CARACTERIZAÇÃO HIDROQUÍMICA E QUALIDADE AMBIENTAL DA MICROBACIA DO RIO SÃO PAULO, BAHIA¶
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Antonio Bomfim da Silva Ramos Junior12
Rodrigo Alves Santos1
Manoel Jerônimo Moreira Cruz1
Manuel Vitor Portugal Gonçalves1
Flavio Souza Batista1
Hélio Guedes de Carvalho2
Resumo¶
A investigação hidroquímica na microbacia do rio São Paulo, localizada no munícipio de Candeias-BA, objetivou compreender o comportamento sazonal de parâmetros ambientais e metais-traço. Foram realizadas duas campanhas amostrais com mensuração dos parâmetros físico-químicos e coleta de água, em quinze pontos, de forma estratificada (superfície e fundo) e considerando a sazonalidade. Os resultados obtidos demonstraram que todos os metais diferiram significativamente entre os períodos sazonais, tendo sua disponibilidade tendenciada pelos processos hidrodinâmicos e climatológicos. Dos parâmetros ambientais, apenas o potencial Hidrogênionico, o oxigênio dissolvido, a salinidade e a turbidez, não apresentaram distinção no comportamento sazonal. As condições sanitárias e a qualidade da microbacia são reduzidas no período chuvoso, com contribuição direta de cada setor e representatividade das fontes antropogênicas generalizadas. Entretanto, esses processos antropogênicos confere à microbacia um acentuado grau de comprometimento ambiental, contribuindo diretamente para a contaminação da Baía de Todos os Santos.
Palavras-chave: Sazonalidade; Metais traços; Parâmetros Ambientais.
1. Introdução¶
Tundisi et al. (2008) ressaltam que o conhecimento da qualidade das águas dos rios e o uso e ocupação de suas bacias hidrográficas é necessária inclusive para traçar estratégias de planejamento e gestão, projetando cenários futuros, como o aumento da demanda de água, mudanças nos mosaicos de paisagem decorrente do desenvolvimento da região e até mesmo as possíveis consequências das mudanças climáticas globais.
Nesse sentido, objetivou-se realizar a caracterização hidroquímica sazonal da microbacia do rio São Paulo, buscando qualificar os setores da mesma, além de identificar as potenciais fontes de contaminação, tendo em vista a necessidade da conservação dos recursos hídricos.
2. Materiais e Métodos¶
A microbacia do rio São Paulo (Figura 1) composta pelo estuário do rio São Paulo, a represa Coréia e o rio São Paulinho, na qual definimos em setores A, B e C, respectivamente, está localizada no município de Candeias, que integra a região metropolitana de Salvador, Recôncavo baiano, porção Norte-Nordeste da Baía de Todos os Santos (BTS).
Figura 1: Mapa de localização e situação da microbacia do rio São Paulo, com disposição dos quinze pontos amostrais, adaptado de IBGE/SEI (2008).
Foram realizadas duas campanhas amostrais com mensuração dos parâmetros físico-químicos de forma estratificada (superfície e fundo) nos quinze pontos previamente definidos e georreferenciados com auxílio de GPS (Global Positioning System), ao longo da microbacia do Rio São Paulo-BA, englobando diferentes condições meteorológicas (período chuvoso e período de estiagem) anteriormente caracterizadas.
Houve mensuração in situ dos parâmetros físico-químicos; Temperatura (°C), potencial de Hidrogênio (pH), Potencial de Oxi-Redução (ORP), Condutividade (mS/cm), Turbidez (NTU), Oxigênio Dissolvido (mg/L), Sólidos Totais Dissolvidos (mg/L), Salinidade e Densidade (ps), com auxílio de sonda multiparâmetro (Horiba, U-50), levando em consideração uma mesma condição oceanográfica (maré de quadratura de enchente a preamar). Salienta-se que nos pontos mensurados foram realizadas coletas de água, para análise dos metais; Cádmio (Cd), Zinco (Zn), Cromo (Cr), Cobre (Cu), Chumbo (Pb), Níquel (Ni) e Alumínio (Al) e do composto Nitrato (NO3-), utilizando-se de uma garrafa de Niskin.
E para determinação dos metais, as amostras foram submetidas ao processo de pré-concentração e extração da matriz salina, conforme método adaptado de Zhu (2005).
3. Resultados e discussões¶
A aplicação do teste de Shapiro-Wilk (Petternelli & Mello, 2012), sugeriu que a maioria dos parâmetros hidroquímicos apresentaram distribuição não paramétrica (p < 0,05), cujas medianas não diferem significativamente entre os estratos (superfície e fundo), demonstrando haver homogeneidade da coluna d`agua, propiciada pelas baixas profundidades, ao longo de todo bacia, e pelo processo de mistura ocorrente na zona estuarina. Dessa forma, as caracterizações hidroquímicas seguintes, foram determinadas através das análises entre os diferentes períodos sazonais.
As análises dos dados estão sumarizadas na tabela 01. Onde apenas os parâmetros salinidade (SAL), pH, oxigênio dissolvido (OD) e turbidez aceitaram a hipótese nula, para o teste de Mann-Whitney (com p > 0,05), corroborando não haver diferenças significativas entre os períodos sazonais.
Tabela 1: Sumário estatístico dos parâmetros; Temperatura, potencial Hidrogeniônico, Potencial de Oxi-Redução, Turbidez, Oxigênio Dissolvido, Salinidade, Chumbo, Zinco, Cromo, Cobre, Alumínio, Níquel, Cádmio e Nitrato, com valores mínimos, máximos, medianos, médios, coeficiente de variação e normalidade, nos dois períodos sazonais. Além de teste de comparação, e valores de referência de qualidade do CONAMA 357/05, classe 2.
Fonte: Elaboração dos autores.
Todos os metais, quanto ao seu comportamento sazonal, apresentaram diferenças significativas (p \< 0,05). No período de estiagem, as concentrações, em ordem decrescente, foram: Cd > Cu > Al > Pb > Zn > Cr > Ni, quanto que no período chuvoso, as concentrações, em ordem decrescente, foram: Al > Zn > Cu > Pb. Cabe ressalvar que os elementos Cr, Ni e Cd apresentaram ao longo da microbacia, concentrações abaixo do Limite de Detecção do Método (LDM= 0,001), no período chuvoso.
Esse comportamento sazonal, deve-se as características pontuais dos setores da microbacia, atrelado aos diversos processos que controlam a disponibilidade de metais na fração dissolvida, sobretudo às variações imposta pela dinâmica da maré e as perturbações da forçante pluviométrica.
Dos metais analisados, apenas Cd, Cu, Pb e Al apresentaram concentrações acima do limite estabelecido pela Resolução 357/05 do CONAMA. Por fim, as concentrações de NO3- diferiram significativamente, entre os períodos sazonais, e apesar do setor C apresentar as maiores concentrações, toda a microbacia está em desacordo aos limites referenciados pela legislação vigente (Tabela 1). Essa contaminação foi potencializada no período chuvoso, e possibilitou indicar as potenciais fontes desse contaminante que reduzem os padrões de qualidade da microbacia do rio São Paulo.
4. Considerações finais¶
As águas da microbacia podem ser classificadas como, doce, salobra ou salina, de acordo à salinidade de cada setor, sendo um fator importante na delimitação de seu uso preponderante.
Todos os metais investigados foram quantificados e diferiram significativamente entre os períodos sazonais, tendo sua disponibilidade tendenciada pelos processos hidrodinâmicos e climatológicos.
Os parâmetros ambientais; potencial Hidrogênionico, oxigênio dissolvido, salinidade e turbidez, apresentaram concentrações ou valores espacialmente distintos entre os setores, porém sazonalmente não diferiram. A temperatura e o potencial de Oxi-reducão que constituiu-se de um parâmetro importante na caracterização hidroquímica e no comportamento multivariado, sazonalmente, foram diferentes.
A contaminação por Nitrato reflete a falta de saneamento das áreas de influência à microbacia, quanto que a contaminação por metais tem contribuição atribuída, principalmente aos processos industriais.
A partir dessa investigação, é possível afirmar que os processos antropogênicos confere à microbacia um acentuado grau de comprometimento ambiental, atenuado pelos processos naturais. E apesar do setor A se mostrar resiliente, a microbacia possui contribuição na contaminação da porção Norte-Nordeste da BTS. Mediante ao exposto, recomenda-se o monitoramento periódico da microbacia para subsidiar o estabelecimento de estratégias de planejamento e gestão dos recursos hídricos, principalmente com relação a biota, ou seja, os peixes, os mariscos e os crustáceos principal fonte de renda das marisqueiras e pescadores da região da microbacia do rio São Paulo.
Referências Bibliográficas¶
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 357, de 17 de março de 2005. Disponível em \< http:www.mma.gov.br/port/conama/res05/res35705.pdf.> Acesso em: 06 abr. 2017.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2008. SEI. Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia. Cartas Plani-Altimétricas do Estado da Bahia. Escala 1:100.000.
Peternelli, L.A. \& Mello, M.P. 2012. Conhecendo o R: uma visão estatística. Série Didática. Viçosa-MG: Editora UFV, 220p.
TUNDISI, J.G.; MATSUMURA-TUNDISI, T.; PARESCHI, D. C. (2008) A bacia hidrográfica do Tiete-Jacaré: estudo de caso em pesquisa e gerenciamento. Estudos Avançados, v. 22, n. 63, p. 159 -- 172.
ZHU Y.; ITOH A.; E HARAGUCHI H. (2005) Multielement Determination of Trace Metals in Seawater by ICP-MS Using a Chelating Resin-Packed Minicolumn for Preconcentration. Bull. Chem. Soc. Jpn., v. 78, p. 107--115.
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Pesquisador do Grupo de Pesquisa Geoquímica das Interfaces, Universidade Federal da Bahia. bomfilhojr@yahoo.com.br. Grupo de Pesquisa Geoquímica das Interfaces, Pós-Graduação em Geologia, Universidade Federal da Bahia. E-mail: jc9508@gmail.com. ↩↩↩↩↩
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Grupo de Pesquisa Ecosimpa,Universidade Federal do Recôncavoda Bahia. ↩↩