Percepção e Análise Ambiental¶
O meio ambiente, ou simplesmente ambiente, é o conjunto de todo o patrimônio natural ou físico, artificial e cultural que possibilita o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas (BOFF, 1998). Nesse contexto, o planeta Terra é o ambiente de todos os organismos que nele habitam, um sistema complexo e dinâmico, composto por vários sub-sistemas que interagem entre si.
De acordo com Resende et al. (1993b), o homem, no seu processo evolutivo, tem testemunhado muitos problemas ambientais e, diante deles, tem assumido duas atitudes: ou os enfrenta tentando reduzi-los ou, de uma forma não menos engenhosa, busca conviver com eles. Visando compreender o seu papel no ambiente e encontrar meios de se desenvolver de forma equilibrada com o todo, o Homem tem utilizado diferentes métodos sendo o primeiro deles, muitas vezes de forma inconsciente, o ato de perceber o mundo ao seu redor.
Perceber significa tomar consciência de, por meio dos sentidos; captar com a inteligência, compreender (HOUAISS e VILLAR, 2009); para Marin (2008), segundo dicionários da língua portuguesa, significa ato ou efeito de perceber; combinação dos sentidos no reconhecimento de um objeto; recepção de um estímulo; faculdade de conhecer independentemente dos sentidos; sensação; intuição; ideia; imagem; representação intelectual. A mesma autora, citando Hochberg (1973), destaca que a percepção é um dos mais antigos temas de especulação e pesquisa no estudo do homem. Estuda-se a percepção numa tentativa de explicar as observações do homem do mundo que o rodeia.
A questão ambiental e sua suposta percepção constitui um meio para uma reflexão em torno das práticas de responsabilidade e educação ambiental, de modo que seja capaz de minimizar constantes e crescentes agravos ambientais existentes em contexto geográficos específicos (CARVALHO et al., 2012).
Nesse contexto, a percepção ambiental pode ser entendida como uma tomada de consciência do ambiente pela sociedade, ou seja, o ato de perceber o ambiente que se está inserido, aprendendo a proteger e a cuidar dele (FAGGIONATO, 2011 citada por CARVALHO et al., 2012).
A percepção inadequada da realidade promove a utilização dos recursos ambientais de maneira insustentável, comprometendo a estabilidade ambiental e social. Para realização dos processos de educação, planejamento e gerenciamento voltados às questões ambientais é indispensável conhecer a percepção ambiental do grupo envolvido (SILVA e LEITE, 2008), principalmente em relação aos profissionais que vão atuar para eleger e aplicar técnicas para minimizar, remediar e, ou recuperar possíveis impactos causados ao meio pela intervenção humana.
Existem diferentes formas para se perceber o ambiente, principalmente por meio da análise integrada dos diferentes componentes do sistema biótico e abiótico e suas interações. Nesse sentido, a análise do ambiente é utilizada por diferentes áreas do conhecimento com o objetivo comum de fornecer elementos e uma visão global sobre as complexas interações que ocorre entre os componentes ambientais, na busca pelo desenvolvimento em bases sustentáveis.
De acordo com Marin (2008), as pesquisas sobre percepção se desenvolveram originalmente da psicologia e, mais recentemente nas diferentes áreas do conhecimento, tais como a psicologia ambiental a arquitetura e urbanismo, a geografia e a filosofia.
Nas áreas de Economia e Marketing, a análise do ambiente ou environmental scanning é utilizada segundo Choo (2001) como aquisição e uso de informações sobre eventos, tendências e relacionamentos no ambiente externo de uma organização, cujo conhecimento ajudaria no planejamento da ação futura da organização.
Para Vasconcellos Filho (1979), empresários e administradores reconhecem que a adoção de método de planejamento estratégico nas empresas é a melhor alternativa para uma organização que procura garantir sua sobrevivência e desenvolvimento, por meio de maior interação com o ambiente no qual opera. Neste caso, a realização de uma análise ambiental é o único caminho para que tal conhecimento seja alcançado.
Segundo Santos (2008a), a análise dos sistemas prestou grandes serviços às disciplinas exatas para o progresso das quais ele contribuiu. Também nas áreas das Ciências Humanas, inclusive a Geografia, este método é utilizado. Para o autor, o espaço, objeto essencial dos estudos geográficos, sendo considerado como um sistema, independentemente da sua dimensão, seria susceptível de uma análise correspondente. De acordo com Abler et al., (1971, p. 54) citado por Santos (2008a), Fred Luckermann defende que “o geógrafo deve conceber os pontos da terra como partes de um sistema relacionado uns com os outros, segundo diferentes níveis de interação”. Nesse sentido, o espaço pode ser considerado em termo de ecossistema. O espaço deve ser considerado como uma totalidade, a exemplo da própria sociedade que lhe da vida (SANTOS, 2008b).
Os estudos que buscam fornecer o conhecimento das percepções estão se tornando mais comuns, avaliando como diferentes grupos de pessoas percebem os lugares e as paisagens onde nascem, crescem, trabalham, vivem e morrem (DIAS, 2007).
O estudo e planejamento de uso da terra é sempre realizado em uma unidade física de planejamento que pode ser conceituada como o espaço geográfico, diferenciado por determinados critérios e considerado para a realização dos diversos trabalhos. Essa unidade física de planejamento pode ser, por exemplo, um ecossistema, um município, uma bacia hidrográfica ou uma propriedade rural. Estudos de unidades físicas naturais, como as bacias hidrgráficas, possibilitam avaliações de possíveis usos pertinentes aos diferentes potenciais ecológicos das várias regiões naturais, sobre os quais a ação antrópica exerce pressão. Normalmente, associado a isso, busca-se ainda o entendimento da autorregulação e evolução desses sistemas, principalmente a partir da intervenção antrópica (NACIF et al., 2003).
A análise da dinâmica da paisagem, principalmente se realizada dentro de uma bacia hidrográfica, revela o papel dos seus componentes bióticos e abióticos como elementos unificadores dos ecossistemas e das atividades antrópicas. Pode-se então perceber neste espaço delimitado do ambiente os interessantes elos conectores entre os processos naturais e os processos sociais. Por isso é altamente relevante o entendimento do conceito de bacias hidrográficas (Figura 5.1)
O planejamento e/ou exercício da conservação têm frequentemente enfoques reducionistas e aplica-se apenas a segmentos da paisagem geral, o que leva ao desequilíbrio do ambiente natural. Portanto, a bacia de drenagem, particularmente a pequena bacia, parece localizar, de forma natural, o problema da conservação dos recursos naturais, em razão da interdependência dos atributos bióticos e abióticos no seu interior. Parece lógico, neste caso, que a pequena bacia de drenagem seja considerada como unidade fundamental de trabalho na conservação do meio ambiente (RESENDE et al., 2014).
Figura 5.1: Visão geral de uma bacia hidrográfica. Fonte: RESENDE et al., 1993a.
De acordo com Santos (2017), a maioria das paisagens naturais são compostas de bacias de drenagem que, por sua vez, consistem em declives de colinas e canais de riachos em um arranjo ordenado para transportar efetivamente água e sedimentos. Estes ambientes são perturbados durante a mineração e, neste caso, o caráter do equilíbrio pós-regeneração difere da condição de equilíbrio original porque as propriedades geológicas e do solo não podem ser replicadas. Neste caso, o plano de recuperação de ambientes impactados pela mineração deve abordar a reconstrução topográfica, o projeto topográfico, a substituição e reconstrução do solo, a revegetação, o monitoramento e manutenção do local.
A investigação do ambiente depende da compreensão do indivíduo em relação ao meio que o cerca e de métodos e técnicas que auxiliem a enxergar o que os componentes bióticos e abióticos e as feições ambientais expressam, refletindo os processos e dinâmicas advindos da interação entre eles. Segundo Alllègre e Schneider (2013), a evolução do planeta e de sua atmosfera deu origem a vida, que determinou todo o desenvolvimento posterior. Nosso futuro depende da interpretação desse passado geológico, considerando as mudanças, boas e más, que nos aguardam.