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CARACTERIZAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO MANGUEZAL DE ACUPE, BAHIA

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Thaís Arrais Mota1

Ludiana Sepúlveda do Sacramento2

Norma Suely Evangelista-Barreto3

Sérgio Schwarz da Rocha4

Resumo

A presença e acumulação de lixo nos manguezais é um problema com impacto ambiental e socioeconômico. Este estudo se propôs a quantificar e caracterizar os resíduos sólidos encontrados no manguezal de Acupe. Foram realizadas coletas mensais durante nove meses. Foram utilizados cinco quadrados amostrais (5x5m) e os resíduos encontrados em cada quadrado foram coletados e posteriormente lavados, secos, pesados e classificados (quanto a composição e provável origem). Foram coletados 102 itens, sendo encontrados resíduos em todos os meses de coleta, variando de 1 a 24 itens. A densidade média de resíduos na área foi de 0,091 g/m². Quanto a composição, o tipo de resíduo mais abundante foi o plástico, seguido de isopor, orgânico (casca de coco), metal, borracha e tecido. No que se refere a provável origem dos resíduos a classe que apresentou maior quantidade de itens foi a mista, sendo as garrafas PET o item mais abundante.

Palavras-chave: Manguezais; Lixo; Plástico.

1. Introdução

O manguezal é um ecossitema costeiro de transição entre os ambientes terrestre e marinho, é considerado um dos mais produtivos ecossistemas do planeta e desempenha diversas funções ecológicas. Além disso, o manguezal também abriga diversas espécies de peixes, moluscos e crusáceos de interesse comercial. Em alguns estados do Brasil, contribuem com cerca de 50\% da produção da pesca artesanal (FABIANCIC e TREBUCQ, 2018).

De acordo com o Código Florestal Brasileiro (Lei nº 12.651/2012), os manguezais são considerados Áreas de Preservação Permanente (APPs). No entanto, apesar da importância deste ecossitema e do estabelecimeno de leis visando sua proteção, os manguezais têm sofrido diversos impactos, como sobrepesca, desmatamento, lançamento de efluentes não tratados e acúmulo de lixo (FERREIRA e LACERDA, 2016).

A acumulação de resíduos nos manguezais ainda é um problema ignorado, havendo poucas pesquisas realizadas com este enfoque (BELARMINO et al., 2014). Além do impacto ambiental, a presença de lixo nos manguezais causa prejuízo econômico. Estudos indicam que o aumento da quantidade de resíduos de origem antrópica nos manguezais está diretamente associado a menor quantidade de galerias do caranguejo Ucides cordatus (DUARTE et al., 2016), que além de ser considerada espécie chave deste ecosssitema é atualmente o segundo caranguejo mais consumido no Brasil (PINHEIRO et al., 2016).

O distrito de Acupe está localizado na costa Oeste da Baía de Todos os Santos, possui extensa área de manguezal que se constitui como fornecedor de bens e serviços para a comunidade local. É considerada uma das comunidades pesqueiras mais importantes do Recôncavo da Bahia. Assim, o presente estudo teve como objetivos quantificar e caracterizar os resíduos sólidos presentes no manguezal do distrito de Acupe.

2. Material e Métodos

O estudo foi realizado no manguezal do distrito de Acupe (12°39'14,0" S 38°44'44,0" O), pertencente ao município de Santo Amaro-BA (Figura 1).

Figura 1: Localização do município de Santo Amaro, Bahia. Ponto vermelho em destaque indica local de estudo.



As coletas foram realizadas mensalmente durante nove meses, no período de dezembro de 2018 à agosto de 2019. Durante a maré baixa de sizígia uma trena de 50 metros foi estendida perpendicularmente à margem, partindo da franja em direção ao interior do manguezal. Foram montados quadrados amostrais (5x5m) com o auxílio de trena métrica e utilizadas cinco replicas, totalizando uma área de 125 m². Para tanto, dois quadrados foram posicionados entre 0-10 m, um quadrado entre 25-30m e outros dois entre 45-50m.

Em cada quadrado amostral todos os resíduos sólidos encontrados foram coletados e armazenados em sacos previamente identificados. Em laboratório, os resíduos foram lavados, secos em estufa de ventilação forçada (50°C durante 72h), pesados e classificados quanto a composição (plástico, isopor, tecido, borracha, orgânico e metal) e identificados quanto a possível origem (usuários locais, doméstica, mista e apetrechos de pesca) de acordo com Belarmino et al. (2014).

3. Resultados e Discussão

O volume de resíduos variou de 42,18g no mês de janeiro de 2019 a 986,29g no mês de julho de 2019 (Figura 2).

Figura 2: Volume (g) de resíduos sólidos coletados no manguezal de Acupe.



Não houve nenhum mês com ausência de lixo. A quantidade de itens coletados em cada mês variou de 1 a 24. A densidade média de resíduos na área foi de 0,091g/m² (Tabela 1).

Tabela 1: Densidade (g/m²) de resíduos sólidos encontrados no manguezal de Acupe, Bahia.



A densidade de resíduos observada neste estudo foi maior do que a densidade observada no estudo realizado por Duarte et al. (2016) para áreas preservadas, embora a densidade tenha sido menor do que o observado nas áreas consideradas muito impactadas, com área amostral de 100 m² .

A abundância dos resíduos foi de 102 itens sendo (89 plástico, 5 isopor, 3 orgânico, 2 borracha, 2 metal e 1 tecido). No estudo realizado por Duarte et al. (2016) nos manguezais da cidade de São Paulo, a maior quantidade dos resíduos encontrados foram itens plásticos totalizando 325 itens dos 375 itens coletados. Vieira et al. (2012) obtiveram resultado semelhante no estudo realizado nos manguezais de Santa Catarina. Foi possível identificar a possível origem de todos os 102 itens coletados. A classe mista apresentou maior quantidade de resíduos, sendo o resíduo mais comuns garrafas PET (39 itens) (Figura 3).

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Figura 3: Quantidade de resíduos sólidos encontrados no manguezal de Acupe para cada provavel origem.



No estudo realizado por Belarmino et al. (2014) os autores também encontraram maior quantidade de itens na classe mista, sendo os principais itens as sacolas plásticas, copos descartáveis e garrafas PET. A abundância de resíduos plásticos pode ser explicada devido a proximidade de área urbana, uma vez que a população faz uso de muitos itens plásticos, a escassez e/ou ineficiência de reciclagem e baixa degradabilidade do material.

4. Considerações Finais

Embora a quantidade de resíduos encontrados seja relativamente baixa nota-se a renovação dos resíduos presentes na área a cada mês, o que indica o constante lançamento de lixo na área. Considerando que este problema afeta diversos manguezais do Brasil, faz-se necessário uma melhor destinação e tratamento dos resíduos em áreas costeiras, também maior conscientização da comunidade sobre a responsabilidade com a geração de resíduos.

Agradecimentos

Ao CNPq pelo financiamento da pesquisa, a CAPES por disponibilizar a bolsa de estudos e a UFRB pelo apoio técnico.

Referências bibliográficas

BELARMINO, P.H.P.; SILVA, S.M.; RUFENER, M.C; ARAÚJO, M.C.B. Resíduos sólidos em manguezal no rio Potengi (Natal, RN, Brasil): relação com a localização e usos. Gestão Costeira Integrada, 14, (3): 447-457 p. 2014.

DUARTE, L.F.A.; SOUZA, C.A.; NOBRE, C.R.; PEREIRA, C.D.; PINHEIRO, M.A.A. Multi-level biological responses in Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Brachyura, Ucididae), as indicators of conservation status in mangrove areas from the Western Atlantic. Ecotoxicology and Environmental Safety, (133): 176-187 p. 2016.

FABIANCIC, N.; TREBUCQ, D. 2018. In: ICMBio. Atlas dos Manguezais do Brasil. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Brasília

FERREIRA, A.C.; LACERDA, L.D. Degradation and conservation of Brazilian mangroves, status and perspectives. Ocean e Coastal Management. 125, 38-46P. 2016.

PINHEIRO, M.A.A.; SANTOS, L.C.M.; SOUZA, C.A.; JOÃO, M.C.A.; NETO, J.D.; IVO, C.T.C. 2016. Avaliação do caranguejo-uçá (Ucides cordatus) (Linnaeus, 1763) (Decapoda: Ucididae). p. 441-456. In:

PINHEIRO, M.A.A.; BOOS, H., eds. Livro vermelho dos crustáceos do Brasil. Avaliação 2010-2014. Sociedade Brasileira de Carcinologia, Porto Alegre.

VIEIRA, B.P.; NAKAMURA, E,M.; DIAS, D.; HANAZAQUI, N. Pesquisa e extensão na conservação de manguezais da ilha de Santa Catarina. Extensio. 12, 14-24 p. 2012.


  1. Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - thai_motta@hotmail.com

  2. Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - sepulvedaludiana@gmmail.com

  3. Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - nsevangelista@ufrb.edu.br

  4. Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - ssrocha@ufrb.edu.br