria Municipal de Educação do município de Salvador/BA (SMED) possibilitou que escolas da rede municipal fossem beneficiadas com o projeto que consistia na utilização de um recurso de aprendizado personalizado, com a utilização de computadores, onde os alunos reforçavam os conteúdos de Matemática, vistos em sala de aula, em plataformas de atividades e exercícios lúdicos diferenciados. O projeto era desenvolvido no laboratório de informática das escolas com a mediação de um estagiário. A plataforma oferece exercícios, vídeos de instrução e um painel de aprendizado personalizado que habilita os estudantes a aprender no seu próprio ritmo. As atividades oferecem ações para estudantes e também para professores. Os professores das turmas beneficiadas participaram de formação, assim como os estagiários que davam suporte ao projeto nas escolas. O projeto foi descontinuado em 2018 (KHAN ACADEMY, 2019).
Analisando estes exemplos é possível ver que existem formas práticas e eficazes de inserir o uso das tecnologias nas escolas. É notória a necessidade de garantir a formação dos professores neste sentido e, mais que isto, eles precisam ter compreensão sobre a importância da inclusão digital na educação.
Indiscutivelmente, as escolas são instrumentos centrais para que as novas gerações sejam capacitadas a utilizar as tecnologias, de forma a facilitar sua inserção no mercado de trabalho, além de favorecer a melhoria da qualidade de vida.
Isso não significa, necessariamente, que o uso das tecnologias deva ser considerado como protagonista do sistema educativo, nem que se deva realizar um investimento exagerado em computadores por escola. É interessante que, gradativamente, os currículos escolares e projetos pedagógicos permitam introduzir os alunos no uso desses instrumentos.
É relevante ressaltar a importância de se pensar ações que garantam a universalização destes procedimentos, de forma a garantir o acesso de estudantes de diferentes camadas sociais a estas inovações.
Corroborando com este pensamento, Helou et al. (2011 apud MARCON; CARVALHO, 2015, p. 353) chamam a atenção para "a necessidade de se fomentar políticas públicas de inclusão digital que estejam atentas às demandas de cada região, tendo em vista as desigualdades sociais e topográficas do país". Assim, pode-se inferir que esta medida pode ser necessária para que seja evitado um movimento de exclusão digital, no caso de alguns estudantes serem cerceados do direito ao acesso a estes conhecimentos.
Considerações finais¶
É visível e indiscutível que as tecnologias digitais proporcionaram um grande avanço para a vida das pessoas trazendo uma melhoria na qualidade de vida, por isto pode-se afirmar também que as mesmas vieram para ficar, não cabendo um retrocesso, mas, outrossim, apenas progressos cada vez maiores, se fazendo presente mais e mais no cotidiano de todos nós.
Então, pode-se imaginar também que as tecnologias digitais devem estar cada vez mais presentes na educação, facilitando e democratizando o acesso à informação e ao conhecimento.
Essa nova era que chega, carrega junto também uma nova forma de pensar a educação. Onde todos os atores deste processo (professores, alunos e instituições) precisarão repensar seus papeis, da mesma forma que a implantação das tecnologias nas demais áreas da sociedade fez com que todos tivessem que se adaptar.
Pesquisas e experiências sobre a inclusão digital na educação apontam para a necessidade de formação dos professores. Para que o uso das tecnologias seja adotado nas escolas, é preciso que, minimamente, os professores conheçam os recursos que poderão utilizar, saibam como, por que e quando utilizar e, mais que isto, compreendam a importância do uso das tecnologias para a formação desta nova geração.
Os exemplos de iniciativas adotadas, que objetivaram a promoção da inclusão digital em espaços educativos, apresentados neste trabalho, permitem afirmar que tanto professores, quanto estudantes foram beneficiados com as ações e que a informática educativa pode contribuir significativamente no processo de aprendizagem.
É apenas o começo de uma nova era que certamente ainda trará muito mais benefícios a todos. Uma das grandes preocupações que a inclusão digital pode trazer, por mais paradoxal que pareça, é a exclusão digital. Assim, reforça-se a necessidade de iniciativas e políticas, tanto por parte dos governos, quanto pelas instituições de ensino, que objetivem uma reestruturação curricular que garanta a inclusão, o conhecimento, o acesso e a utilização de diferentes tecnologias no contexto educacional e que atendam, não somente as demandas regionais do país, mas também atentem para as particularidades de diferentes camadas sociais.
Referências¶
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BERGMANN, Juliana Cristina Faggion; SILVA, Marimar da. Projeto UCA em Santa Catarina: Inclusão Digital na Escola e na Comunidade. In: Educere et Educare -- Revista de Educação, vol. 13, n. 25, jul./dez. 2017. Disponível em: http://e-revista.unioeste.br/index.php/educereeteducare/article/view/17964. Acesso em: junho/2019.
BONILLA, Maria Helena Silveira. Políticas Públicas para inclusão digital nas escolas. In: Motrivivência. Ano XXII, nº 34, p. 40 -- 60, jun./2010.
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BRASIL, Lei N° 13.005/2014, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. Brasília, DF, 2014.
BRASIL, Ministério da Educação. Portaria Nº 1.602, de 28 de dezembro de 2017. Dispõe sobre a implementação, junto às redes de educação básica municipais, estaduais e do Distrito Federal, das ações do Programa de Inovação Educação Conectada, instituído pelo Decreto no 9.204, de 23 de novembro de 2017. Brasília, DF, 2017.
CÂMARA, Mauro Araújo. Telecentros como instrumento de inclusão digital: Perspectiva comparada em Minas Gerais. 2005. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) -- Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.
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