O USO DE BLOG COMO FERRAMENTA AVALIATIVA EM PRÁTICAS DE ENSINO NO FUNDAMENTAL II¶

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Resumo¶

No modelo construtivista, a avaliação deve ser feita com instrumentos variados sendo necessária a participação do aluno na construção do seu conhecimento. Além disso, a avaliação deve mostrar não só o progresso do aluno no processo de ensino-aprendizagem, mas também levar à avaliação do trabalho do professor; por isso, o professor deve estar constantemente aperfeiçoando suas técnicas de avaliação. Uma ferramenta que podemos utilizar são os portfólios, ferramentas que possuem caráter reflexivo, exploram a autonomia dos alunos e permitem a articulação entre a prática e os conteúdos. Os blogs podem ser usados também para a construção de portfólios digitais, pois são gratuitos, fazem parte do cotidiano dos alunos e, através do uso dele, o aluno tem a possibilidade de postar vídeos, imagens e textos, elementos transmidiáticos. Analisamos a potencialidade da ferramenta digital blog como instrumento avaliativo. Para isso, realizamos uma aula prática onde os alunos foram orientados a construir um terrário com acompanhamento diário das possíveis mudanças que aconteceram no mesmo sendo registradas no blog. Através da participação dos alunos, identificamos as possíveis dificuldades encontradas por eles no uso dessa ferramenta.

Palavras-chave: Avaliação. Construtivista. Aprendizagem. Blog.

1. Introdução¶

No modelo construtivista, a avaliação deve ser feita com instrumentos variados não ficando presa apenas a provas, testes ou simulados. A participação do aluno na construção do seu conhecimento também é necessária, pois ele não é apenas acumulador e repetidor das informações recebidas. (MELO; BASTOS, 2012)

A avaliação deve mostrar o progresso do aluno no processo de ensino aprendizagem, mas também remeter a uma avaliação do trabalho do professor; por essa razão, o professor deve estar constantemente aperfeiçoando suas técnicas de avaliação. Pensando nisso, devemos inovar e acompanhar a evolução tecnológica digital, precisamos conhecer as potencialidades que as ferramentas digitais possuem como ferramenta avaliativa, enriquecendo, portanto, nossas práticas pedagógicas, tornando o processo de aprendizagem mais dinâmico, atraente e efetivo. Sendo assim, como um blog pode colaborar na avaliação do processo de ensino aprendizagem?

Para responder a essa pergunta, definimos como objetivo geral desta pesquisa a análise da potencialidade da ferramenta digital blog como instrumento avaliativo. Já os objetivos específicos dessa pesquisa foram a realização de uma aula prática onde os alunos foram orientados a construir um terrário, com acompanhamento diário das possíveis mudanças que pudessem acontecer no mesmo sendo registradas no blog. Ademais, buscamos analisar a participação dos alunos referente à entrega dos trabalhos por meio da plataforma, a fim de identificar as possíveis dificuldades encontradas por eles no uso dessa ferramenta.

2. Metodologia¶

O caminho percorrido para esta pesquisa aconteceu da seguinte maneira: I) Primeiro, fizemos um levantamento bibliográfico sobre as potencialidades do uso de blog na educação; depois, uma revisão literária sobre avaliação. II) No segundo momento, escolhemos uma atividade em que fosse necessário um acompanhamento diário, seguido de registros em um tipo de diário de bordo. III) Já no terceiro momento, realizamos um acompanhamento dos discentes que estavam conseguindo realizar as postagens e quais estavam apresentando dificuldades para que pudéssemos intervir. Finalizamos com a avaliação da aprendizagem construída pelos alunos.

3. Revisão Bibliográfica¶

3.1 A avaliação na perspectiva construtivista¶

As duas correntes pedagógicas mais influentes na educação são a tradicional e a construtivista. A primeira centra suas avaliações nas provas e testes que exigem a acumulação de informações, memorização dos conteúdos e a repetição. Já na segunda, a avaliação da aprendizagem dos alunos deve acontecer por meio de diversos instrumentos e com a participação ativa do aluno no processo.

Pensando na avaliação da perspectiva construtivista, o professor passa a construir possibilidades para o aluno chegar ao conhecimento de maneira autônoma, enquanto na educação tradicional o papel do professor é apenas de transmissor de verdades prontas. Então, o novo foco passa a ser a preparação de condições para que o aluno seja competente, através de relações significativas entre as informações que ele recebe e o universo que ele se encontra. Para isso, são necessárias abordagens de situações contextualizadas que exijam a análise crítica do discente, como leituras de textos, jornais, manuais, exames, notícias, entre outras informações, permitindo -- lhe a leitura do mundo no qual está inserido. (MELO; BASTOS, 2012)

Na perspectiva construtivista, a avaliação possui funções formativa, somativa e também autoavaliativa. A função formativa dá condições para que o processo de ensino - aprendizagem ocorra de maneira efetiva, através de um processo de interpretação -- intervenção sobre o desenvolvimento do ensino - aprendizagem. Já a avaliação somativa consiste na classificação do aluno de acordo como seu nível de aprendizagem, servindo também para o professor avaliar o processo ao final do período letivo e adotar medidas para aprimorá-lo. Por fim, temos a função de autoavaliação, na qual o aprendente participa mais ativamente do processo, uma vez que permite que ele analise seu progresso junto aos professores e colegas.

3.2 Uso de Blogs como instrumento avaliativo¶

Entendemos que a avaliação, segundo o modelo construtivista, deve possuir a finalidade de acompanhar a construção do conhecimento por parte do aluno para definir possíveis intervenções no processo. Sendo assim, a mesma deve contar com diversos instrumentos que garantam um acompanhamento contínuo da construção do conhecimento do aluno, abrangendo diversos aspectos, não só aqueles demonstrados em sala de aula (COSTA, 2012).

Uma das diversas ferramentas que podemos utilizar no processo de avaliação da aprendizagem dos discentes são os portfólios, ferramentas que possuem caráter reflexivo, exploram a autonomia dos alunos e permitem a articulação entre a prática e os conteúdos. A utilização dos portfólios é reforçada por Gomes (2006):

Na realidade, um portfólio de avaliação é também e simultaneamente um portfólio de aprendizagem pois o que se pretende é avaliar as aprendizagens efetuadas pelos alunos não só em termos de produtos, mas também de processos. (GOMES, 2006, p.296)

Os blogs podem ser usados também para a construção de portfólios digitais, pois são gratuitos, fazem parte do cotidiano dos alunos e, através do uso dele, o aluno tem a possibilidade de postar vídeos, imagens e textos, elementos transmidiáticos que permitem a exploração por parte dos diferentes perfis cognitivos de aprendizagem, possibilitando uma melhor expressão da compreensão do processo de aprendizagem pelo aprendente.

A ferramenta digital blog também pode ser considerada como um Ambiente Virtual de Aprendizagem -- AVA, no qual os alunos podem realizar postagens do percurso das suas aprendizagens por meio da interação entre vídeos, imagens, sons e textos, além de permitir comentários dos visitantes, promovendo a interação e colaboração entre os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem para a construção do conhecimento (PEREIRA; SCHIMITT, 2015).

3.3 A Atividade: Construção do terrário}

O terrário é um recipiente que contém areia, carvão vegetal em pó e terra adubada, com uma plantinha e um pouco de água com a finalidade de simular um pequeno ecossistema. Após construir o terrário, o aluno foi orientado a acompanhar as mudanças diárias para compreender processos como fotossínteses, respiração, ciclos da água e do carbono, além de identificar os componentes bióticos e abióticos de um ecossistema e suas interações.

Durante um mês, os alunos do 6º ano do Ensino Fundamental II, do Colégio Projeção, localizado na cidade de Conceição do Coité, estado da Bahia, puderam fazer registros diários nos seus blogs através de fotos, sobre os aspectos físicos do terrário e, principalmente, da plantinha que se encontrava hermeticamente fechada dentro do recipiente (figuras 1 e 2).

Após trinta dias de observação e registros fotográficos, os alunos postaram no blog o relatório das observações, explicando porque as plantas não morreram, de onde as plantas retiraram os elementos necessários para sua sobrevivência e qual a importância da luz para o experimento (figuras 3 e 4).

O terrário permitiu que os alunos não só observassem que a planta não morreu durante o período de observação, mesmo o recipiente estando fechado, mas também percebessem que as paredes dos recipientes ficaram embaçadas, o que evidenciou a ocorrência do ciclo da água, pois água que condensou nas paredes era resultado da transpiração realizada pela plantinha que estava lá dentro. Eles também identificaram a decomposição de algumas folhas que caíram da planta.

Conclusão¶

Para contemplar uma avaliação de modo construtivista da aprendizagem dos discentes, devemos utilizar instrumentos diversificados, sucessivos, participativos, relevantes e significativos, construídos pelo professor de modo que se possa compreender como a construção do conhecimento está ocorrendo em seus alunos.

Além disso, devemos levar em conta que a aprendizagem não acaba na escola, considerando e valorizando a continuidade da participação do aluno nas atividades e pesquisas em casa, assim como seu interesse, iniciativa, autonomia, questionamentos, empenho e desempenho. Essas observações devem fazer parte do dia a dia do professor, pois se trata de considerações que não são possíveis de serem avaliadas mediante prova.

É importante a utilização de vários instrumentos no sentido de avaliar o aluno em todas as suas vertentes e, nesse tocante, evidencia - se a importância do uso do blog como ferramenta de acompanhamento do processo de construção do conhecimento do aluno. Através dele, podemos acompanhar as postagens referentes às aprendizagens desenvolvidas pelos alunos periodicamente, de maneira próxima, pois podemos apresentar feedbacks constantes e intervenções efetivas, assumindo assim as funções formativa, somativa e autoavaliativa. Entre as dificuldades mais recorrentes estava a dificuldade em criar um blog, o que já havíamos esperado, pois o público alvo da pesquisa foi alunos do 6º ano do Fundamental II, com faixa etária entre 11 a 13 anos. Visto que muitos já faziam uso de microblogs como Facebook e Instagram, o manuseio dos blogs depois de criados não foi difícil, pois eles já estavam familiarizados com as formas de postar seus vídeos, fotos e textos.

Utilizamos uma aula onde mostramos, através de um datashow, como criar um blog e permitimos que os discentes filmassem o processo de criação do blog. Orientamos que os blogs fossem criados por seus pais ou responsáveis pelo fato de os alunos serem menores de idade; o que também proporcionou que os pais pudessem acompanhar a construção do conhecimento por seus filhos. Esse envolvimento também teve o objetivo de superar a dificuldade encontrada pelos alunos em criar um blog.

No tocante à avaliação da aprendizagem dos alunos, podemos perceber que ela aconteceu de maneira constante, pois acompanhamos as postagens semanalmente e assim podemos verificar se eles estavam adotando os devidos cuidados com as plantas, se eles estavam registrando as mudanças, como a ocorrência do ciclo da água dentro do recipiente fechado, por exemplo. Alguns alunos não perceberam mudanças como essas e, na aula seguinte, já levantamos questões que os levassem a reflexões para que, quando chegassem em casa, eles pudessem reanalisar e percebê-las. Notamos também que, por unanimidade, os alunos perceberam de maneira empírica a ocorrência da fotossíntese e sua importância para a existência da vida na terra, o que os ajudou a identificar os vegetais como a base da cadeia alimentar.

Outra vantagem que podemos identificar com o uso da ferramenta digital blog foi a redução do impacto ambiental, pois foi dispensado o uso de papel. Dessa forma, as ferramentas digitais apontam como ótimas alternativas para substituição do papel, pois tanto o papel branco quanto o reciclado causam impactos ambientais - uma vez que os papéis reciclados consomem muita água e energia na sua cadeia de produção e os papéis brancos precisam de matéria-prima vegetal, o que colabora com desmatamentos.

Referências¶

COSTA, Y. de Q. A ecoeficiência do papel branco versus o papel reciclado. Campinas: Instituto de Biologia da UNICAMP, 2012. Disponível em: https://www.ib.unicamp.br/dep_biologia_animal/ sites/www.ib.unicamp.br.site.dep_biologia_animal/files/9.\%20A\%20ECOEFICI\%C3\%8ANCIA\%20DO\%20PAPEL.pdf Acesso em: 01 jul. 2019.

GOMES, M. J. Portfólios digitais: revisitando os princípios e renovando as práticas. In: VII Colóquio sobre Questões Curriculares (III colóquio luso-brasileiro) Globalização e (des) igualdades: Os desafios curriculares. Anais... LISBOA: 2006, CD-ROM.

MELO, É. S. de; BASTOS, W. G. Avaliação escolar como processo de construção de conhecimento. Revista de Avaliação Educacional, São Paulo, n. 52, v. 23, p. 180-203, agost. 2012.

PEREIRA, A. SCHMITT, V. Ambientes virtuais de aprendizagem. Revista PUCRS, Santa Catarina n. 01, v. 12, p. 1-23, agost. 2015.