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Apresentação

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Eniel do Espírito Santo
Adilson Gomes dos Santos
Susana Henriques

Um dos desafios da docência na contemporaneidade é atuarmos quais professores de nosso tempo, como nos lembra Paulo Freire. Todavia, vivemos em tempos incertos, caracterizados por uma modernidade líquida, no dizer de Zygmunt Bauman, marcados sobremaneira pelos efeitos da cruel pandemia Covid-19 que nos deixou atônitos e com mudanças disruptivas que certamente irão perdurar no período pós-pandemia.

Ressaltamos que as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) aplicadas à educação não se constituem em algo novo, surgido no contexto recente da pandemia Covid-19 que assolou o mundo inteiro e poderá ressignificar os modos de ensinar e aprender. Todavia, a ampla utilização das TDIC impõe desafios ainda maiores para o campo educativo, pois não é possível transferir para os ambientes virtuais de aprendizagem as práticas utilizadas com êxito no ensino presencial, visto que dificilmente conseguiríamos alcançar a geração polegarzinha, descrita pelo filósofo francês Michel Serres ou, se preferir, a geração de nativos ou sábios digitais que nos apontou Mark Prensky. Torna-se, pois, necessária mais investigação centrada nas práticas educativas assentes em TDIC, suas potencialidades e bloqueios. O presente volume assume-se como um contributo neste campo.

Este livro é o primeiro volume dos resultados de pesquisas selecionadas, realizadas no âmbito dos trabalhos de conclusão de curso da primeira turma do curso de Pós-graduação Lato Sensu em Tecnologias e Educação Aberta e Digital, ministrado pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), em acordo de cooperação internacional com a Universidade Aberta Portugal (UAb).

Os 17 artigos que compõem este volume foram elaborados pelos egressos da pós-graduação e seus respectivos orientadores no ano de 2019, isto é, pouco antes dos efeitos assoladores da pandemia Covid-19. Todavia, a pertinência dos assuntos abordados continua articulada ao contexto da educação digital, seja pré-pandemia, na pandemia ou pós-pandemia. Acreditamos que as reflexões ao longo dos textos dessa obra proporcionarão ao leitor uma visão mais aprofundada das tecnologias e interfaces digitais como suporte à mediação do processo de ensino e aprendizagem e, sobretudo, à promoção da autonomia dos educandos.

Para melhor compreensão dos tópicos abordados, organizamos a obra em quatro seções ou partes com contribuições teóricas e práticas. Inicialmente, apresentamos cinco artigos que abordam os aspectos gerais das tecnologias digitais e os cenários e ambientes virtuais de aprendizagem no contexto da cibercultura. Na segunda seção, temos quatro artigos relacionados com a emergente temática da gamificação e dos jogos digitais na educação. A terceira seção reúne cinco artigos que discutem as potencialidades das interfaces digitais nos processos de ensino e aprendizagem. Por fim, a última seção nos brinda com a discussão de três artigos que apresentam propostas formativas enriquecidas pelas tecnologias digitais. Observe a seguir alguns detalhes e direcionamentos de cada texto de artigo do livro.

1ª seção: percepções das tecnologias e cenários digitais de aprendizagem

O primeiro texto desta obra intitula-se “Tessituras sobre inovação e inclusão digital na educação”, dos autores Cristiane Regina Dourado Vasconcelos e Edilson Araújo Pires, que discorrem sobre a importância do uso das tecnologias em sala de aula, além de apresentarem uma revisão teórica sobre o conceito de inclusão digital, defendendo que as práticas pedagógicas devem ser orientadas para a inovação, atendendo assim às necessidades dos novos aprendizes que vivem nesta era da rápida evolução dos recursos tecnológicos digitais.

O segundo artigo intitula-se “Educação profissional no Brasil: marcos históricos-legais, o papel da EAD e a tentativa de combater a pobreza”, de Lilian Alves Moura de Jesus e Celismara Gomes da Silva. O artigo analisa o processo de desenvolvimento da educação profissional brasileira do ponto de vista histórico-legal, mostrando como a educação a distância foi fundamental na ampliação dessa modalidade educativa. Ademais, aponta as conexões da educação profissional com as políticas de acesso ao trabalho e emprego, diminuição da pobreza e combate à desigualdade social no país, revelando a necessidade de melhor planejamento para a efetividade do uso das tecnologias de informação e comunicação no âmbito da educação profissional.

A terceira contribuição tem como título “Os ecossistemas digitais de aprendizagem, a aprendizagem ubíqua e a premência da fluência digital: requisitos para construção da cultura digital na escola conectada”, em que Cássio Murilo Alves Costa e Sara Dias-Trindade analisam criticamente como as tecnologias do século XXI integraram-se à educação, causando disrupturas, empoderamentos e criando novas formas de interação; ressaltando a emergência na sintonia entre docentes e discentes para atualizar-se com as novas tecnologias digitais de informação e comunicação aplicadas ao ensino e aprendizagem. Apontam que os ecossistemas digitais de aprendizagem funcionam, suas simbioses entre homens, TDIC, aprendizagem ubíqua, AVA e suas interações e interatividades no mundo plugado, agregando novas possibilidades, ferramentas e potencialidades que promovem a cultura digital.

No penúltimo artigo dessa primeira parte, “A autonomia discente na produção do conhecimento em ambiente virtual de aprendizagem”, David Ângelo dos Santos Remígio e Daniela de Jesus Lima discutem o uso adequado das ferramentas disponíveis nos ambientes virtuais de aprendizagem como potencializadoras do processo de ensino e aprendizagem, promovendo uma aprendizagem autônoma, proativa e colaborativa na educação a distância.

Daniela Cerqueira Carvalho e Joana Duarte Correia arrematam o último artigo dessa seção com o texto “A voz feminina no ciberespaço: Youtube - ferramenta de empoderamento?” Neste estudo, as autoras analisam três canais no Youtube, protagonizados por mulheres, apontando que as redes sociais podem contribuir para a quebra de um sistema vigente que invisibiliza as narrativas dos grupos minoritários. Ressaltam que os vídeos em si não transformarão o sistema, mas contribuem para a mudança dos sujeitos, tornando-se empoderados e capazes de promover transformações sociais.

2ª seção: gamificação e jogos digitais na educação

O artigo de Nelian Leal Serafim e Isa de Jesus Coutinho, “O uso de elementos de gamificação como auxílio no processo de ensino e aprendizagem de alunos com TDAH: uma revisão sistemática da literatura”, abre os debates da segunda seção. As autoras analisam as produções científicas que relacionam o uso da gamificação como subsídio para a aprendizagem de alunos com TDAH. Avaliam, por meio dos resultados dos estudos, o uso de elementos gamificados para a educação desses alunos, no sentido de tornar, para este público, o processo de ensino e aprendizagem mais leve, prazeroso e, em consequência, muito mais efetivo.

Como sétima contribuição desta obra temos o texto “Game: possibilidades e aplicação linha do tempo histórica”, em que Brigitte Bedin e Marilúcia Campos dos Santos apresentam a possibilidade dos chamados serious game com propósito educativo, ressaltando a sua utilização de forma cautelosa, com parcimônia e, sobretudo, como facilitadores no processo de aprendizagem.

Na reflexão de Larissa Leslie Sena Fiuza Bispo e Edilson Araújo Pires no texto “Gamificação no Ensino Médio: características e experiências”, os autores destacam que para além da concepção de ludicidade, a utilização dos jogos digitais na educação interfere em estruturais comportamentais, procedimentais e atitudinais. Apontam que a gamificação influencia diretamente na forma como os estudantes desenvolvem a aprendizagem, na diminuição das dificuldades para entender determinado conteúdo curricular, na inserção de estudantes com necessidades educativas especiais e na própria construção dos jogos como meio de aprender e analisar conteúdos de formação técnica.

O último artigo dessa seção desperta a curiosidade com a pergunta título “Podemos aprender com jogos digitais de violência? Uma análise das narrativas de Hellblade: Senua’s sacrifice e Spec Ops: The line”, das autoras Anne Louise Dias e Isa de Jesus Coutinho, que analisam a construção dos elementos narrativos dentro de dois jogos: Hellblade: Senua’s sacrifice (2017) e Spec Ops: The line (2012), jogos digitais que oferecem aos jogadores uma jornada profunda de amadurecimento, seja crescimento de suas próprias personagens ou dos jogadores no mundo real. As autoras buscam compreender como o desenvolvimento de narrativas, funcionando em uníssono com os mecanismos presentes na interface digital, afetam a experiência do usuário, bem como potencializam um espaço de aprendizagem capaz de transitar entre o entretenimento e a possibilidade de fazer parte de práticas educativas.

3ª seção: interfaces digitais na educação

Essa terceira seção do livro inicia-se com o texto “Vídeos online no ensino: estudo de caso sobre a participação dos estudantes do Ensino Médio no processo de produção”, de Paulo Henrique Rocha da Silva Mota e Fouad Nejmeddine. No artigo, os autores examinam as possibilidades, dificuldades e potencialidades encontradas pelos docentes na produção de vídeos. Ao analisar a produção de vídeos no ensino de Biologia em uma escola pública do interior baiano, os autores apontam que a prática contribuiu para a promoção, não apenas do conhecimento, mas também de práticas colaborativas e autônomas essenciais à cidadania, assim como na diversão e interesse dos alunos, abrindo outras possibilidades que permitem ultrapassar às dificuldades do uso das tecnologias no contexto da escola pública.

No artigo seguinte temos o texto “Aprendizagem móvel e uso do celular na escola”, que trata do desenvolvimento da competência tecnológica docente na promoção da aprendizagem por meio do uso dos celulares em sala de aula. As autoras Josiane da Cruz Lima Ribeiro e Adriana Santos de Jesus desenvolveram um estudo em um ambiente virtual de aprendizagem com docentes voluntários, possibilitando acesso a um objeto digital que contemplasse estudos acerca da cultura digital, a partir de experiências com o uso do celular na escola. Afirmam que a inserção do celular, como um artefato tecnológico na sala de aula, favorece o ensino e a aprendizagem, por meio do desenvolvimento de propostas pedagógicas direcionadas.

Em seguida Rafael Ramos Longuinhos e Adriana Santos de Jesus abordam a “Utilização do Facebook para o ensino da Astronomia: uma proposta metodológica para a formação de estudantes e professores de ciências na perspectiva da Base Nacional Comum Curricular”. Os autores apontam conteúdos sugeridos para as discussões em grupo de estudos de Astronomia, por meio da rede social Facebook, correlacionando-os à ótica da BNCC. Asseveram que um processo de ensino e aprendizagem em Astronomia mais significativo e contextualizado requer que professores e estudantes estejam dispostos a compreender os avanços da era digital, haja vista que os livros didáticos não conseguem acompanhar a rapidez com a qual os conhecimentos astronômicos são produzidos e difundidos no ambiente virtual.

No penúltimo artigo dessa seção, “Tecnologias móveis para educação Fitossanitária: mapeamento de aplicativos e ferramentas digitais sobre pragas agrícolas”, Tallyrand Moreira Jorcelino e Marilúcia Campos dos Santos mapeiam vinte e três aplicativos e interfaces digitais relacionados à sanidade vegetal, como auxílio à educação fitossanitária no manejo integrado de pragas. As descrições sucintas de tais interfaces demonstram a relevância da promoção e do lançamento de novos aplicativos, instigando o seu uso em espaços não escolares, como forma de busca por mais informações e conhecimentos sobre o manejo integrado de pragas, pertinentes no âmbito do agronegócio e da agricultura familiar brasileira e internacional.

Essa terceira seção do livro é arrematada pelo texto “Mídias digitais como instrumento de mediação no processo de aprendizagem de estudantes surdxs”, de Rubiane Vieira de Jesus e Welbert Vinícius de Souza Sansão, que partem de uma revisão de literatura para discutir a importância das mídias digitais em ambiente escolar como forma de aprendizagem de alunos com surdez. Os autores reafirmam a identidade política da comunidade surda ao utilizarem no transcorrer do texto o "x" para conferir às palavras um gênero não marcado, reafirmando a identidade política da comunidade surda. Destacam que, para estudantes surdxs, o complexo processo de aprendizagem envolve outras especificidades, pois o contato com o mundo a sua volta ocorre por meio da Língua Brasileira de Sinais (Libras), expressões faciais e outros recursos visuais que estimulam o desenvolvimento de suas capacidades. Apontam que o aprendizado a partir das mídias digitais é uma oportunidade para tais estudantes desenvolverem capacidades necessárias para a construção do seu conhecimento e aprendizagem.

4ª. seção: propostas formativas enriquecidas pelas tecnologias digitais

Essa quarta parte do livro é aberta com o artigo “Formação online de professores: análise da organização didático-pedagógica-tecnológica de uma Licenciatura na EaD”, de Mateus Souza de Oliveira e Marilúcia Campos dos Santos. Como resultado de uma pesquisa documental, os autores discutem as propostas de formação inicial online para professores de Matemática por meio da análise do projeto pedagógico do curso de Licenciatura em Matemática, modalidade a distância, realizado pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia com o fomento do Sistema Universidade Aberta do Brasil. Observaram que a plataforma adotada potencializou a concretização do curso e promoveu a aproximação dos educandos de uma sala de aula real e dos processos ciberculturais.

Em seguida, Jitone Leônidas Soares e Daniel Pereira Rocha tratam das “Percepções dos cursistas em relação ao curso online autoinstrucional de Atuação Político-parlamentar”. Por meio de um estudo de caso, os autores analisam as percepções dos estudantes de um curso online promovido pela Associação Nacional dos Auditores da Receita Federal Brasileira (ANFIP). Os resultados evidenciam o elevado nível de satisfação dos cursistas e apontam oportunidades de melhorias a serem levadas em conta nas próximas ofertas do curso, como parte do usual processo de melhorias contínuas em cursos online.

Por fim, o livro é arrematado por Alexsandro Souza Burite e Eniel do Espírito Santo, apresentando-nos o artigo “Educação corporativa no setor público: formação a distância em compras governamentais na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)”, com a proposta de produção de um curso massivo, aberto e online, direcionado para a formação em licitações. O desenho instrucional do curso proposto articula-se com o modelo pedagógico virtual para educação aberta e digital da UFRB, tendo sido projetado e implementado em um ambiente virtual de aprendizagem, utilizando-se a plataforma Moodle. Os autores apontam que o curso será aperfeiçoado continuamente, a partir das devolutivas dos cursistas, da percepção do professor conteudista e da equipe multidisciplinar de educação a distância da UFRB.

Esperamos que o conjunto dos textos de artigos apresentados nesta obra possam contribuir para a melhor compreensão do leitor – quer seja estudante, professor, pesquisador – quanto ao uso das tecnologias digitais nos processos de ensino e aprendizagem. Os artigos apresentados neste livro não pretendem esgotar a temática, mas antes, fornecer indicativos de possíveis direcionamentos teóricos e práticos que constituem o fazer pedagógico nos espaços e ambientes digitais de aprendizagem, neste campo epistêmico em efervescente construção.