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Legenda

USO DO AUDIOVISUAL COMO METODOLOGIA DE ENSINO NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Gabriella Santana Santos

Celismara Gomes da Silva

Resumo

Entende-se que a linguagem audiovisual é bastante utilizada e potencializada no atual contexto da Cibercultura. Desta forma, este artigo buscou avaliar como o estímulo e o uso desta linguagem, produzida com tecnologia móvel, na maioria das vezes pelos próprios alunos, pode contribuir para o ensino e aprendizagem na educação básica pública, analisando as possibilidades de uso destes recursos como metodologias de aprendizagem, averiguando como essas práticas podem promover a aproximação de educandos da Cultura Digital. Foram analisados marcos legais como a Lei de Diretrizes e Bases, o Plano Nacional de Educação e a Base Nacional Comum Curricular. Além disso, foi analisado o caso da implementação do programa “Imprensa Jovem” no município de São Paulo. Percebeu-se que é possível apropriar-se dos recursos audiovisuais nos processos de ensino e aprendizagem, de forma a aproximar ainda mais os alunos da Cultura Digital

Palavra chave: Audiovisual e educação; Cultura Digital; Educomunicação; Imprensa Jovem São Paulo.

1. Introdução

Entende-se que a linguagem audiovisual é bastante utilizada e potencializada no atual contexto da Cibercultura. Desta forma, este artigo buscou avaliar como o estímulo e o uso desta linguagem, produzida com tecnologia móvel, na maioria das vezes pelos próprios alunos, pode contribuir para o ensino e aprendizagem na educação básica pública, analisando as possibilidades de uso destes recursos como metodologias de aprendizagem, averiguando como essas práticas podem promover a aproximação de educandos da Cultura Digital. Tal artigo mostra-se importante por ampliar as discussões a respeito da utilização de propostas educomunicativas, através dos usos de recursos audiovisuais, como forma de auxiliar outras redes públicas municipais de educação a consolidar a Cultura Digital em suas escolas, a fim de atender o que é proposto nos recentes documentos legais, como a BNCC e a reforma do Ensino Médio, que preconizam competências e habilidades que envolvam os usos e reflexões das Tecnologias Digitais.

Foi elaborada uma análise dos marcos legais como a Lei de Diretrizes e Bases, o Plano Nacional de Educação e a Base Nacional Comum Curricular. Após, foi analisado o caso da implementação do programa “Imprensa Jovem” no município de São Paulo. Foram discutidos artigos nos idiomas inglês e português, sendo utilizados como critério de inclusão para seleção dos artigos: estudos que versavam sobre “Produção Audiovisual e Educação”, “Uso de filmes na educação”, e “Dispositivos Móveis e Educação”. Após a discussão bibliográfica, foi analisado o caso da implementação do programa “Imprensa Jovem” no município de São Paulo, existente há 14 anos, que promove, segundo a secretaria Municipal de Educação de São Paulo, o protagonismo juvenil e estudantil e a ampliação dos canais de comunicação entre a escola e a comunidade.

Foi possível perceber, que, apesar de limitações tecnológicas e estruturais, é possível apropriarse dos recursos audiovisuais nos processos de ensino e aprendizagem, de forma a aproximar ainda mais os alunos da Cultura Digital, refletir sobre o consumo de imagens cada vez mais acessível e pensar em propostas de ensino que se tornem mais efetivas junto aos estudantes. Tais ações são balizadas nos conceitos de comunicação interpessoal; tecnologias educacionais e protagonismo estudantil, que validam o campo da Educomunicação.

2. Cultura Digital, Educação e Audiovisual

Com o advento da Cultura Digital, e especialmente das tecnologias móveis, ubíquas e sem fio, passamos de receptores passivos de informação audiovisual para criadores ativos. Mais que isso: não só nós, enquanto indivíduos possuímos espaço no Ciberespaço, mas também as instituições, como bem exortam Lemos, Rigitano e Costa (2007). Apesar disso, os autores destacam algo que é perceptível, especialmente nas instituições escolares (especificamente públicas): a Cultura Digital não é democratizada e, em muitos casos, é excludente. Para que a inclusão ocorra é necessário, além de recursos tecnológicos, “a apropriação criativa, a capacidade educacional e o estímulo à produção de conteúdo inovador” Lemos, Rigitano e Costa (2007, p. 17).

Teoricamente, a ideia de utilização de linguagens digitais é defendida pelas políticas públlicas educacionais nacionais. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, LDB 9394/96 indicava, já nos anos 90, que é preciso pensar a educação não como instrumento de transmissão de conhecimento, mas como instrumento de formação de cidadãos críticos e atuantes com o meio em que estão inseridos. Desta forma, ele estaria inserido em seu contexto cultural, e, se o contexto cultural contemporâneo é digital, a escola tem função social de inseri-lo nele.

Pensando em obrigações do Estado (nas instâncias da União), o Plano Nacional de Educação, aprovado para o decênio 2014-2024 aponta uma série de indicadores relacionados ao incremento e acesso a tecnologia digital na Educação Básica. Entre eles, o documento aponta que espaços para consumo, produção e disseminação de material das mais diversas linguagens devem ser implementados nas escolas, afirmando que é papel do Estado

6.3) institucionalizar e manter, em regime de colaboração, programa nacional de ampliação e reestruturação das escolas públicas, por meio da instalação de quadras poliesportivas, laboratórios, inclusive de informática, espaços para atividades culturais, bibliotecas, auditórios, cozinhas, refeitórios, banheiros e outros equipamentos, bem como da produção de material didático e da formação de recursos humanos para a educação em tempo integral (BRASIL, 2014, p. 26).

Como competências que os educandos devem desenvolver ao final do ciclo fundamental de aprendizagem explicitados na Base Nacional Comum Curricular – BNCC para o ensino fundamental aprovada em 2018, podemos aferir que duas estão diretamente relacionadas com a Cultura Digital e que o audiovisual pode ser pensado a partir delas: as competências 4 e 5. Elas apontam que a escola deve preparar o educando para

Utilizar diferentes linguagens para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.
Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais. (BRASIL, 2018, sem numeração)

Desta forma, é perceptível que se faz urgente pensar na aplicabilidade dessas propostas, de forma ampla e concreta, não mercantilista e instrumental, seja como responsabilidade do Estado, como diretrizes para os educadores ou como apreensão de competências necessárias aos educandos. Os documentos legais contemplam, de forma clara, os eixos da formação, infra-estrutura, visão a respeito da Cultura Digital (de educandos e da comunidade escolar) e formação de profissionais de educação.

3. A Educação Pelo Audiovisual: O Caso Imprensa Jovem

Para ilustrar que isso não se aplica apenas no campo teórico e das indicações normativas e legais, analisou-se aqui o caso prático de utilização desse recurso: a implementação do projeto “Imprensa Jovem”, desenvolvido pela prefeitura Municipal de São Paulo há 13 anos. O programa preconiza a criação de agências de comunicação infanto-juvenis nas escolas municipais de São Paulo, que utilizam não só a linguagem audiovisual, mas os canais digitais e de rádio para realizar a cobertura de atividades desenvolvidas por/para as escolas, integrando conteúdo escolar com informações dos territórios e da comunidade.

A adesão das escolas se deu por interesse e criação de projetos. Os resultados podem ser vistos na manutenção do projeto, no engajamento cada vez maior de Unidades de Ensino Municipais e nas recentes premiações que o projeto recebeu. Da criação do Projeto Imprensa Jovem, em 2005, até o ano de 2016, 200 agências de notícias Imprensa Jovem foram implementadas e dois prêmios nacionais foram conquistados pelo programa.

No início de 2019, o Imprensa Jovem foi selecionado pelo Desafio Aprendizagem Criativa Brasil, iniciativa organizada pela Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa com apoio da Fundação Lemann e do MIT Media Lab, para participar do programa de mentoria que inclui apoio financeiro e visitas ao laboratório da Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos.

4. Considerações finais

O caso do Imprensa Jovem, em São Paulo, aponta possíveis direções para a utilização dos recursos audiovisuais em Educação Básica. O projeto, implementado através de aportes legais, manteve-se presente na rede pública da cidade de São Paulo de 2005 até os dias de hoje, proporcionando integração entre alunos e comunidade com a Cultura Digital e desenvolvendo competências básicas de interação e socialização de conteúdos. Também é possível ver suas potencialidades quando tomamos conhecimento de outros projetos municipais que se utilizam do audiovisual como proposta de ação pedagógica, como o projeto Educa 7 Minutos, no município de Lauro de Freitas, que acontece há 5 anos com alunos da rede municipal de educação daquele município. Apesar de não ser foco desse artigo, a proposta também foi observada e pretende-se ampliar as discussões a respeito da temática em outras publicações vindouras.

Percebe-se que, mais do que fatores contrários, vivemos um momento bastante favorável para propor essa discussão em nossas escolas de Educação Básica. Marcos legais apontam a necessidade desta discussão, os gestores e professores entendem – em sua maioria – a sua necessidade, mas, especialmente os educandos se identificam com a utilização dos recursos digitais e audiovisuais. Dessa forma, é visível que a consolidação de tais práticas só se dará quando as redes municipais balizarem suas ações num tripé que envolve o investimento em infra-estrutura; a formação e o engajamento dos profissionais de educação e a implementação de mecanismos legais que garantam sustentabilidade e permanência das ações.

Referências

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